Em 2020, o desmatamento na Amazônia atingiu novo recorde, de acordo com o monitoramento feito pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Foram mais de oito mil quilômetros quadrados de área verde perdidos, o que inclui não só a vegetação em si, mas toda a biodiversidade de fauna e flora que essa extensão acolhia. Foi o maior registro dos últimos 10 anos, sendo ainda 30% maior que o de 2019.

O Brasil abriga 60% da floresta amazônica, a maior floresta tropical do mundo. O restante está espalhado por Peru, Bolívia, Colômbia,Venezuela, Equador, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. O gigantismo da floresta dificulta o combate ao desmatamento ilegal, que cresce a cada ano, como mostram os registros do Imazon.

Os monitoramentos da área feitos por satélites, por instituições como Imazon, Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e até mesmo pela Nasa (Agência Espacial Norte Americana) conseguem registros precisos, mas a análise dessas informações, feita por técnicos de forma manual, acaba sendo um processo bastante lento. O que eles procuram nas imagens são, principalmente, estradas ilegais abertas na floresta. É o principal indício de que por ali há – ou haverá – uma área desmatada. Carlos Souza, coordenador de monitoramento da Amazônia e pesquisador associado do Imazon, define essas estradas como “artérias da destruição”, e explica que 95% do desmatamento acumulado se concentra em um raio de cinco quilômetros de todas as estradas registradas.

Com o mapeamento manual, pode-se demorar até um ano para identificar os indícios de risco – o que pode fazer com que seja tarde demais. “Da forma manual, estávamos sempre olhando para o passado”, diz Carlos, explicando que isso possibilitava, no máximo, uma ação de punição. Mas toda a riqueza daquele pedaço de floresta já havia sido perdida. “Historicamente, a gente monitora o desmatamento usando satélites. Dá para ver estradas, desmatamento, corte seletivo de madeira, garimpos. Mas, quando a gente detecta, já aconteceu. Já perdemos parte do patrimônio. Perdeu biodiversidade, emitiu carbono e degradou ecossistema”, lamenta o pesquisador.

Agora, com uma parceria com a Microsoft e o Fundo Vale, o trabalho de formiguinha feito pelos pesquisadores está sendo ensinado para as máquinas. Com inteligência artificial, os dados ganham uma escala de processamento na dimensão que a floresta demanda. “Para a Amazônia inteira, precisamos do poder computacional”, destaca Lucia Rodrigues, líder de filantropia da Microsoft Brasil.

O que levava um ano poderá agora ser feito em um dia e, conforme o sistema for recebendo mais informações e ‘aprendendo’, o processo pode ser reduzido para algumas poucas horas. “É um ganho brutal de capacidade de gerar informação”, comemora Carlos. Além de identificar as estradas ilegais, a ideia é que a IA também faça a predição de áreas ameaçadas, considerando outras variáveis além das estradas ilegais. “Com a IA, vamos poder capturar de forma mais rápida as estradas, esses pontos de ignição de desmatamento, e obter variáveis preditoras mais robustas. É um modelo muito promissor. Preditar com esse big data exige inteligência artificial e escala computacional em nuvem”.

O início do projeto exigiu uma força-tarefa de mais de 20 instituições que atuam na região amazônica – como prefeituras, ONGs, pesquisadores, advogados, brigadas de incêndio e Ministério Público. Usando metodologia de design thinking, eles definiram os tipos de informações – ou inputs – importantes em relação ao combate ao desmatamento e como deverá ser criado o painel (dashboard) que, ao final do projeto, ficará disponível para a sociedade e exibirá os principais indicadores.

“Os dados podem ser cruzados de diversas maneiras, como sobre reserva indígena, áreas de proteção ambiental, frigoríficos na região, cadastro ambiental rural”, explica Lucia. “O objetivo é empoderar a sociedade como um todo, com informações relevantes em um trabalho de prevenção. Entender qual área está em risco e o que fazer para reduzir a probabilidade de ela realmente ser degradada”, completa a executiva. A Microsoft atua, além do treinamento da IA, no crédito em nuvem – o sistema azure –, uma vez que a tecnologia cloud será fundamental para a disponibilização online do painel. A Vale se concentra no apoio aos pesquisadores.

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