Degradação florestal causada pelas queimadas e pela extração de madeira cresceu quase cinco vezes em setembro
De janeiro a setembro, a área de floresta amazônica derrubada atingiu 9.069 km², o que corresponde a quase oito vezes a cidade do Rio de Janeiro. Foi a maior devastação em 15 anos, desde que o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) implantou seu Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) para a Amazônia Legal, em 2008.
Além disso, foi a quinta vez consecutiva em que a derrubada atingiu o pior patamar dos últimos 15 anos entre janeiro e setembro. Durante uma década, de 2008 a 2017, o desmate acumulado no período se manteve abaixo dos 3.500 km².
“Esses altos níveis de destruição não só ameaçam a biodiversidade e os povos e comunidades tradicionais, mas afetam também a vida de toda a população brasileira. A derrubada da floresta impacta no aumento das emissões dos gases do efeito estufa, que são os grandes responsáveis pela mudança climática e pelos eventos extremos”, explica a pesquisadora do Imazon Bianca Santos.
Além do desmatamento, que é a retirada total da vegetação, a degradação florestal causada pelas queimadas e pela extração de madeira aumentou 359% na Amazônia. A área afetada por esse dano ambiental passou de 1.137 km² em setembro de 2021 para 5.214 km² no mesmo mês deste ano. Ou seja: um crescimento de quase cinco vezes. Além disso, esse foi o sexto mês consecutivo em que a degradação aumentou.
“Grande parte das áreas degradadas na floresta amazônica em setembro estão relacionadas às queimadas, que oferecem risco à saúde pública. Diversos estudos as associam com o aumento dos problemas respiratórios e não só na população amazônica, pois a fumaça das queimadas pode chegar a outras regiões do país”, acrescenta Bianca.
Em setembro, apenas dois estados concentraram 96% da área degradada na Amazônia: Mato Grosso, com 3.865 km² afetados (74%), e Pará, com 1.127 km² (22%).
Desmate em setembro supera três vezes a área de Belo Horizonte
Já em relação ao desmatamento, apenas em setembro foram destruídos 1.126 km² de floresta na Amazônia, o que equivale a mais de três vezes o tamanho de Belo Horizonte. Esse foi o terceiro pior setembro em 15 anos, ficando atrás apenas de 2021 e 2020.
E quase metade dessa destruição ocorreu no Pará: 553 km² (49%). No estado, a destruição está avançando para o norte e se aproximando do maior bloco de áreas protegidas do mundo, o que representa uma grande ameaça à biodiversidade amazônica e aos povos e comunidades tradicionais da região. Outro problema do Pará é o avanço da destruição dentro de terras indígenas e unidades de conservação.
“Seis dos 10 territórios indígenas mais desmatados em setembro estão em solo paraense, inclusive o Apyterewa, que liderou o ranking. O local, que neste ano vem sofrendo mensalmente com o avanço das invasões, perdeu apenas no mês passado uma área equivalente a 1,8 mil campos de futebol. Já em relação às UCs, o Pará tem cinco das 10 mais destruídas, com destaque negativo para a APA do Lago de Tucuruí, a segunda colocada”, afirma Raissa Fernanda Ferreira, pesquisadora do Imazon.
O segundo estado que mais destruiu a Amazônia em setembro foi o Amazonas, com 193 km² (17%). Em solo amazonense, a destruição avança pelo Sul, onde há forte pressão de grileiros. Apenas dois municípios dessa região, Lábrea e Boca do Acre, somaram 38% do total desmatado no estado.
“As derrubadas no Amazonas têm se concentrado em áreas de florestas públicas não destinadas, aquelas que ainda não tiveram um uso definido, e em áreas protegidas, como terras indígenas. Territórios que muitas vezes são invadidos por grileiros com a expectativa de futuramente conquistar um título de propriedade e lucrar com a venda deles”, explica Raissa.
Em terceiro lugar ficou o Acre, onde foram derrubados 140 km² de floresta, 13% do registrado na Amazônia. No estado, 18% da área desmatada ocorreu apenas dentro da Resex Chico Mendes (26 km²), o que fez o território ser a unidade de conservação mais devastada na Amazônia no mês de setembro.
É importante ressaltar que, além do governo federal, os estados têm grande responsabilidade no combate ao desmatamento. Além da legislação permitir que os órgãos estaduais também autuem responsáveis por crimes ambientais em áreas federais, os governos dos estados podem cancelar os Cadastros Ambientais Rurais (CARs) sobrepostos a áreas protegidas tanto sob jurisdição própria quanto da União.