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Boletim Risco de Desmatamento (Agosto de 2010 a Julho de 2011)

Márcio Sales; Carlos Souza Jr. & Sanae Hayashi.

 

RESUMO

Essa é a primeira edição do Boletim de Risco de Desmatamento. Neste boletim semestral, apresentamos o risco de desmatamento em municípios, Áreas Protegidas, Assentamentos e áreas privadas, devolutas ou sob conflitos por posse, para o período de agosto de 2010 a julho de 2011 na Amazônia. Para isso, o Imazon desenvolveu um modelo de risco de desmatamento baseado em técnicas geoestatísticas que permitem estimar, de forma espacialmente explícita, o risco de desmatamento futuro com base na distribuição espacial do desmatamento passado e fatores que contribuem para a ocorrência do desmatamento, a seguir: proximidade de estradas e rios navegáveis, custo de transporte de madeira, topografia, elevação de terreno, declividade e unidades de conservação. O resultado do modelo é um mapa de probabilidade de desmatamento na Amazônia para células de 1 quilômetro quadrado.

Assumindo uma taxa de desmatamento anual de 7.500¹ quilômetros quadrados para o período modelado, o modelo apontou uma área de floresta de pelo menos 3.700 quilômetros quadrados sob risco de desmatamento, ou seja, áreas de florestas com probabilidade de desmatamento maior que zero (com 95% de confiança estatística).As análises deste Boletim apontaram que a maior parte das florestas sob risco de desmatamento concentra-se no Pará (67%) e Mato Grosso (13%). Áreas privadas, devolutas ou em conflitos por posse concentraram 59% dessas áreas, enquanto que outros 25% estão dentro de assentamentos de reforma agrária. As Unidades de Conservação e Terras Indígenas concentram 12% e 4% das áreas sob risco de desmatamento, respectivamente.

 

Nível de Risco de Desmatamento

O modelo de risco de desmatamento gera duas informações importantes. A primeira, é a área total de floresta sob risco de desmatamento, dada pela somatória das áreas de florestas (i.e., pixels de 1 quilômetro quadrado) apontadas pelo modelo com probabilidade de desmatamento maior que zero (com 95% de confiança estatística). A segunda informação é a intensidade do risco, a qual representa a razão da área sob risco pela área de floresta remanescente em uma dada região (municípios, assentamentos, Unidades de Conservação e Terras Indígenas). Dessa forma, florestas com intensidade de risco mais alta indicam áreas com taxa acelerada de conversão da floresta. Essas informações foram combinadas para classificar as áreas de florestas em quatro categorias de nível de risco de desmatamento: baixo, moderado, alto e crítico. O Quadro 1 apresenta os valores de área e de intensidade de risco de desmatamento, assim como as definições dos níveis de risco baseadas nessas duas informações.

Quadro 1. Categorias de nível de risco de desmatamento.

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[1] Adotamos uma taxa aproximadamente igual à taxa reportada pelo INPE para 2009, visto que os dados para 2010 ainda são preliminares.

 

Risco de Desmatamento

O modelo discriminou uma área de 3.700 quilômetros quadrados sob risco de desmatamento na Amazônia para o período de agosto de 2010 a julho de 2011. Isso representa 49% da área total desmatada no cenário assumido para esse período (ou seja, 7.500 quilômetros quadrados). Os demais 3.800 quilômetros quadrados foram excluídos de nossas análises, pois o modelo não discriminou essas áreas com probabilidade significativamente maior que zero (com 95% de confiança estatística). Deste total, a maioria concentrasse nos Estados do Pará e Mato Grosso, englobando 67% e 13% da área total sob risco, respectivamente (Figura 1). Nesses Estados também se concentram a maioria (88%) dos pixels com maior probabilidade de desmatamento (acima de 60%).

As áreas com maior probabilidade de desmatamento concentram-se principalmente ao longo da BR-163 (Rodovia Cuiabá- Santarém), BR-230 (Rodovia Transamazônica) e na região da Terra do Meio (PA). Outras regiões de concentração estão localizadas no sudeste do Acre, norte de Rondônia e noroeste do Mato Grosso (Figura 2).

Figura 1. Área total sob risco (em quilômetros quadrados) por Estado e faixa de probabilidade de desmatamento na Amazônia Legal entre agosto de 2010 e julho de 2011.

 

Figura 2. Distribuição espacial da probabilidade de desmatamento na Amazônia Legal no período de agosto de 2010 e julho de 2011.

 

Geografia do Risco de Desmatamento

Com relação à categoria fundiária, o risco de desmatamento foi maior em áreas privadas ou em algum estágio de ocupação, concentrando 59% da área total sob risco de desmatamento. Assentamentos de reforma agrária concentraram 25% da área total sob risco, as Unidades de Conservação federais e estaduais somaram cerca de 12% e as Terras indígenas 4%. A distribuição das áreas dentro de cada categoria de probabilidade de desmatamento é praticamente igual em todas as categorias de situação fundiária, com sensível destaque para as Unidades de Conservação Federais, cuja maior proporção de área sob risco encontra-se em regiões com alta probabilidade de desmatamento (Figura 3).

Figura 3. Área total sob risco de desmatamento (em quilômetros quadrados) por categoria fundiária e faixa de probabilidade de desmatamento.

 

Risco de Desmatamento por Município

Os municípios Novo Progresso e Novo Repartimento são classificados com risco crítico de desmatamento, (área e intensidade do risco altos). Vários municípios foram classificados com risco alto, sendo que a maioria encontra-se no Estado do Pará (Figura 4). Os três municípios com maior área sob risco de desmatamento são São Félix do Xingú, Altamira e Novo Progresso, todos no Estado do Pará, acumulando 22.6% do total (Figura 5).

Figura 4. Nível de risco de desmatamento por município na Amazônia Legal, entre agosto de 2010 e julho de 2011.

 

Figura 5. Municípios com maior área sob risco de desmatamento na Amazônia Legal, entre agosto de 2010 e julho de 2011. O volume das esferas e as porcentagens representam a intensidade do risco de desmatamento.

 

Risco de Desmatamento em Assentamentos de Reforma Agrária

A área sob risco de desmatamento em Assentamentos de Reforma Agrária concentra 25% do total. A maior parte dos assentamentos com alto risco concentra-se no Estado do Pará (Figura 6). Os assentamentos com maior área sob risco são Jacaré-Açu, Cidapar e Campus de Pilar, concentrando 28% da área sob risco . Dentre os dez assentamentos com maior área sob risco, somente Jacaré-Açu foi classificado como crítico.

Figura 6. Nível de alerta de risco de desmatamento por assentamento na Amazônia Legal entre agosto de 2010 e julho de 2011.

 

 

Figura 7. Os assentamentos com maior área de floresta sob risco de desmatamento na Amazônia Legal, entre agosto de 2010 e julho de 2011. O volume das esferas e as porcentagens representam a intensidade do risco de desmatamento.

Risco de Desmatamento em Áreas Protegidas

As Terras Indígenas (TI) concentram 4% da área total sob risco de desmatamento na Amazônia Legal. Dentre as dez TIs com maior área sob risco, apenas três foram classificadas com risco alto: Alto Rio Guamá, Maraiwatsede e Saraua (Figura 8). Entretanto, essas dez TIs detêm mais de 70% do total das áreas sob risco em Terras Indígenas. Dentre as UCs a APA Triunfo do Xingú foi a única classificada com nível crítico de risco de desmatamento, representando sozinha 63% da área total sob risco em Unidades de Conservação Estaduais e uma intensidade de risco cerca de 18 vezes maior que a média das 9 demais incluídas no ranking (Figura 9).

Figura 8. Terras Indígenas com maior área de floresta sob risco de desmatamento na Amazônia Legal, entre agosto de 2010 e julho de 2011. O volume das esferas e as porcentagens representam a intensidade do risco de desmatamento.

 

Figura 9. Unidades de Conservação Estaduais (UCEs) com maior área de floresta sob risco de desmatamento na Amazônia Legal, entre agosto de 2010 e julho de 2011. O volume das esferas e as porcentagens representam a intensidade do risco de desmatamento.

 

Figura 10. Unidades de Conservação Federais (UCFs) com maior área de floresta sob risco de desmatamento na Amazônia Legal, entre agosto de 2010 a julho de 2011. O volume das esferas e as porcentagens representam a intensidade do risco de desmatamento.

 

Figura 11. Nível de alerta de risco de desmatamento por Terra Indígena na Amazônia Legal, entre agosto de 2010 e julho de 2011.

 

Figura 12. Nível de alerta de risco de desmatamento por Unidade de Conservação Federal na Amazônia Legal, entre agosto de 2010 e julho de 2011.

 

Figura 13. Nível de alerta de risco de desmatamento por Unidade de Conservação Estadual na Amazônia Legal, entre agosto de 2010 e julho de 2011.

 

Quadro I: Modelo de risco de desmatamento do ImazonO modelo de risco de desmatamento usa informações sobre a localização da ocorrência do desmatamento no passado para gerar estimativas da probabilidade de desmatamento no próximo período por pixel, dada uma taxa de desmatamento geral projetada¹. O modelo considera também o valor de variáveis relacionadas com o desmatamento, chamadas variáveis auxiliares, espacialmentedistribuídas, a fim de aumentar o poder de previsão espacial do modelo. As variáveis auxiliares incluídas na versão atual do modelo não exaurem todos os fatores determinantes do desmatamento, mas contém algumas das principais variáveis. São elas: distâncias para estradas e rios, topografia, distâncias para áreas protegidas e alcance econômico. O modelo é resumido pela seguinte equação:Onde pi(t,s) é a probabilidade de desmatamento no período t para um pixel localizado na coordenada dada por s. O fator pi(t,.)representa a taxa de desmatamento projetada para o período t; é ovalor da função das variáveis auxiliares x para cada local e tempo passado (s,t).

Finalmente o termo  representa os pesos dos pixels observados no passado para a probabilidade de desmatamento futuro em cada pixel.Todos os componentes possuem parâmetros que são ajustados usando-se os dados disponíveis. Atualmente apenas a projeção de taxa pi(t,.) não éprojetada, mas assumida ser igual ao do último período observado. Para o lançamento do boletim aplicamos o modelo aos dados anuais do PRODES. Nas próximas edições o boletim trará estimativas trimestrais, baseado nos dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon.

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[1] Sales, M. H. & Souza Jr., C. M. (em preparação). Geostatistical Modeling of Deforestation Risk in the Brazilian Amazon.

This post was published on 29 de março de 2015

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