Após meses de cuidados, os animais tiveram seu primeiro contato com as águas da área protegida

Coletar os ovos, levá-los para as incubadoras, aguardar o nascimento dos filhotes, transferi-los para tanques com água e alimentá-los. Esse trabalho delicado, que precede a soltura das tartarugas amazônicas, é realizado com muito carinho pelas moradoras e moradores das comunidades de Monte Sião e do Português, localizadas na Floresta Estadual (Flota) de Faro, uma unidade de conservação que abrange parte dos territórios dos municípios de Faro e Oriximiná, no oeste do Pará.
Após o processo, que durou cerca de três meses, os comunitários devolveram à natureza mais de mil quelônios das espécies tracajá, calalumã, acassu e tartaruga-da-amazônia, durante dois eventos realizados em março.
A iniciativa conta com o apoio do Ideflor-Bio, responsável pela gestão da Flota, da Escola Municipal Francisco de Canindé, localizada no Português, e de organizações do terceiro setor, como o Imazon, que forneceu insumos para as duas comunidades no início do projeto, incluindo telas de zinco, caixas d’água e combustível para a coleta dos ovos.
Irenilson Araújo, coordenador da atividade em Monte Sião, explica que a ação é essencial para a preservação das espécies, que estavam diminuindo sua população na região. Ele destaca que o zelo no processo de aguardar a eclosão dos ovos — como é chamado o nascimento das tartarugas —, transportá-las para os tanques de água e esperar dois meses até que atinjam o tamanho ideal para a serem soltas no rio Nhamundá é fundamental para garantir que esses animais continuem a povoar a Flota.
“Eles passam esse tempo nos tanques para ficarem mais resistentes. Porque quando eles saem dos ovos são muito novinhos e é muito arriscado, os predadores como o tucunaré, a piranha e a traíra podem comer eles”, comenta Irenilson.
Monte Sião realiza ação pelo segundo ano

Em Monte Sião, onde Irenilson reside, a atividade ocorreu pelo segundo ano consecutivo e integrou os moradores no dia 8 de março. O evento contou com a distribuição de camisetas, lanche coletivo, brincadeiras para as crianças e, a parte mais aguardada, a soltura de 510 animais, realizada por pessoas de todas as idades.
O número de quelônios este ano já superou o do ano passado, quando foram entregues 360 filhotes ao seu habitat natural. Além disso, todo o processo — desde a construção da incubadora até o momento em que os filhotes se encontram com a natureza amazônica — foi conduzido pelos comunitários, que atuam de forma voluntária.
O projeto contribui para a preservação das espécies e também representa uma oportunidade de educação ambiental para os visitantes e habitantes da Flota de Faro, os quais convivem com uma grande diversidade de fauna e flora, que precisa ser cuidada e preservada.
“Como coordenador dessa ação é muito satisfatório trazer para dentro da nossa comunidade mais conhecimento e mais parceiros que vêm conhecer a ação que a gente faz”, afirma Irenilson.
No Português, iniciativa é realizada com apoio de escola municipal

Já no Português, comunidade vizinha, a iniciativa ocorreu pela primeira vez no dia 29 de março e foi fruto de uma parceria com a Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental São Francisco de Canindé, que atende alunos da educação infantil ao 9º ano do ensino fundamental.
Meses atrás, a incubadora que recebe os ovos foi instalada na área da horta escolar, e todas as fases da jornada das tartarugas foram acompanhadas pelos estudantes, que tiveram a oportunidade de aprender, na prática, sobre as espécies e a importância de protegê-las.
“Um dos objetivos é conscientizar, sensibilizar e promover a educação ambiental, unindo alunos e demais habitantes do Português. Nessa trajetória, reforçamos a importância da conservação das espécies por meio de atividades que incluíram o cuidado com os ovos, a coleta de alimentos para os filhotes e, por fim, a soltura”, explica o coordenador da escola, Josenildo Machado.
O primeiro ano da ação, que ocorreu no lago do Peixe Boi, teve a presença de funcionários do colégio, alunos e moradores locais, contou com um café repleto de alimentos regionais como momento de socialização, além da entrega de cerca de 500 tartarugas as águas do local.
“A união dos comunitários, da escola e dos parceiros é essencial para o futuro desse projeto tão bonito que já cresceu este ano. Ele contribui para a proteção da Flota de Faro, um lugar estratégico dentro da Amazônia, que desempenha funções essenciais para a vida humana, com serviços ecossistêmicos que incluem a captura de carbono e o abrigo de uma grande diversidade de animais, como os quelônios, que estão se multiplicando graças ao exercício voluntário dos comunitários”, reitera Jeferson Figueira, pesquisador da equipe de áreas protegidas do Imazon.