63% das empresas possuem controle sobre os fornecedores diretos, mas nenhum controle sobre fornecedores indiretos, mostra nova análise do Radar Verde
A partir de dezembro de 2025, deve começar a valer a nova regulamentação para importações da União Europeia, o Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que visa promover o consumo de produtos livres de desmatamento. Os frigoríficos brasileiros devem ficar atentos à novidade, que pode impactar significativamente as exportações brasileiras de carne bovina para os países do bloco, uma vez que nenhuma das empresas localizadas na Amazônia Legal demonstra conformidade plena com as especificações da EUDR. A conclusão é de nova análise do Radar Verde, que utilizou os resultados da pesquisa anual de 2023 para avaliar as políticas de desmatamento zero de quem, atualmente, exporta para a Europa.
Em 2022, as exportações de carne bovina brasileira para os países europeus alcançaram 85 mil toneladas e geraram para o Brasil cerca de US$ 661 milhões, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC). A nova regulamentação, ao entrar em vigor, deve afetar significativamente esse mercado, pois o desempenho de todos os frigoríficos que operam na Amazônia Legal é insuficiente para as exigências da EUDR, que exige rastreamento de origem dos fornecedores indiretos, o que nenhum frigorífico analisado pelo Radar Verde faz.
A análise revela diferentes situações das empresas de carne bovina: algumas estão começando a adotar políticas de desmatamento zero, enquanto outras estão atrasadas nesse aspecto. Concentradas no estado do Mato Grosso, 63% das empresas habilitadas a exportar para a UE possuem controle sobre os fornecedores diretos e 25% apresentaram controle intermediário da cadeia de fornecedores. A eficácia da política contra o desmatamento das demais empresas foi baixa ou muito baixa.
“Para atender às exigências da EUDR, é necessário que o Brasil integre o controle de origem para fins sanitários (SISBOV) com controles socioambientais rigorosos, abrangendo toda a cadeia de fornecimento, incluindo fornecedores indiretos”, recomendam os pesquisadores do estudo. “A UE pode influenciar práticas sustentáveis na cadeia de produção de carne bovina brasileira, colaborando com instituições financeiras e agências governamentais para criar incentivos para práticas produtivas e ambientais melhores”, complementam.
O trabalho, que pode ser conferido na íntegra aqui, traz diversas outras recomendações do que as empresas e o governo podem fazer para evitar que o Brasil perca esses importantes compradores. Os frigoríficos podem começar participando da edição 2024 da pesquisa, que já está em andamento. Todos eles já receberam um convite para participar do indicador e têm até o dia 22 de novembro para responder ao questionário, que compõe a nota junto com os dados públicos disponibilizados em seus canais oficiais.
O Radar Verde
Criado em 2022, o Radar Verde é um indicador público e independente de transparência e controle da cadeia de produção e comercialização de carne bovina no Brasil, que busca dar visibilidade às empresas compromissadas com a redução do desmatamento na Amazônia Legal. O indicador avalia iniciativas de frigoríficos e supermercados, em todas as etapas de sua cadeia de fornecedores, que indiquem o comprometimento com a garantia de que a carne bovina que compram e vendem não está relacionada ao desmatamento da Amazônia Legal. O índice classifica anualmente os frigoríficos e supermercados de acordo com o controle e transparência sobre sua cadeia da carne.
O objetivo do Radar Verde é oferecer informações relevantes aos financiadores e setor financeiro, responsáveis pela concessão de crédito a estas empresas; e aos consumidores de carne bovina, para que possam tomar decisões sobre o consumo livre de desmatamento no processo de produção. O Radar Verde é uma realização do Instituto O Mundo Que Queremos (IOMQQ) e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).