Plataforma indica as áreas sob ameaça de derrubada para ajudar a mantê-las em pé

Captura de tela 2024 12 16 080747 - PrevisIA: inteligência artificial aponta 6,5 mil km² com risco de desmatamento na Amazônia em 2025
Mapa mostra as áreas sob risco alto, muito alto, moderado, baixo e muito baixo de desmatamento conforme a PrevisIA para o calendário de 2025, que vai de agosto de 2024 a julho do ano seguinte.

Se as áreas sob maior risco de desmatamento na Amazônia não forem protegidas com urgência, a estimativa é que mais 6.531 km² sejam derrubados em 2025, o que seria 4% a mais do que o registrado neste ano. A previsão é da plataforma de inteligência artificial PrevisIA, do instituto de pesquisa Imazon, que tem indicado as áreas ameaçadas na região desde 2021 com uma assertividade média de 73% nesses últimos quatro anos.

A estimativa da ferramenta segue o chamado “calendário do desmatamento”, que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte, assim como os dados oficiais do governo federal. Conforme o Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram devastados 6.288 km² entre agosto de 2023 e julho de 2024, uma queda de 31% em relação a 2023.

Captura de tela 2024 12 16 080916 - PrevisIA: inteligência artificial aponta 6,5 mil km² com risco de desmatamento na Amazônia em 2025

Para 2024, a PrevisIA havia apontado 8.959 km² sob ameaça de desmatamento na Amazônia, sendo 5.207 km² sob risco muito alto, alto e moderado. Já na previsão da plataforma para o próximo ano, que aponta 6.531 km² sob ameaça de devastação entre agosto de 2024 e julho de 2025, 2.269 km² (35%) estão sob risco muito alto, alto ou moderado. Ou seja: essas seriam as áreas prioritárias para as ações de prevenção. Os outros 4.262 km² (65%) estão sob risco baixo ou muito baixo de desmatamento.

“Se atuarmos para proteger as áreas indicadas pela PrevisIA sob risco muito alto, alto ou moderado de desmatamento, poderemos reduzir ainda mais a derrubada da Amazônia em 2025 e avançar em direção à meta de desmatamento zero em 2030. Ação essencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa no Brasil e mitigar os efeitos das mudanças climáticas que já estão nos afetando seriamente, como as cheias no Rio Grande do Sul e as secas na Amazônia. Precisamos usar essa tecnologia a favor da floresta”, afirma o pesquisador do Imazon e coordenador da PrevisIA, Carlos Souza Jr.

Estado Classe de Risco (km²)
Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto Total %
Pará 448,30 978,69 764,98 94,87 0,09 2.286,92 35%
Amazonas 561,91 380,62 318,77 38,51 0,09 1.299,90 20%
Mato Grosso 308,78 505,59 242,45 57,25 0,79 1114,85 17%
Acre 63,38 222,57 363,19 34,54 683,68 10%
Rondônia 109,92 264,64 149,69 23,83 548,08 8%
Roraima 57,02 115,37 110,37 18,07 300,83 5%
Maranhão 50,42 100,91 43,29 4,61 199,24 3%
Amapá 41,04 19,28 2,59 62,91 1%
Tocantins 16,89 16,45 0,96 34,29 1%
Amazônia 1.657,65 2.604,13 1.996,28 271,68 0,97 6.530,70 100%

PA, AM e MT possuem as maiores áreas ameaçadas

Entre os estados, Pará (35%), Amazonas (20%) e Mato Grosso (17%) possuem as maiores áreas sob risco de desmatamento. Apenas os três concentram 72% de todo o território ameaçado na Amazônia, conforme a PrevisIA.

Já em relação à devastação registrada pelo Prodes em 2024, a plataforma de inteligência artificial apontou aumento nas áreas sob risco em cinco estados para o próximo ano: Amazonas, Acre, Rondônia, Amapá e Tocantins. Nos outros três, Pará, Mato Grosso e Roraima, as áreas previstas como ameaçadas para 2025 são menores do que as desmatadas neste ano.

Captura de tela 2024 12 16 081039 - PrevisIA: inteligência artificial aponta 6,5 mil km² com risco de desmatamento na Amazônia em 2025

“Além de poder ajudar na estratégia nacional de combate ao desmatamento, a PrevisIA também pode auxiliar os governos estaduais e municipais a protegerem suas florestas, já que oferece um mapa das áreas de risco inclusive com informações de estradas e de Cadastros Ambientais Rurais (CARs) sobrepostos”, completa Carlos.

Atualmente, a plataforma é usada pelos ministérios públicos de quatro estados da Amazônia Legal para basear estratégias de proteção da floresta: Pará, Amazonas, Mato Grosso e Acre. O Ministério Público do Pará, por exemplo, pretende liderar uma ação de conscientização para a prevenção do desmatamento a partir dos dados da PrevisIA. 

A ideia consiste em enviar aos órgãos de meio ambiente estaduais e municipais as informações das áreas classificadas na PrevisIA sob risco muito alto e alto de desmatamento que possuem Cadastro Ambiental Rural (CAR), para que esses órgãos tenham maior rigor nos procedimentos de licenciamento ambiental, nas operações de fiscalização e na própria análise desses CARs.

“Além disso, as informações também serão enviadas aos detentores desses CARs, para que adotem as medidas necessárias para evitar o desmatamento e, consequentemente, os processos de embargo e de responsabilização”, explica o pesquisador do Imazon Paulo Amaral, que lidera as ações da PrevisIA juntos aos ministérios públicos.

Terra Indígena Kayapó lidera ranking de risco

Entre as terras indígenas, a mais ameaçada pelo desmatamento em 2025 é a Kayapó, no Pará. Nesse território, uma área equivalente a 2,5 mil campos de futebol está sob risco de derrubada, segundo a PrevisIA.

Na previsão para 2024, a liderança desse ranking era da Terra Indígena Apyterewa, também localizada no Pará. Na estimativa de risco para 2025, depois de receber uma ação de desintrusão, o território caiu para o segundo lugar. Porém, ainda segue com risco alto de desmatamento, de uma área que também equivale a 2,5 mil campos de futebol. Em agosto deste ano, houveram relatos de novas investidas de invasores no território.

Já no caso das unidades de conservação, a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, outro território paraense, segue na liderança como a mais ameaçada pelo quarto ano consecutivo. Nesse território, o risco de desmatamento chegou a quase 10 mil campos de futebol para 2025, de acordo com a PrevisIA.

Dez Terras Indígenas com maior risco de desmatamento em 2025

Terra Indígena UF Classe de Risco (Km²)
Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto Total
Kayapó PA 9,24 13,12 3,07 25,43
Apyterewa PA 3,45 19,17 2,20 24,82
Parque do Xingu MT,PA 7,06 6,19 0,09 13,34
Alto Rio Negro AM 12,22 1,05 13,27
Cachoeira Seca PA 2,75 7,90 1,95 12,60
Yanomami RR,AM 10,98 1,57 0,04 12,59
Munduruku PA 5,70 4,91 0,21 10,83
Araribóia MA 2,23 6,35 1,22 9,80
Trincheira Bacajá PA 3,67 4,69 0,84 9,20
Vale do Javari AM 8,27 0,18 8,44

Dez Unidades de Conservação com maior risco de desmatamento em 2025

Unidade de Conservação UF Jurisdição Classe de Risco (Km²)
Muito baixo Baixo Médio Alto Muito alto Total
APA Triunfo Do Xingu PA Estadual 8,33 44,01 39,24 3,45 95,03
Resex Chico Mendes AC Federal 2,41 35,21 33,72 0,21 71,55
APA do Tapajós PA Federal 13,11 29,13 7,51 0,43 50,18
Esec Soldado da Borracha RO Estadual 0,13 3,84 20,06 4,49 28,51
Flona do Jamanxim PA Federal 6,57 10,65 3,94 0,46 21,62
APA do Arquipélago do Marajó PA Estadual 15,22 3,26 0,65 19,13
Reex Jaci-Paraná RO Estadual 0,47 7,73 7,21 0,25 15,67
Flota do Paru PA Estadual 9,86 1,80 3,32 0,13 15,11
APA do Lago de Tucuruí PA Estadual 2,52 6,84 4,20 0,26 13,83
APA Tapuruquara AM Municipal 12,34 0,85 0,06 13,24

Previsão conservadora

Uma das variáveis usadas pelo modelo de risco da PrevisIA são os dados históricos de desmatamento detectados pelo Prodes. Porém, como em 2024 houve um aumento significativo da derrubada e das queimadas a partir de agosto, um mês após o fechamento do calendário do Prodes, os pesquisadores alertam que a previsão da plataforma pode ser considerada conservadora, uma vez que esses dados não foram considerados no modelo de risco para 2025.

“Conforme o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, de agosto a outubro de 2024, meses que integram o calendário de 2025 do Prodes, já perdemos 1.628 km² de florestas, 25% da previsão. Isso significa que as ações de prevenção precisarão ser intensificadas principalmente a partir de maio, quando as chuvas na Amazônia deverão reduzir, o que facilita o desmatamento”, explica Carlos.

Conheça a ferramenta

Lançada em 2021 pelo Imazon em parceria com a Microsoft e o Fundo Vale, a PrevisIA é uma plataforma inovadora que utiliza a inteligência artificial para indicar áreas sob risco de desmatamento na Amazônia. E, com isso, fornecer dados para evitá-lo. Sua metodologia analisa um conjunto de variáveis como a presença de estradas legais e ilegais, o desmatamento já ocorrido, as classes de territórios, a distância para áreas protegidas, os rios, a topografia, a infraestrutura urbana e informações socioeconômicas.

Acesse previsia.org.br para saber mais


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