Cientistas criaram um modelo matemático que promete apontar com precisão quais áreas serão desmatadas.Cerca de 3.700 km2 de floresta tem alto risco de serem desmatados; Pará se consolida como Estado mais vulnerável. A Amazônia ganhou uma espécie da bola de cristal para prever o desmatamento. Cientistas do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), cujo monitoramento mensal de desmatamento é utilizado como referência no país, desenvolveram um novo sistema que consegue calcular os riscos à floresta.

O modelo matemático, que levou um ano para ser desenvolvido, combina fatores naturais, como o tipo de solo e a composição das florestas, a aspectos socioeconômicos de cada região. Também entram na conta os dados dos monitoramentos via satélite do Imazon.

O modelo indicou que, até julho de 2011, 3.700 km2 – quase duas cidades de São Paulo- serão ameaçados pelo desmatamento.

A maior parte disso, 67%, fica no Pará, que já lidera as estatísticas oficiais de desmatamento no país.

O segundo colocado no levantamento, Mato Grosso, vem bem depois, com 13% da área ameaçada.

“Os resultados seguiram o padrão de desmatamento que já vínhamos observando há alguns anos”, disse à Folha Carlos Souza Jr, pesquisador e coordenador do programa de monitoramento da Amazônia do Imazon.

O estudo confirma as estradas como um dos maiores vetores de destruição da floresta. Regiões próximas à BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA), já começaram a ser degradadas e o processo tende a se intensificar.

Os cientistas avaliaram também as rotas não oficiais, em geral abertas irregularmente por madeireiros e especuladores. Segundo estimativas do Imazon, elas já cortam milhares de quilômetros floresta a dentro.

Sem qualquer regulação, essas rotas clandestinas podem provocar estragos até maiores do que as rodovias “oficiais” mais movimentadas da região.

A maioria das florestas vulneráveis, 59%, estão áreas privadas ou sob algum tipo de ocupação. Os assentamentos de reforma agrária vêm atrás, com 25%.

O menor risco está nas terras indígenas, que têm apenas 4% da área ameaçada.

INÉDITO

Já existiam alguns projetos de previsão do desmatamento, mas eles normalmente trabalham com intervalos maiores de tempo, o que dificultava o “contra-ataque” rápido à derrubada.

Na primeira edição, o modelo do Imazon calcula os números para o período de agosto de 2010 a julho de 2011. A confiança estatística é de até 95%.

“Nós já tínhamos ferramentas muito boas para monitorar o desmatamento, mas isso era pouco, porque não podemos voltar atrás e impedir o que já está feito” disse Souza Jr.

“Com a previsão do risco de desmatamento, nós podemos atuar antecipadamente para salvar a vegetação. O objetivo, claro, é que nós consigamos agir rápido e impedir que essas previsões se concretizem”, afirmou ele.

Para Souza Jr, a ferramenta pode servir para orientar políticas públicas de combate ao desmatamento.

A íntegra do trabalho, assim como os mapas, estarão disponíveis a partir de hoje no site do instituto (www.imazon.org.br).

Fonte – Folha.com


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