O ministro do meio ambiente Carlos Minc pode não ser uma pessoa muito simpática aos olhos dos políticos tradicionais e dos estilistas em geral. É esquisitão, adora aparecer, meio estressado, faz umas grosserias, mas ele está absolutamente certo na maior parte das batalhas que tem travado. Os bois que capturou no pasto, em junho do ano passado, encalharam nos três leilões que organizou. Foi ridicularizado, mas estava certo.

O pesquisador do Imazon, Paulo Barreto, fez um estudo e afirmou que esta foi uma das ações mais bem-sucedidas na contenção do desmatamento.

Quando detonou o Incra, mostrando que seus assentamentos eram desmatadores, ouviu impropérios, mas provou-se correto na afirmação.

A contenda desta vez opõe o ministro aos que querem a flexibilização do licenciamento, um processo absurdamente demorado na maioria dos casos. Mas não tê-lo é pior. É falta de visão estratégica.

O Brasil é o candidato mais bem posicionado no silencioso concurso internacional que escolherá o país modelo na área ambiental. Está no caminho. Os maiores concorrentes são os países nórdicos e alguns europeus. Quem chegar na frente, será um polo de atração de investimentos.

A Índia acaba de fazer um planejamento — o e Greenpeace teve acesso ao documento — segundo o qual estará produzindo 200 000 megawatts de energia solar até 2050. O fará mesmo com as evidentes desvantagens da energia solar sobre o carvão.

Ser conhecido como país avançado, consciente e limpo é uma marca poderosa. O Brasil tem um enorme potencial a explorar em energias renováveis. Tem uma das quatro maiores coberturas vegetais do planeta e biodiversidade ímpar. Os mecanismos que vão transformar isso em dinheiro ainda estão sendo criados, mas vão existir.

O que o Minc defende não é apenas um discurso bonitinho para jovens senhoras inglesas verem. Mas o ministro ficou fragilizado. Muito fragilizado. Seu pronunciamento em cadeia nacional, agora há pouco, foi uma mostra disso. Uma prestação de contas desenfreada como se estivesse dizendo ao chefe que está trabalhando.

Tudo o que de pior pode acontecer é o ministro ficar fragilizado, neste momento, em que a legislação ambiental está sob ataque. Sugiro ler o site da Frente Parlamentar Ambientalista para ter mais detalhes.

Muitas vezes a importância das leis passa despercebida. É como o jogo de futebol em que o juiz atua bem: ninguém nota sua presença em campo. Há poucos dias, chegando em Brasília, encontrei uma senhora de aproximados 75 anos. Dona Juranda, carioca, moradora das imediações da Praça da Cruz Vermelha, no centro do Rio. Ela andava com dificuldade e me ofereci para carregar sua bolsa.

Ela ficou muito feliz, não pode se livrar da bolsa que não me concedeu, mas pelo oferecimento. “Todo mundo anda me tratando tão bem, disse. Sua teoria é de que o arcabouço legal de proteção aos idosos está fazendo efeito. Primeiro gerou imposições e depois consciência nas pessoas. Levou um tempo entre uma coisa e outra.

O mesmo acontece com a legislação ambiental. Ela vai gerar consciência. A conservação será uma atitude mais natural. Enquanto isso, precisa-se de um ministro que saiba se impor. O Minc sabe. Nem a insensibilidade ambiental do presidente Lula o impediu de dizer, no mesmo dia, à noite, que seguirá sua consciência, nem que tenha que sair do governo. Até prova em contrário de suas reais intenções, torço para que não saia.


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