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Desmatamento da vegetação secundária na Amazônia compromete 23% da meta nacional de restauração florestal

11/11/25
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Entre 2014 e 2024, bioma perdeu 2,7 milhões hectares de floresta que se regenerava há pelo menos seis anos, sendo 87% para agropecuária Para que o Brasil cumpra com a meta de restaurar 12 milhões de hectares de mata nativa até 2030, é essencial proteger as florestas em regeneração natual na Amazônia. Porém, segundo estudo do Imazon, entre 2014 e 2024, 2,7 milhões de hectares de vegetação secundária que tinham seis anos ou mais foram suprimidos, o que equivale a duas vezes o território do município de Altamira — o maior do país. Esse desmatamento corresponde a uma média de 247 mil hectares suprimidos por ano e representa 23% da meta nacional de restauração.  A pesquisa também estimou os custos para recuperar essas áreas derrubadas com diferentes técnicas. Para restaurar os  2,7 milhões de hectares, seria necessário cerca de US$ 151 milhões (R$ 814 milhões) em um cenário de regeneração natural (apenas com proteção contra eventuais distúrbios), e  US$ 6,2 bilhões (R$ 33 bilhões) com o plantio total de mudas.
Custos estimados para a restauração de 2,7 milhões de hectares perdidos de vegetação secundária entre 2014 e 2024 no bioma Amazônia, por método de restauração.
Métodos de Restauração*Custo Restauração (US$/ha)Custo Restauração (US$)Custo Restauração (R$/ha)Custo Restauração (R$)
Plantio de mudas2.302,506.248.332.86712.412,0833.687.340.850
Plantio de enriquecimento1082,502.937.226.0975.834,6915.385.797.931
Semeadura direta699,801.899.149.7073.772,5910.239.099.749
Regeneração natural assistida508,991.381.244.1782.743,797.446.857.331
Em outubro de 2025, o Governo Brasileiro anunciou, por meio do Fundo Amazônia, um aporte financeiro de R$126 milhões para impulsionar ações de restauração de 4,6 mil hectares, por meio do plantio de mudas. Essa medida integra o Projeto Arco da Restauração, que contará com um investimento total de R$ 1 bilhão, dos quais R$ 450 milhões não reembolsáveis serão destinados ao Programa Restaura Amazônia. Considerando o cenário mais conservador — R$ 814 milhões para a regeneração natural dos 2,7 milhões de hectares —, o valor total previsto para o Arco da Restauração (R$ 1 bilhão) seria suficiente apenas para cobrir essa estimativa mínima. Contudo, caso se opte por regeneração natural assistida (com cercas, controle de espécies invasoras etc.), por exemplo, o investimento necessário se elevaria substancialmente, podendo alcançar R$ 7,5 bilhões. No cenário mais intensivo, baseado no plantio de mudas, o custo estimado chegaria a cerca de R$ 33 bilhões, o que evidencia a magnitude do desafio financeiro envolvido na recuperação das áreas de vegetação secundária perdidas na última década. “Proteger as florestas em regeneração na Amazônia, principalmente aquelas cuja vegetação secundária já tem mais de seis anos, é a forma mais barata do Brasil cumprir com as metas de restauração, mas não temos feito devidamente o nosso dever de casa. A floresta tropical é muito resiliente, mas cada vez que a vegetação é suprimida, menor é a sua capacidade de regeneração, principalmente em casos em que o desmatamento é associado ao uso do fogo”, afirma o autor do estudo Paulo Amaral, pesquisador do Imazon. Agropecuária ocupou 87% da vegetação secundária desmatada Além disso, a pesquisa indicou que 74% da vegetação secundária perdida em 2024 foi convertida para pastagem e 13% para lavouras, somando 87% das perdas relacionadas à agropecuária. Outros 14% foram por expansões urbanas, construções de barragens ou açudes.
Uso da terra após a perda de vegetação secundária em 2024 no bioma Amazônia.
ClasseHectares%
Pastagem50.67873,71
Agricultura8.76712,75
Outras Classes9.30713,54
Total68.753100,00
Já quanto às classes territoriais, 60% da vegetação secundária destruída na Amazônia estava em imóveis rurais inscritos no Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) e 17% no Cadastro Ambiental Rural (CAR), o que soma 77% do desmatamento vindo de áreas privadas. Vazios fundiários (5%), Áreas Protegidas (2%) e Áreas de Proteção Ambiental (1%) também tiveram registros de derrubada.  “Esses dados reforçam as análises de que as áreas protegidas são barreiras para o desmatamento, sendo a destinação de novos territórios para a proteção uma medida efetiva para garantir também o cumprimento da meta de restauração”, completa a autora do estudo, Andréia Pinto, pesquisadora do Imazon.
Vegetação secundária suprimida em 2024 no bioma Amazônia por classe territorial.
Classe TerritorialPerda de Vegetação Secundária 
ha %  
Imóveis Privados no Sigef 4142660,3%
Áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR) 1152916,8%
Assentamentos Rurais 942213,7%
Vazios Fundiários 36325,3%
Áreas Protegidasa15772,3%
Áreas de Proteção Ambiental (APA)b 9621,4%
Áreas Públicas Não Destinadas 1020,1%
Terras Quilombolas 1030,1%
Total 68753100%
Proteger a vegetação secundária e promover a restauração Entre as recomendações do estudo para proteger a vegetação secundária estão a criação de um sistema de monitoramento em tempo real, a integração do risco de fogo das restaurações na Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo e a implementação de incentivos econômicos locais vinculados à proteção de áreas restauradas. Além disso, para dar escala à recuperação das áreas desmatadas, a pesquisa orienta a promover concessão para restauração florestal em terras públicas. Clique aqui para ler o estudo

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