Veríssimo, Beto; Brito, Brenda; Gandour, Clarissa; Santos, Daniel; Chiaveri, Joana; Assunção, Juliano; Lima, Manuele; Barreto, Paulo; Coslovsky, Salo. Amazônia 2030: bases para o desenvolvimento sustentável. Belém, PA: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, 2023.

PREFÁCIO

A Amazônia é hoje a primeira lembrança que vem à mente quando se fala em Brasil no exterior. Virou o nosso cartão postal. Mas não o cartão que algum dia tivemos com o futebol ou com o Rio de Janeiro, linda e charmosa capital de outrora. A selva ocupada por povos ancestrais, reserva natural do planeta, virou um espaço crescentemente desmatado, ocupado em parte por madeireiros e mineradores ilegais que deixam para trás um rastro de mercúrio nas águas, terras degradadas e crimes. Num momento em que crescem os riscos ligados ao aquecimento global, o que deveria ser um ativo do Brasil passou a ser um vergonhoso passivo reputacional e econômico.

Mas agora, após um período de trevas, os ventos estão virando para a Amazônia. Vem, portanto, em boa hora o extraordinário projeto Amazônia 2030, que tenho acompanhando com entusiasmo e admiração desde o início. O projeto apresenta uma estratégia completa e coerente de desenvolvimento regional, sem a qual não haverá chance de sucesso.

O trabalho foi produto do esforço de dezenas de especialistas, organizados de acordo com as mais relevantes áreas de impacto social, econômico e ambiental. Essa ênfase multidisciplinar é crucial. Os desafios vão muito além do desmatamento e começam com o futuro dos 28 milhões de habitantes da região. A ideia é ao mesmo tempo melhorar a qualidade de vida das pessoas e reflorestar a região. Reflorestar, como parte da imprescindível resposta ao desafio da mudança climática. Será algo possível a um custo razoável? Sim, pois, como demonstra o estudo, resta ainda um enorme espaço para aumentar a produção agrícola e pecuária da região sem derrubar mais uma árvore sequer.

Decorre daí que a busca de mais e melhores empregos passa necessariamente pela criação de oportunidades urbanas ou que respeitem o imperativo existencial da preservação. Se é difícil achar caminhos para o Brasil em áreas onde os limites de ocupação são mais flexíveis, imaginem em um espaço onde a logística é limitada pela preservação.

Mas não se desesperem. Como apresentado neste livro, existem boas propostas e soluções.

As terras desmatadas oferecem as maiores oportunidades. Dentre elas, destacam-se opções de manejo sustentável da floresta a partir de seus produtos, o restauro, a pecuária produtiva e a agricultura moderna. O desmatamento já atinge a marca de 21% da floresta, tendo na última década revertido uma tendência de queda e se acelerado, especialmente nos últimos três anos. Felizmente, o reflorestamento ecológico já demonstra que pode ser economicamente viável. A restauração natural vem também ocorrendo em escala maior do que se imagina, e reforça a tese de que a floresta em crescimento tem valor, e a floresta de pé, também. Os mecanismos para a viabilização econômica e financeira dessas atividades estão sendo desenvolvidos, em paralelo aos esforços globais de coordenação a partir das metas de redução de emissões de carbono definidas para 2050.

Contudo, existem inúmeros riscos, também objetos de discussão. Me chama a atenção que 29% da Amazônia permaneça sem direitos de propriedade definidos. Outro problema extremamente complicado é o crescimento da violência e do crime organizado na região. As estatísticas de homicídios já superam com folga a média nacional, com tendência a piorar. Claramente será necessário reforçar a presença do Estado na região em todas as suas frentes de atuação.

Este livro mostra o tamanho do desafio que terá de ser enfrentado, mas mostra também que é possível virar o jogo. Sua publicação visa contribuir para um debate esclarecido sobre a região, a partir de uma estratégia que merece ser considerada.

Armínio Fraga
Setembro de 2023

Baixe aqui o livro completo


Leia também:

APÓS DIGITAR O TEXTO, PRESSIONE ENTER PARA COMEÇAR A PESQUISAR