Carta da Diretoria

Esperança. Esse foi o sentimento que transbordou pelas veias dos amazônidas em 2023. Depois de cinco anos consecutivos de avanço no desmatamento, a derrubada apresentou redução de 22% entre agosto de 2022 e julho de 2023, se comparado com o mesmo período anterior, o chamado “calendário do desmatamento”. Esses doram os dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Redução que já vinha sendo mostrada mensalmente pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, que monitora a floresta por imagens se satélite desde 2008.

Nossos dados, por serem publicamos todo o mês, também auxiliam na comparação do calendário de janeiro a dezembro, que mostrou uma queda ainda maior na supressão de floresta primária: 62% entre 2022 e 2023. E mais: o governo federal prometeu zerar a devastação no bioma amazônico até 2030, ação essencial para reduzir as emissões de gases do efeito estufa no país. E, consequentemente, ajudar o mundo a mitigar a crise climática, visivelmente pesente em nossos dias. Essa é uma demanda urgente para o Brasil, que tem sofrido cada vez mais com os prejuízos causados pelas mudanças no clima.

Conforme um levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), em uma década, de 2013 a 2022, prefeitas e prefeitos tiveram de decretar situação de emergência ou estado de calamidade pública 58.469 vezes, sendo 55% dos casos apenas nos três últimos anos. E isso se deu principalmente devido às chuvas ou secas intensas, fenômenos extremos que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU) vem alertando que ficarão mais frequentes e mais intensos caso os países não reduzem suas emissões. Secas que também foram monitoradas por imagens de satélite pelo Imazon, que realiza a coordenação técnica da plataforma MapBiomas Água. Conforme a ferramenta, que mede a superfíce de água em todo o país, tanto a Amazônia quanto o Brasil estão se tornando mais secos, o que ameaça gravemente a vida de povos e comunidades tradicionais que dependem diretamente dos rios para acesso à alimentação, saúde e educação. Além de prejudicar toda a população brasileira, que depende do equilíbrio hídrico para a produção de alimentos e de energia.

Por isso, além de monitorar a floresta e as águas por imagens de satélite, o Imazon também seguiu como uma das principais instituições de pesquisa a apontar soluções para os problemas da Amazônia. E um dos maiores é a grilagem. Em uma pesquisa inédita publicada sobre o tema em 2023, o instituto mostrou que o Pará só teria retomado um dos mais de 10 mil imóveis cancelados por suspeita de grilagem nos cartórios em 12 anos. A publicação apontou que, para começar a resolver o caos fundiário instalado no estado, é preciso primeiramente digitalizar e organizar os dados de terras, possibilitando o cruzamento entre eles. A partir daí, o poder público precisa agir para retomar e destinar as áreas griladas, com prioridade para conservação.

Outro grande problema que afeta a Amazônia é a expansão da pecuária em terras desmatadas ilegalmente. Dados da Rede MapBiomas informam que cerca de 90% da área derrubada desde 1985 na região já virou pasto. E isso ocorre porque o Brasil ainda não possui a rastreabilidade total da cadeia bovina, o que facilita a entrada de produtos ilegais no mercado. Conforme o Radar Verde, um índice de transparência da pecuária na Amazônia liderado pelo Imazon e pelo Instituto O Mundo Que Queremos, 92% dos frigoríficos e 95% dos maiores varejistas que atuam na região não apresentam controle da cadeia. Além disso, falta transparência de acesso a dados para proposição de sluções imediatas.

A falta de incentivo para a bioeconomia também é um dos problemas que tem impedido o desenvolvimento socioambiental da Amazônia. E para apresentar soluções, o Imazon tem atuado dentro do projeto Amazônia 2030 com a publicação de uma série de estudos nessa e em outras áreas chave para a região. Apenas em 2023, a iniciativa publicou 11 pesquisas indicando caminhos sustentáveis para políticas públicas.

E por falar em gestão governamental, o Imazon também publicou em 2023 mais uma edição do IPS Amazônia, o Índice de Progresso Social de cada um dos 772 municípios da região. Após analisar 47 indicadores de qualidade de vida de áreas como saúde, educação, segurança e moradia, o IPS 2023 mostrou novamente que o desmatamento está relacionado com o baixo desenvolvimento da Amazônia. Conforme o índice, os municípios que mais destruíram a floresta nos últimos três anos tiveram os piores desempenhos sociais.

Além disso, o Imazon continuou aplicando em campo as soluções apontadas nas pesquisas científicas, como a restauração florestal. Apenas em 2023, o instituto plantou 30,6 mil mudas de árvores nativas para recuperar áreas desmatadas em assentamentos no Pará. Após uma consulta aos beneficiados, foram escolhidas espécies frutíferas de curto, médio e longo prazo de crescimento, como açaí, cupuaçu e castanha-do-Pará, que garantirão novas fontes de geração de renda para as famílias. Trabalho que também contou com a assistência técnica do instituto para que as plantas se desenvolvessem.

Outro destaque de nossa atuação em campo ocorre no Norte do Pará, onde está localizado o maior bloco de áreas protegidas do mundo. No território, apoiamos mais de 100 agentes ambientais comunitários formados pelo Imazon e pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio) para protegê-lo, além de realizar projetos de incentivo à bioeconomia, ao turismo de base comunitária e a comunicação. Em 2023, também concluímos o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) Jará, documento que orientará o uso sustentável da unidade de conservação.

Isso para destacar apenas alguns exemplos da nossa atuação em 2023, ano em que publicamos 54 trabalhos, estivemos 4 mil vezes na mídia e alcançamos 90 mil seguidores nas redes sociais. Além disso, pudemos renovar nossa esperança enquanto instituição amazônida de que, se aplicadas as soluções indicadas pela ciência e pelo conhecimento dos povos e comunidades tradicionais, a Amazônia poderá ser uma região livre de desmatamento e socioambientalmente desenvolvida. E é com essa missão fortalecida que te convidamos para ler as páginas seguintes e conhecer com mais detalhes os caminhos que trilhamos durante esse ano. Esperamos que essa leitura também possa renovar teu engajamento em defesa da Amazônia!

Ritaumaria Pereira
Diretora executiva

Verônica Oki
Diretora administrativa

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