Derrubada atingiu 198 km², área semelhante à perda de quase 640 campos de futebol por dia de floresta
A Amazônia ainda segue sofrendo com um ritmo alto de desmatamento. Apenas em janeiro, foram devastados 198 km², uma área semelhante à perda de quase 640 campos de futebol por dia de floresta. Apesar dessa destruição ter sido 24% menor do que a registrada no mesmo mês em 2022, representou o terceiro maior desmate para janeiro em 16 anos.
Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, que monitora a floresta por imagens de satélite desde 2008. Conforme a série histórica desse monitoramento, a derrubada em janeiro só foi maior do que a registrada em 2023 em dois anos: 2015 (288 km²) e 2022 (261 km²).
De acordo com o coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon, Carlos Souza Jr., esses dados mostram que as ações de combate ao desmatamento anunciadas pela nova gestão federal precisam ser colocadas em prática de forma rápida e em toda a região.
“Essa redução em relação a 2022 é positiva, mas ainda estamos com a devastação em um ritmo muito alto, um patamar semelhante ao dos últimos anos. Por isso, precisamos ter máxima agilidade e efetividade no aumento das fiscalizações e das punições aos desmatadores ilegais, priorizando as áreas sob maior risco de devastação”, afirma o pesquisador.
A plataforma PrevisIA, que usa a inteligência artificial para indicar as áreas sob maior risco de derrubada na Amazônia, estimou que 11.805 km² estavam sob ameaça entre agosto de 2022 e julho de 2023. E, conforme o sistema de monitoramento do Imazon, de agosto a janeiro já foram devastados 4.243 km², o que corresponde a 36% do total estimado. Ou seja: ainda é possível trabalhar para evitar a destruição de 7.562 km² (64%) que estão sob risco, uma área equivalente a cinco vezes a cidade de São Paulo.
Mato Grosso registrou 43% do desmatamento em janeiro
Entre os nove estados que compõem a Amazônia Legal, a maior devastação foi registrada em Mato Grosso, que perdeu 85 km² de floresta em janeiro, área correspondente a 43% do total destruído na região. Além disso, essa derrubada foi 16% superior do que a identificada no mesmo mês no estado em 2022, de 73 km².
No ranking dos municípios, cinco dos 10 que mais desmataram ficam em Mato Grosso: Porto dos Gaúchos (15 km²), Feliz Natal (13 km²), Tabaporã (12 km²), Paranatinga (7 km²) e Querência (6 km²). Juntos, eles somaram 53 km² devastados, 62% do registrado no estado.
“Devido à conversão da floresta para áreas de agropecuária, Mato Grosso vem ocupando há pelo menos 15 anos as primeiras posições no ranking de desmatamento na Amazônia, ao lado do Pará e do Amazonas. Por isso, é preciso que o estado intensifique o combate à derrubada ilegal e o incentivo ao aumento da produtividade, cumprindo com o Código Florestal”, explica Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.
Além de Mato Grosso, o desmatamento também aumentou em Roraima, que ocupou a segunda colocação entre os estados que mais derrubaram a floresta. Em solo roraimense, a devastação passou de 19 km² em janeiro de 2022 para 41 km² em janeiro de 2023, uma alta de 116%. Isso representou 21% de todo o desmate registrado na Amazônia no mês.
No estado, ficam três dos 10 municípios com as maiores áreas destruídas na região, inclusive o líder do ranking: Rorainópolis (15 km²). Caracaraí (7 km²) e Caroebe (5 km²) também integram a lista. Somadas, essas três cidades que ficam no sul de Roraima foram responsáveis por 65% de toda a derrubada no estado.
“Outro problema identificado pelo monitoramento em Roraima foi o avanço do desmatamento em assentamentos e em terras indígenas. O estado teve sete dos 10 assentamentos e cinco dos 10 territórios indígenas com as maiores áreas desmatadas na Amazônia em janeiro”, comenta Bianca.
No caso dos assentamentos, apenas o PAD Anauá, líder do ranking, desmatou 25% do total identificado dentro desse tipo de território na Amazônia. Já em relação às terras indígenas, Roraima registrou 60% de toda a derrubada nos territórios dos povos originários amazônidas.
Pará foi responsável por 73% da degradação florestal
Além do desmatamento, que é a remoção total da vegetação, o Imazon também monitora mensalmente a degradação florestal causada pelas queimadas e pela exploração madeireira. Terceiro estado que mais desmatou em janeiro, com 23 km² (12%), o Pará ocupou a liderança no ranking de degradação.
No estado, foram degradados 11 km² de floresta, o que corresponde a 73% do total atingido na Amazônia. Isso representou um aumento de 1.000% em relação a janeiro de 2022, quando a área degradada no Pará foi de 1 km².
Santuário das árvores gigantes segue ameaçado
Além disso, o Pará segue registrando avanço do desmatamento em áreas protegidas. Em janeiro, cinco das 10 unidades de conservação mais destruídas na Amazônia estavam em solo paraense, inclusive a Floresta Estadual (Flota) do Paru, onde está a maior árvore da América Latina e a quarta mais alta do mundo. Motivo que levou o Imazon a continuar a campanha #ProtejaAsÁrvoresGigantes, que pede a retirada de grileiros e garimpeiros do local.
“Na primeira fase da campanha, lançada em dezembro, nossa mobilização era pelo cancelamento dos Cadastros Ambientais Rurais (CARs) que estavam sobrepostos ao território. No final do mês, o governo informou que havia anulado 456 registros. Agora, precisamos seguir na defesa da Flota com a fiscalização e remoção dos ocupantes ilegais da área, para que ela seja realmente protegida”, explica a pesquisadora do Imazon Jakeline Pereira, responsável pela campanha e também conselheira da Flota do Paru.
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Entenda o SAD
Conheça a campanha #ProtejaAsÁrvoresGigantes