Amapá teve exploração madeireira não autorizada em área de quase 100 campos de futebol em um ano

Estudo inédito mostrou que, de agosto 2019 a julho de 2020, estado teve pelo menos 96 hectares com extração de madeira sem permissão

Operação da Polícia Federal deflagrou, em 2020, associação criminosa voltada à comercialização ilegal de madeira e transferências fictícias de créditos florestais no Amapá – Foto: Polícia Federal/Reprodução

 

Uma área do tamanho de quase 100 campos de futebol teve exploração madeireira sem autorização dos órgãos ambientais no Amapá em apenas um ano. Conforme um estudo inédito, que cruzou imagens de satélite com autorizações emitidas para extração de madeira no estado, pelo menos 96 hectares foram explorados ilegalmente entre agosto de 2019 a julho de 2020.

O mapeamento foi realizado pela Rede Simex, integrada por quatro organizações de pesquisa ambiental: Imazon, Idesam, Imaflora e ICV. Segundo o estudo, no total, o Amapá teve pelo menos 730 hectares de área com exploração madeireira entre agosto de 2019 e julho de 2020, sendo a maior parte de forma autorizada, o que correspondeu a 634 hectares (87%). O restante da área, que corresponde a 13% do total, foi explorada sem permissão.

Dois municípios amapaenses concentraram área não autorizada

Toda a área explorada sem autorização no Amapá de agosto de 2019 a julho de 2020 fica em apenas dois municípios: Pedra Branca do Amapari, 50 hectares (52%), e Porto Grande, 46 hectares (48%). Além disso, nessas cidades, 65 dos hectares com exploração madeireira não permitida estão em imóveis rurais cadastrados (68%) e 30 em assentamentos (32%).

Esta foi a primeira vez em que um estudo mapeou e analisou a exploração madeireira no Amapá. Movimento importante para o monitoramento da floresta amazônica, que vem sofrendo intensas ameaças.

 

Ação da Polícia Federal combateu, em 2020, comércio de madeira ilegal em Macapá, Pedra Branca do Amapari e Tartarugalzinho, no Amapá – Foto: Polícia Federal/Reprodução

 

No estado, a análise da legalidade só foi possível depois do dia 22 de setembro, quando os pesquisadores receberam as informações necessárias da Secretaria de Estado e Meio Ambiente do Amapá (Sema/AP). Até então, apenas dois estados da Amazônia haviam liberado os dados integralmente para a pesquisa: Pará e Mato Grosso.

Em comparação com o Pará, cujos dados foram divulgados no início do mês, o índice de ilegalidade observado no Amapá é muito menor. Enquanto em solo amapaense a exploração madeireira sem permissão não chega a 15%, em solo paraense mais da metade da área mapeada teve extração ilegal: 55%. Mesmo assim, o Amapá precisa trabalhar para que a ilegalidade seja totalmente combatida.

Mato Grosso, terceiro estado que até então liberou acesso aos dados, terá o estudo publicado em breve. “A transparência dos dados é crucial para o monitoramento efetivo do setor. Sem esse acesso, a produção de diagnósticos e insumos para elaboração de políticas públicas eficazes de combate à ilegalidade e fomento ao manejo florestal sustentável na Amazônia ficam comprometidas”, afirma Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon.

Exploração madeireira no Amapá pode ser ainda maior

Uma observação importante que os pesquisadores fazem em relação ao Amapá é que, no período estudado, entre agosto de 2019 e julho de 2020, o elevado percentual de nuvens nas imagens de satélite ópticas prejudicou o monitoramento da maior parte do estado. Por isso, a área de 730 hectares com exploração madeireira mapeada no Amapá pode ser ainda maior.

“A região em que se localiza o estado possui aspectos climatológicos bem peculiares, contribuindo para a existência de percentuais elevados de nuvens em boa parte do ano, o que torna o monitoramento por imagens de satélite mais difícil. Embora tenhamos identificado e mapeado algumas áreas de exploração no estado, não descartamos a existência de outras ‘escondidas’ pelas nuvens”, completa Cardoso.

Em relação à área total com extração de madeira mapeada na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020, de 464 mil hectares, o Amapá ficou em sétimo lugar, com 0,2%.

Avaliação da legalidade – Os dados utilizados para a verificação da legalidade dos planos de manejo no estado foram obtidos por meio da Secretaria de Estado e Meio Ambiente do Amapá (Sema/AP). No caso do Amapá, a Rede Simex avaliou apenas a existência de autorizações para eventuais explorações detectadas, classificando-as em autorizadas e não autorizadas.

Degradação – A exploração madeireira pode provocar a degradação florestal, que é um dano ambiental diferente do desmatamento. Na degradação, a floresta é continuamente empobrecida por distúrbios, como no caso da retirada de madeira sem planos de manejo. O empobrecimento da floresta ocorre com a redução da biomassa florestal, da biodiversidade e dos estoques de madeira comerciais. Já o desmatamento é quando ocorre o chamado “corte raso”, a remoção completa da vegetação, que pode ser feita com objetivo de converter a área em pastagem, lavoura ou garimpo, por exemplo.

Sobre a Rede Simex – Integrada por pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e do Instituto Centro de Vida (ICV), foi formada para que o Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), que já era realizado no Pará e Mato Grosso, pudesse ser ampliado para outros estados da Amazônia.

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This post was published on 27 de setembro de 2021

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