Levantamento faz parte do estudo “Ameaça e Pressão de Desmatamento em Áreas Protegidas”, publicado trimestralmente pelo Imazon

Tuane Fernandes Greenpeace - Roraima tem metade das terras indígenas mais pressionadas pelo desmatamento na Amazônia no primeiro trimestre
Lideranças de diversos povos e ativistas realizaram protesto contra o garimpo ilegal em terras indígenas e o PL 191 durante o Acampamento Terra Livre (ALT), realizado em Brasília em abril (Foto: Tuane Fernandes/Greenpeace)

 

Das 10 terras indígenas mais pressionadas pelo desmatamento no primeiro trimestre deste ano, cinco estão localizadas em Roraima. Em pesquisas anteriores, era o Pará o estado que mais tinha territórios indígenas nesse ranking. O levantamento integra o estudo “Ameaça e Pressão de Desmatamento em Áreas Protegidas”, publicado trimestralmente pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Apesar do problema da falta de proteção aos territórios indígenas persistir no Pará, onde estão localizadas as terras Cachoeira Seca do Iriri e Apyterewa, primeira e terceira colocadas no ranking das mais pressionadas entre janeiro e março, desta vez foi Roraima que teve mais áreas indígenas sob maior pressão. Dado que serve de alerta para que o estado também receba ações urgentes de proteção aos povos originários, que estão tendo a vida ameaçada pelas invasões dos desmatadores.

É em solo roraimense e amazonense que fica a segunda terra indígena mais pressionada pela derrubada da floresta no trimestre, a Waimiri Atroari. Esse território também foi o sexto mais pressionado entre todas as classes de áreas protegidas do bioma. Lá, vivem indígenas do povo Waimiri Atroari e os isolados Cabeceira do Rio Camanaú.

As outras quatro terras indígenas localizadas em Roraima que figuraram no ranking das 10 mais pressionadas no trimestre são: Manoá/Pium, Moskow, Raposa Serra do Sol e São Marcos. Elas ocupam a sexta, a oitava, a nona e a décima colocação, respectivamente. E, juntas, abrigam cinco povos diferentes: Ingarikó, Macuxi, Patamona, Taurepang e Wapichana.

“O fato de metade das terras indígenas mais pressionadas no primeiro trimestre estarem localizadas em Roraima pode ser explicado pelo regime de chuvas no estado, que ocorre de forma inversa ao do restante da Amazônia. Entre janeiro e março, Roraima estava no período seco, quando o desmatamento costuma ser maior, enquanto os outros oito estados amazônicos estavam na estação chuvosa. Por isso, tanto Roraima quanto outros estados com áreas protegidas entre as mais pressionadas precisam intensificar suas ações de proteção”, explica Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.


Terras indígenas mais pressionadas

1ª – TI Cachoeira Seca do Iriri (PA)
2ª – TI Waimiri Atroari (AM/RR)
3ª – TI Apyterewa (PA)
4ª – TI Alto Rio Negro (AM)
5ª – TI Karipuna (RO)
6ª – TI Manoá/Pium (RR)
7ª – TI Médio Rio Negro I (AM)
8ª – TI Moskow (RR)
9ª – TI Raposa Serra do Sol (RR)
10ª – TI São Marcos (RR)


No ranking geral, Pará segue como o estado mais crítico

Se levarmos em conta todos os tipos de áreas protegidas na Amazônia, e não apenas as terras indígenas, é o Pará o estado com o maior número de territórios entre os mais pressionados no trimestre. Cenário que segue o que foi observado em estudos de períodos anteriores.

Apenas neste último levantamento, entre janeiro e março, o Pará teve cinco das 10 áreas protegidas mais pressionadas na Amazônia. Em primeiro e segundo lugar estão as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Triunfo do Xingu e do Tapajós, que já figuravam no ranking no mesmo período do ano passado. Enquanto a Triunfo do Xingu manteve a primeira posição, a do Tapajós piorou sua situação. Essa APA passou da quinta colocação em 2021 para a segunda em 2022. 

“O Pará é frequentemente um dos estados que mais apresentam áreas protegidas ameaçadas e pressionadas. Caso as informações disponíveis fossem utilizadas para a proteção desses territórios, essa devastação poderia ter sido evitada”, afirma Amorim.

 

Estudo também analisa o desmatamento ao redor das áreas protegidas

Com uma metodologia que olha o número de ocorrências de desmatamento, e não a área total desmatada, a pesquisa serve para alertar os órgãos públicos sobre quais são os mais pressionados e ameaçados pelo avanço da devastação. E, consequentemente, os que podem ter as maiores áreas destruídas caso ações não sejam tomadas.

Para isso, o instituto cruza dados do seu Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), monitoramento mensal via imagens de satélites, com células de 100 km² na Amazônia Legal. No estudo, são contabilizadas como “ocorrências” células cuja devastação está dentro ou ao redor das áreas protegidas. E, caso as ocorrências tenham sido identificadas dentro dos territórios, são classificadas como pressão. Já se estiverem no entorno, a uma distância de até 10 km, são identificadas como ameaça. 

Entre janeiro e março, o território protegido mais ameaçado na Amazônia foi a Flona do Aripuanã, no Amazonas. A terra indígena Trincheira/Bacajá, no Pará, ficou em segundo lugar no ranking geral e em primeiro no que leva em conta apenas as áreas indígenas. Além dela, outros quatro territórios localizados no Pará figuram no ranking de ameaça, o que mostra que o estado não é apenas o mais crítico em relação ao desmatamento que ocorre dentro das áreas protegidas, mas também ao redor delas.

Clique aqui para ver a pesquisa completa


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