Devastação em de terras indígenas e unidades de conservação passou de 1.431 km² em 2022 para 386 km² em 2023, menor área em nove anos

Marizilda Cruppe Greenpeace - Desmatamento em áreas protegidas cai quase quatro vezes na Amazônia em 2023
Desmatamento e queimada próxima à Floresta Nacional Bom Futuro, em Porto Velho, Rondônia, em outubro de 2023. Imagem: Marizilda Cruppe / Greenpeace

As áreas protegidas da Amazônia tiveram em 2023 o menor desmatamento em nove anos, desde 2014. Conforme o monitoramento por imagens de satélite do instituto de pesquisa Imazon, a devastação dentro de terras indígenas e unidades de conservação passou de 1.431 km² em 2022 para 386 km² em 2023, uma diminuição de 73%, quase quatro vezes menos.

Desmatamento em áreas protegidas de janeiro a dezembro, em km²:

2023: 386

2022: 1.431

2021: 1.460

2020: 1.369

2019: 1.222

2018: 721

2017: 418

2016: 642

2015: 520

2014: 513

2013: 178

2012: 271

Essa redução superou a queda geral na derrubada, que passou de 10.573 km² em 2022 para 4.030 km² em 2023, um decréscimo de 62%, quase três vezes a menos. Com isso, o desmatamento registrado de janeiro a dezembro do ano passado foi o menor em cinco anos, desde 2018.

Porém, ainda representa a derrubada de cerca de 1,1 mil campos de futebol por dia, sendo superior ao registrado de 2008 a 2017, desde que o Imazon implantou seu Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). Outro ponto preocupante em 2023 foi a degradação, que teve o terceiro aumento consecutivo em dezembro, o que pode ter relação com a seca e o aumento das queimadas. No último mês do ano, enquanto foram desmatados 108 km², outros 1.050 km² foram degradados, quase 10 vezes mais. 

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“Essa redução expressiva do desmatamento em áreas protegidas é muito positiva, pois são territórios que precisam ter prioridade nas ações de combate à derrubada. Isso porque, na maioria das vezes, a devastação dentro de terras indígenas e unidades de conservação significa invasões ilegais que levam a conflitos com os povos e comunidades tradicionais que residem nesses territórios”, explica o pesquisador Carlos Souza Jr., coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon. 

No entanto, o pesquisador ressalta que, apesar da queda geral, algumas áreas protegidas tiveram aumento na destruição, sendo territórios que devem receber ações urgentes em 2024. Entre as terras indígenas, uma das situações mais críticas ocorreu na Igarapé Lage, em Rondônia, onde o desmatamento cresceu 300%, passando de 2 km² em 2022 para 8 km² em 2023, uma área equivalente a 800 campos de futebol. Isso fez com que o território fosse o terceiro mais devastado da Amazônia em 2023.

Outras duas terras indígenas localizadas na divisa do Amazonas com Roraima também apresentaram aumentos expressivos na derrubada. São os territórios Waimiri Atroari, cuja perda florestal passou de 1 km² em 2022 para 4 km² em 2023, 300% a mais; e Yanomami, onde a devastação passou de 2 km² em 2022 para 5 km² em 2023, uma alta de 150%. Isso fez com que a terra Yanomami, mesmo após ter recebido em janeiro do ano passado uma operação humanitária por causa dos danos sociais causados pela invasão de garimpeiros, fosse a quinta mais desmatada da Amazônia em 2023. Já a Waimiri Atroari ficou em nono lugar.

A maior área destruída em um território indígena no ano passado foi registrada na terra Apyterewa, onde foram desmatados 13 km². Apesar de ocupar o topo do ranking, o local teve uma redução de 85% na devastação, pois em 2022 havia perdido 88 km² de floresta. Em outubro, o local recebeu uma operação de desintrusão para remoção de invasores ilegais.

Terras indígenas mais desmatadas em 2023, em km²:

Posição TI UF 2022 2023 Variação
1 Apyterewa PA 88 13 -85%
2 Cachoeira Seca PA 19 9 -53%
3 Igarapé Lage RO 2 8 300%
4 Andirá/Marau AM/PA 3 6 100%
5 Yanomami AM/RR 2 5 150%
6 Sete de Setembro RO/MT 3 4 33%
7 Trincheira/Bacajá PA 12 4 -67%
8 Tenharim Marmelos (Gleba B) AM 4 4
9 Waimiri Atroari AM/RR 1 4 300%
10 Sepoti AM 5 3 -40%

No total, as terras indígenas tiveram 104 km² devastados em 2023, menos da metade do registrado em 2022: 217 km². Ou seja, viram a derrubada cair 52%. Essa foi a menor área desmatada em territórios dos povos originários desde 2017.

Desmatamento em terras indígenas, em km²:

2023: 104

2022: 217

2021: 263

2020: 353

2019: 369

2018: 155

2017: 70

2016: 43

2015: 38

2014: 28

2013: 56

2012: 75

Apenas nas UCs, devastação teve queda de 77%

Levando em conta apenas as unidades de conservação da Amazônia, o desmatamento teve queda de 77%, passando de 1.214 km² em 2022 para 282 km². Ou seja: quatro vezes menos. Foi a menor área de floresta destruída nesses tipos de territórios em nove anos, desde 2014. 

A maior redução ocorreu nos territórios sob jurisdição federal, onde a derrubada passou de 468 km² para 97 km², o que significa uma queda de 79%, quase cinco vezes menos. Já nas áreas estaduais, a devastação passou de 746 km² para 185 km², sendo 75% ou quatro vezes menos.

Desmatamento em unidades de conservação, em km²:

2023: 282 (185 em UCEs e 97 em UCFs)

2022: 1.214 (746 em UCEs e 468 em UCFs)

2021: 1.197 (690 em UCEs e 507 em UCFs)

2020: 920 (353 em UCEs e 577 em UCFs)

2019: 888 (369 em UCEs e 519 em UCFs)

2018: 510 (155 em UCEs e 355 em UCFs)

2017: 319 (70 em UCEs e 249 em UCFs)

2016: 464 (43 em UCEs e 421 em UCFs)

2015: 336 (38 em UCEs e 298 em UCFs)

2014: 269 (28 em UCEs e  241 em UCFs)

2013: 131 (56 em UCEs e 75 em UCFs)

2012: 129 (75 em UCEs e 54 em UCFs)

“Todas as 10 UCs mais desmatadas da Amazônia em 2023 foram territórios onde a derrubada teve redução”, observa a pesquisadora Larissa Amorim, coordenadora do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon.

Posição  UC UF 2022 2023 Variação
1 APA Triunfo do Xingu PA 420 83 -80%
2 Resex Chico Mendes AC 84 24 -71%
3 Resex Jaci Paraná  RO 42 15 -64%
4 PES Guajará-Mirim RO 63 11 -83%
5 APA do Tapajós PA 89 9 -90%
6 FES Rio Gregório  AC 8 6 -25%
7 Flona do Jamanxim PA 90 6 -93%
8 Resex Rio Preto Jacundá RO 19 5 -74%
9 APA do Lago de Tucuruí PA 16 5 -69%
10 Resex Alto Juruará AC 6 5 -17%

Pará, Amazonas e Mato Grosso foram os estados que mais desmataram em 2023

Em relação aos estados, o desmatamento teve aumento apenas em três dos nove que compõem a Amazônia Legal na comparação de 2022 com 2023: Roraima (de 179 km² para 206 km²), Tocantins (de 16 km² para 21 km²) e Amapá (de 9 km² para 18 km²).

E os três maiores seguiram no topo do ranking como os que mais desmatam: Pará (1.228 km²), Amazonas (877 km²) e Mato Grosso (864 km²). 

Desmatamento por estado em km²:

Ano AC AM AP MA MT PA RO RR TO
2023 333 877 18 162 864 1,228 321 206 21
2022 880 2,575 9 235 1,604 3,874 1,201 179 16
2021 889 2,071 18 265 1,504 4,037 1,290 256 32
2020 694 1,395 27 164 1,088 3,411 1,051 202 26
2019 490 1,058 18 86 996 2,597 857 176 9
2018 169 986 6 1 1,240 1,783 711 182 4
2017 59 557 1 0 680 723 466 53 9
2016 44 923 0 0 682 1,081 631 61 16
2015 76 577 0 0 1,092 692 528 105 35
2014 151 366 5 0 722 1,119 491 118 20
2013 38 237 0 0 376 273 190 21 6
2012 13 195 0 0 480 830 225 17 23

 

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Veja aqui os dados dos meses anteriores
Entenda o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) aqui

 


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