Dos 38 mil hectares com exploração madeireira no estado em um ano, 17 mil hectares não tinham autorização dos órgãos ambientais para a atividade
Embora a extração ilegal de madeira tenha caído no Pará, essa prática ainda atinge 46% de toda a área com exploração madeireira no estado. Dos 38.552 hectares com retirada de árvores entre agosto de 2021 e julho de 2022, 17.897 hectares não tinham autorização dos órgãos ambientais, o que representa 46% do total. Os dados são do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), realizado por quatro instituições de pesquisa ambiental: Imazon, Idesam, Imaflora e ICV.
Em comparação com o período anterior, entre agosto de 2020 e julho de 2021, quando foram explorados ilegalmente 23.390 hectares, a área atingida caiu 23% no Pará. Porém, em relação ao total explorado, o percentual de ilegalidade passou de 41% no monitoramento anterior para 46% no atual. Isso porque a área sob manejo autorizado reduziu ainda mais, passando de 33.690 hectares para 20.655 hectares, 39% a menos.
“Essa redução da exploração madeireira ilegal é muito positiva, mas ainda é quase metade do total no Pará. Por isso, as ações de combate à essa prática irregular precisam ser intensificadas, assim como os incentivos ao manejo florestal, principalmente o comunitário. A extração de madeira sem as boas práticas de manejo causa graves danos ambientais, ameaça a vida dos povos e comunidades tradicionais que têm suas terras invadidas e prejudica a economia do estado, pois não gera empregos e impostos”, explica Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon.
Ilegalidade reduz nas áreas protegidas, mas cresce nas não destinadas
Em relação aos tipos de territórios onde ocorreu a retirada ilegal de madeira, o sistema de monitoramento mostrou que houve redução da exploração em áreas protegidas e aumento nas não destinadas. Nas terras indígenas, a extração madeireira passou de 1.720 hectares entre agosto de 2020 e julho de 2021 para 951 hectares entre entre agosto de 2021 e julho de 2022, uma queda de 45%. Já nas unidades de conservação, a área explorada sem autorização passou de 126 hectares no período anterior para 96 hectares no calendário seguinte, 24% a menos.
Somando o que ocorreu nas terras indígenas e nas unidades de conservação, a remoção ilegal de árvores em áreas protegidas passou de 1.846 hectares entre agosto de 2020 e julho de 2021 para 1.047 hectares entre entre agosto de 2021 e julho de 2022, uma redução de 43%. Os territórios protegidos mais atingidos no último monitoramento foram a terra indígena Amanayé, no município de Goianésia do Pará, com 928 hectares; o Parque Nacional do Jamanxim, em Itaituba e em Trairão, com 96 hectares; e a terra indígena Sarauá, em Ipixuna do Pará, com 23 hectares.
Por outro lado, nas terras públicas não destinadas, aquelas que ainda não tiveram um uso definido, a exploração madeireira ilegal aumentou. No monitoramento anterior, foram identificados 919 hectares nesses territórios com retirada não autorizada de madeira. Já no seguinte, foram mapeados 1.711 hectares com a atividade ilegal, um aumento de 86%. “Isso nos mostra a urgência da destinação das terras públicas para a conservação, como prioriza a lei”, comenta Dalton.
Imóveis cadastrados concentram mais de 70% da exploração ilegal
No último monitoramento, em relação ao total explorado sem autorização, as áreas protegidas concentraram 5,8%, sendo 5,3% nas terras indígenas e 0,5% nas unidades de conservação. Já os territórios não destinados somaram 9,6% do total.
A maior parte ocorreu dentro de imóveis cadastrados: 13.358 hectares (74,6%). Ou seja: são áreas onde os responsáveis podem ser facilmente identificados e punidos pelo dano ambiental. Assentamentos, com 823 hectares (4,6%), e vazios cartográficos, com 959 hectares (5,4%), completam a lista de territórios com registro de exploração madeireira ilegal.
Em relação aos municípios, os três que tiveram as maiores áreas com a atividade não autorizada foram: Paragominas, com 4.167 hectares (23%); Dom Eliseu, com 2.741 hectares (15%); e Goianésia do Pará, com 1.696. (9%).
Monitoramento cruza imagens de satélite com documentos públicos
Para fazer o estudo, os pesquisadores cruzam imagens de satélite com registros da exploração madeireira com documentos públicos das autorizações para a atividade. No Pará, os dados utilizados para a verificação da legalidade das áreas detectadas foram obtidos por meio do Sistema de Monitoramento e Licenciamento Ambiental (Simlam) da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado (IdeflorBio) e do Serviço Florestal Brasileiro.