Falta de transparência impediu a análise total da legalidade nos mais de 71 mil hectares com extração de madeira identificada no estado
Uma pesquisa inédita apontou que a área com exploração madeireira não autorizada pelos órgãos ambientais no Amazonas correspondeu, pelo menos, a 18 mil campos de futebol em apenas um ano. Problema que pode ser ainda mais grave, pois a falta de acesso aos dados públicos impediu a análise da legalidade nos 71 mil hectares com extração de madeira identificados no estado no período estudado, entre agosto de 2019 e julho de 2020.
Baseado em imagens de satélite, o levantamento foi publicado nesta sexta-feira (08) pela Rede Simex, integrada por quatro organizações de pesquisa ambiental: Imazon, Idesam, Imaflora e ICV. Segundo o estudo, no período analisado, 71.091 hectares de floresta tiveram exploração madeireira no Amazonas, sendo pelo menos 18.992 hectares (26%) em locais não permitidos, como terras indígenas e unidades de conservação de proteção integral.
Apenas em territórios indígenas, a extração de madeira atingiu 9.576 hectares, o que corresponde a mais de 9 mil campos de futebol. Localizada no sul do estado e atravessada pela rodovia BR-230 (Transamazônica), a Tenharim Marmelos foi a terra indígena mais explorada, com 6.330 hectares, 66% de toda a extração de madeira identificada em territórios indígenas amazonenses.
Nas unidades de conservação de proteção integral, onde a retirada de madeira também não é permitida, foram explorados 9.416 hectares, sendo 7.316 deles (78%) apenas no Parque Nacional dos Campos Amazônicos. A área protegida também é localizada no sul do Amazonas, entre trechos dos rios Roosevelt, Branco, Madeirinha Guaribas e Ji-Paraná.
Em relação aos municípios, a pesquisa também revelou que a região sul foi a mais afetada. A área tem sido impactada pelo avanço de uma nova fronteira agrícola na Amazônia, com florestas sendo alvo de desmatamento e degradação florestal.
“No Sul do Amazonas, as cidades de Manicoré, Novo Aripuanã e Lábrea lideram o índice dos municípios com maior exploração madeireira, somando 51.781 hectares, 73% de toda a área com exploração madeireira no estado. São dados alarmantes, que indicam a necessidade de aumento da fiscalização e de medidas mais rígidas contra a exploração madeireira ilegal”, comentou Tayane Carvalho, pesquisadora do Idesam.
Falta de transparência impediu análise da legalidade
A falta de acesso dos pesquisadores a documentos oficiais do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), responsável pelo licenciamento de Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) no estado, impossibilitou a checagem da legalidade das áreas exploradas.
“Considerando que o cenário mais preocupante da extração madeireira está localizado no sul do Amazonas e principalmente considerando os volumes da exploração madeireira observadas em TIs e UCs, nesse território, pode-se inferir que há um indício de ‘esquentamento’ da madeira, o escoamento ilegal. Por isso, é preciso realizar estudos mais aprofundados para confirmar possíveis fraudes, o que só será possível quando tivermos acesso aos dados públicos, especialmente de movimentação madeireira. É uma situação extremamente preocupante, que necessita da dedicação urgente por parte do poder público”, alerta o pesquisador Pablo Pacheco, do Idesam.
Degradação – A exploração madeireira pode provocar a degradação florestal, que é um dano ambiental diferente do desmatamento. Na degradação, a floresta é continuamente empobrecida por distúrbios, como no caso da retirada de madeira sem planos de manejo. O empobrecimento da floresta ocorre com a redução da biomassa florestal, da biodiversidade e dos estoques de madeira comerciais. Já o desmatamento é quando ocorre o chamado “corte raso”, a remoção completa da vegetação, que pode ser feita com objetivo de converter a área em pastagem, lavoura ou garimpo, por exemplo.
Sobre a Rede Simex – Integrada por pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e do Instituto Centro de Vida (ICV), foi formada para que o Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), que já era realizado no Pará e Mato Grosso, pudesse ser ampliado para outros estados da Amazônia.