por Danielle Celentano, Andreia Pinto e Miguel Calmon
Todos os anos, a floresta Amazônica aparece sob os holofotes da opinião pública nacional por conta da perda de cobertura florestal e graves incêndios florestais. O desmatamento de fato precisa ser controlado. Mas não só de destruição que vive o bioma. Pelo contrário. Um outro movimento feito por produtores, empresas, organizações e governos acaba passando despercebido: a restauração de florestas e paisagens.
A Amazônia tem hoje uma grande oportunidade econômica, social e ambiental a partir da restauração de suas áreas degradadas. E já existe gente no campo fazendo essa restauração acontecer. Um levantamento identificou 2,7 mil iniciativas de restauração em toda a Amazônia brasileira, somando uma área total de 113 mil hectares.
Esse levantamento foi produzido por uma importante coalizão que envolve múltiplos setores e instituições, e espera auxiliar produtores rurais e população local a restaurar a região, com melhoria de índices ambientais, sociais e econômicos na Amazônia. Trata-se da Aliança pela Restauração na Amazônia, um grupo formado em 2017 que une empresas, governos, academia e sociedade civil. O objetivo da Aliança é promover, acelerar e dar escala à restauração florestal na Amazônia Brasileira. Atualmente, ela conta com 80 instituições-membro (10 governamentais, 13 acadêmicas e instituições de pesquisa, 21 empresas e 36 da sociedade civil, incluindo associações). O WRI Brasil é uma dessas instituições.
O levantamento da Aliança mostra que a restauração florestal já é uma realidade no bioma, mas que ainda precisa de incentivos e apoio. Essas iniciativas ainda são pequenas em escala, mas mostram um futuro promissor para a restauração da floresta amazônica. Para ganhar escala, é importante aproveitar todas as estratégias de restauração e reflorestamento possíveis, identificando as melhores oportunidades para cada paisagem.
Restaurar florestas não é apenas plantar árvores. É preciso avaliar com calma cada paisagem, definir quais as melhores estratégias e buscar maximizar os benefícios para a população local. Por isso, a Aliança defende uma abordagem de restauração que integra as muitas estratégias e atores envolvidos. É preciso entender a paisagem como um mosaico de diferentes usos da terra e diferentes intervenções.
Por exemplo, em áreas recém-abertas e próximas de grandes fragmentos florestais, a melhor estratégia para a restauração pode ser apostar numa regeneração natural ou regeneração natural assistida. Essas intervenções são de baixo custo e grande eficiência para recuperar a floresta. Já em áreas com maior aptidão agropecuária, a restauração em sistemas integrados pode fazer a diferença. Modelos como os Sistemas Agroflorestais (SAFs) ou Integração Pecuária e Floresta (iPF), por exemplo, permitem que o produtor rural mantenha sua produção agrícola ao mesmo tempo em que restaura florestas, com a possiblidade de obter renda por meio de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros.
Ao identificar áreas com maior aptidão florestal e outras com maior aptidão para outras atividades, é possível direcionar os esforços e recursos para obter benefícios ecológicos, com a manutenção dos serviços ecossistêmicos (como a qualidade do ar, água e solo), e criar oportunidades econômicas e de desenvolvimento para a população da Amazônia.
Essas estratégias estão explicadas em um position paper publicado pela Aliança chamado “Panoramas e caminhos para restauração de paisagens florestais na Amazônia”. O trabalho também apresenta dez recomendações para acelerar e dar escala à restauração no bioma:
Um detalhamento sobre cada uma dessas ações pode ser encontrado no position paper. O documento está disponível para download neste link.
Além dos benefícios mais evidentes, a restauração de paisagens e florestas pode também ser um trunfo do país para uma recuperação econômica após a pandemia da Covid-19. Uma retomada verde precisa contar com investimentos e incentivos para a restauração na Amazônia. A recuperação de áreas degradadas no bioma pode gerar emprego e renda, consolidar uma economia de base florestal e apontar para uma bioeconomia do futuro, que em vez de desmatar, aproveita os insumos da floresta. A retomada verde pode fazer com que a Amazônia se torne um dos grandes motores econômicos do Brasil no século 21, além de proteger e restaurar a maior floresta tropical do mundo.
*Danielle Celentano é secretária executiva da Aliança, representando também a CI-Brasil; Andreia Pinto é pesquisadora do Imazon; e Miguel Calmon é consultor sênior do WRI Brasil
Originalmente publicado em WRI Brasil
This post was published on 2 de fevereiro de 2021
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