Uma área de floresta amazônica desmatada equivalente a 400 campos de futebol será restaurada por agricultoras e agricultores familiares no Pará. A primeira etapa dessa iniciativa começou no município de Ulianópolis, no Sudeste do estado, com 99 famílias que vivem em assentamentos rurais. Lá, elas já plantaram cerca de 80 hectares com aproximadamente 13,5 mil mudas de árvores nativas e também farão a condução da regeneração natural assistida em outros 300 hectares. Para isso, produtoras e produtores familiares receberam um curso de capacitação em restauração florestal, cuja formatura ocorrerá nesta quinta-feira (11).
Essa ação faz parte do projeto Floresta Para Sempre, do Imazon com apoio do Fundo Amazônia. Além de fornecer o curso, o instituto de pesquisa também apoia os assentados com a doação de mudas e assistência técnica para a restauração florestal. E ainda entrega para cada família um diagnóstico de suas propriedades, para que possam realizar as adequações ambientais, como a recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APPs), e produtivas, como a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), que permitem recuperar a floresta com a geração de renda.
“Para nós da agricultura familiar, esse curso foi muito importante para cuidarmos das APPs e trabalharmos melhor com o plantio. O que causou grande impacto no curso foram os intercâmbios, em que conhecemos propriedades onde já existe o que queremos implantar (SAFs). Além da troca de conhecimento com os professores e moradores de outras comunidades. Isso fez com que a gente entendesse que sozinhos não chegamos a lugar nenhum, precisamos um do outro e juntos somos mais fortes”, conta o agricultor Manoel Batista, um dos formandos.
Nesta primeira turma do curso, chamado de “Formar Restauração Florestal”, 34 agricultoras e agricultores receberão os certificados de participação, o que os credencia como agentes multiplicadores da restauração florestal na Amazônia. Isso porque eles receberam a missão de repassar o conhecimento aprendido sobre a importância e as formas de restaurar a floresta, além de como produzir seguindo o Código Florestal. A cerimônia ocorrerá nesta quinta-feira (11), na escola municipal da comunidade Areia Branca, na área rural de Ulianópolis.
“O que eu mais gostei de aprender no curso foi a questão de poder usar a floresta para plantar frutas que a gente pode utilizar como alimento. Eu pretendo levar esse conhecimento para minha mãe, para que ela possa trabalhar em torno desse reflorestamento. E também para os nossos filhos, para que a gente possa ver isso no futuro na nossa comunidade”, relata a agricultura familiar Andréia Dutra, outra formanda.
Apenas em Ulianópolis, o projeto plantou oito espécies de árvores amazônicas com as quais as famílias podem obter lucro a curto, médio e longo prazo. Em três a quatro anos, elas já poderão ter renda com açaí e a pupunha. Já em quatro ou cinco anos, estarão lucrando também com o cacau, o cupuaçu e o ingá. Em oito anos, com o buriti. E, entre 10 a 15 anos, com a castanha e a andiroba.
“A diversidade de espécies, além de seu valor ambiental, é importante para que as famílias tenham produção e renda ao longo dos anos”, comenta Andréia Pinto, pesquisadora do Imazon e uma das coordenadoras do Floresta para Sempre.
Segundo dados do Imazon, 7,2 milhões de hectares que foram desmatados na Amazônia já estavam em processo de regeneração natural há mais de seis anos em 2019, com o que os pesquisadores chamam de “vegetação secundária”. E, desse total, 5,2 milhões de hectares (73%) estão em locais classificados como “de baixa aptidão agrícola”, ou seja, que não concorrem com o plantio de grãos. Por isso, essas áreas precisam ser protegidas e, de preferência, usadas para projetos de regeneração natural assistida, quando interferimos no processo para acelerá-lo e garantir sua efetividade.
O pesquisador do Imazon Paulo Amaral, que também coordena o Floresta para Sempre, alerta que essa restauração deve ser pensada a médio e a longo prazo, já que existem diversas formas em que a vegetação reage entre si e com elementos externos. Além disso, observa que é uma decisão das agricultoras e dos agricultores de recuperar, cuidar e manter suas áreas florestais. Por isso, eles precisam ser sensibilizados sobre a importância dessa ação e treinados para realizá-la da melhor maneira na prática.
“As novas políticas estabelecidas pelo atual governo, como o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), favorecem que o incentivo ao reflorestamento seja muito mais incisivo. Esse tema precisa estar pautado nas agendas econômicas, produtivas, de políticas públicas e, principalmente, na socioambiental”, completa Amaral.
Criado em 2018, o Floresta para Sempre trabalha atualmente com 136 famílias moradoras de assentamentos da reforma agrária de municípios que foram muito atingidos pela derrubada florestal: Ulianópolis, Paragominas e Capitão Poço, todos no Sudeste do Pará. No total, eles irão restaurar 400 hectares de áreas degradadas nessas três cidades.
Além das atividades com as agricultoras e os agricultores familiares, o projeto também desenvolve outras ações nas comunidades atendidas. Um exemplo é a “Sala Floresta”, um Sistema Agroflorestal (SAF) implantado dentro da Escola Municipal Areia Branca, na comunidade Areia Branca, na área rural de Ulianópolis. Além de reflorestar uma área degradada e fornecer alimentos, o local também servirá como espaço de aprendizado.
Formatura em restauração florestal
Data: 11/05 (quinta-feira)
Horário: 16h
Local: Escola Municipal da Comunidade Areia Branca, no município de Ulianópolis/PA
Conheça mais sobre o projeto Floresta para Sempre aqui
This post was published on 10 de maio de 2023
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