Amazônia perde por ano 350 km² de superfície de água, revela estudo com imagens de satélite (Publicado pelo Estadão)

Por Giovana Girardi. Publicado originalmente pelo Estadão

Análise feita com imagens de satélite similar à usada para medir desmatamento mostra redução da área úmida nos últimos 30 anos; fatores como mudanças do clima, desmatamento e construção de hidrelétricas afetam dinâmica de cheias na região

Imagens de satélite mostram ano a ano a redução que a Floresta Amazônica vem sofrendo por causa do desmatamento. Agora elas começam a revelar também um outro impacto sobre a região – a redução de superfície de água. A Amazônia, aos poucos, está secando. Em 33 anos, foram perdidos, em média, 350 km² de superfície de água por ano.

Os dados foram revelados a partir da análise de imagens de satélite feitas da região entre 1985 e 2017 compiladas pelo projeto MapBiomas, iniciativa multi-institucional que investiga as transformações do território brasileiro a partir desse tipo mapeamento. O trabalho, feito por pesquisadores das ONGS WWF-Brasil e Imazon, também conta com apoio da ferramenta Google Earth Engine.

As imagens mostram que nesse período a dinâmica natural dos rios da região mudou. “O problema não é só a perda total de superfície, mas entender onde isso está acontecendo. Os rios têm sua dinâmica de inundação e seca. Existe uma variação natural, com anos mais cheios e anos mais secos, mas temos visto que não tem ocorrido a recuperação após uma temporada mais seca”, explica Bernardo Caldas de Oliveira, especialista em conservação do WWF-Brasil.

“São justamente as várzeas as regiões mais sensíveis que estão sendo mais afetadas, elas estão deixando de ter água”, diz. Essas regiões são importantes para a reprodução de peixes e outras espécies. É nas praias formadas por esse movimento da água onde as tartarugas colocam seus ovos, por exemplo.

O levantamento apontou que a partir da grande seca registrada na Amazônia em 2010, onde essa dinâmica natural é mais forte – como as planícies de inundação às margens dos grandes rios, as áreas de várzea e lagoas que se formam com o pulso de cheias e vazantes dos rios – a redução da superfície de água é maior. “É como se a capacidade de resiliência dessas áreas tivesse sido quebrada”, diz Oliveira.

“São locais que passaram a ficar mais expostos”, afirma Carlos Souza Jr, pesquisador do Imazon e primeiro autor do trabalho, publicado na revista Water. A pesquisa será divulgada nesta sexta-feira, 22, por ocasião da comemoração do Dia Mundial da Água.

Fatores conectados

De acordo com os pesquisadores, uma série de fatores combinados pode estar contribuindo para essa situação, como as mudanças climáticas, a própria perda de vegetação, a construção de hidrelétricas e o avanço da agricultura nas cabeceiras de bacias, além de outras alterações na paisagem produzidas pelo homem, como a construção de açudes e pequenas barragens ou bebedouros para os animais.

Intercâmbio entre água e terra detectado entre 1991 e 2017. Os pontos em laranja representam áreas que mudaram de água em 1991 para a terra em 2017 e os azuis são mudanças de terra para a água no mesmo período. No painel B, as mudanças de terra para água por conta da construção da barragem de Belo Monte e de água para terra ao longo dos rios que tiveram o fluxo de água desviado pela construção; em C, mudança de água para terra em planícies aluviais ao longo de lagos e rios. Crédito: WWF e Imazon

“A gente já tinha bons indícios relacionando essas mudanças com impactos aos ecossistemas aquáticos, mas não tínhamos ideia da dimensão do problema”, afirma Souza Jr. O que o trabalho revela é que a perda de vegetação e outras alterações antrópicas estão conectadas com os ambientes aquáticos.

“Normalmente a gente fala de Amazônia do ponto de vista do desmatamento e dos ambientes terrestres. Nesse estudo estamos mudando a perspectiva. A floresta está diminuindo e isso está resultando em impactos na superfície da água. Em outras palavras, a Amazônia está secando visivelmente. Dependendo de como vamos usar o solo, isso vai impactar os recursos hídricos”, complementa Oliveira.

O mapeamento permite observar também o que é corpo d’água natural e o que são obras humanas. “Conseguimos identificar áreas de preservação permanente (APPs) transformadas em bebedouros ou tanques para aquicultura. Observamos mais de 50 mil mini-represas ao longo do arco do desmatamento. Obras que precisam ser licenciadas, locais que precisam ser recuperados. A ferramenta ajuda a reconhecer o problema e mostra o desafio de recuperar essas áreas”, diz Souza Jr.

Leia aqui a reportagem completa no site do Estadão

Leia aqui o artigo que deu origem à reportagem

This post was published on 22 de março de 2019

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