A floresta amazônica perdeu somente nos três primeiros meses deste ano uma área equivalente ao território de Salvador, a 15ª maior capital do país. Conforme dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), foram devastados 687 km², o segundo maior acumulado para o período em 15 anos — desde que a instituição iniciou seu monitoramento por imagens de satélite, em 2008.
O primeiro trimestre só não foi pior do que no ano passado, quando a derrubada da floresta chegou aos 1.185 km². Na comparação com 2021, o acumulado deste ano foi 42% menor. Isso porque, embora o instituto tenha registrado aumento no desmatamento em janeiro e em fevereiro, em março houve uma queda de 85%: a devastação passou de 810 km² em 2021 para 123 km² em 2022. Porém, pesquisadores alertam que é muito cedo para celebrar.
“Essa redução ainda não é um motivo de comemoração, pois em breve entraremos no período seco, onde historicamente a derrubada da floresta tende a ser maior. O fato de termos no trimestre de 2022 a segunda maior área desmatada em 15 anos nos mostra que o desmatamento ainda segue em ritmo intenso na Amazônia”, ressalta Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
Cenário que é extremamente preocupante diante da emergência climática que vivemos, segundo o relatório publicado neste mês pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU). Assinado por 278 cientistas de 65 países, o documento afirma que o mundo precisa reduzir pela metade a emissão de gases de efeito estufa ainda nesta década. Caso contrário, fenômenos extremos ficarão mais frequentes e intensos, como as chuvas que causaram mortes e destruições na Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, e como as secas vividas no Sul e no Centro-Oeste, que já provocaram quebras nas safras e aumento no preço dos alimentos.
“A mudança no uso da terra é o setor que mais emite esses gases no Brasil atualmente, principalmente por causa do aumento no desmatamento. Por isso, o país precisa priorizar ações de combate e controle da derrubada da floresta para redução das emissões”, explica a pesquisadora.
Em março, 46% de todo o desmatamento registrado na Amazônia ocorreu em Mato Grosso: 57 km². Esse foi o terceiro mês consecutivo em que o estado liderou o ranking na região. Além disso, metade dos 10 municípios que mais desmataram ficam em solo mato-grossense: Nova Ubiratã, Juara, Feliz Natal, Porto dos Gaúchos e Juína. Juntos, eles somaram 35 km² de floresta derrubada, 61% do registrado no estado.
Em segundo lugar ficou o Pará, com 27% da derrubada da Amazônia, 33 km². Desse total, 21% (7 km²) foram registrados apenas dentro de duas unidades de conservação, a APA Triunfo do Xingu e Flona do Jamanxim. Elas foram as áreas protegidas com maior derrubada na floresta em março, 5 e 2 km², respectivamente.
“Num estado do tamanho do Pará, o segundo maior do país, ter mais de 20% do desmatamento dentro de dois territórios protegidos é muito preocupante, pois são áreas destinadas à conservação dos recursos naturais. Por isso, é necessário intensificar as ações de fiscalização”, alerta a Amorim.
O terceiro estado com maior desmatamento em março foi Roraima, com 11% (13 km²), sendo 62% (8 km²) apenas no município de Rorainópolis. Em quarto ficou o Amazonas, com 10% (12 km²), todos registrados em apenas um município: Lábrea, no sul do estado. “Esse é um município que já vinha apresentando altos percentuais de desmatamento no Amazonas desde o ano passado. Ele fica na região da divisa com o Acre e com Rondônia, em uma área de expansão agropecuária chamada Amacro, onde a derrubada da floresta está em um ritmo alto”, completa a pesquisadora.
This post was published on 14 de abril de 2022
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