Hidrelétrica no Pará será a segunda maior do país em geração de energia. Até 175 km² de florestas serão suprimidos; empreendedor promete replantio.
A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, pode ser responsável pelo desmatamento de até 175 km² de florestas da Amazônia, uma área equivalente ao tamanho da cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, que tem 167 km² de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O G1 esteve em Altamira, cidade-sede da obra, nos dia 26, 27 e 28 de julho e publica entre esta quarta-feira (24) e domingo (28) reportagens sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O G1 acompanhou equipe do Jornal Nacional na cidade. Veja no vídeo a primeira reportagem do JN sobre a usina, exibida na terça (23).
A obra da hidrelétrica de Belo Monte é a maior em andamento no Brasil. A usina será a segunda do país em capacidade de geração de energia, atrás apenas da binacional Itaipu. O governo diz que Belo Monte é essencial para suprir a demanda energética do país em razão do crescimento econômico e, por isso, persiste na construção da usina apesar de todos os questionamentos dos impactos socioambientais.
A constução da hidrelétrica foi autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mesmo sem os dados precisos do tamanho da área que será desmatada. A Norte Energia, empresa responsável pela obra – o governo é dono de cerca de 50% da empresa –, diz que ainda está sendo feito um levantamento da área de supressão vegetal e da quantidade de mata que será replantada.
Segundo estimativa de Antonio Neto, gerente de Gestão Ambiental da Norte Energia, podem ser suprimidos entre 30 mil e 35 mil hectares de vegetação (um hectare equivale a 0,01 km²), dos quais entre 40% e 50% são florestas – o restante são pastos ou áreas já desmatadas. Isso representa uma área entre 300 km² e 350 km², sendo que entre 120 km² e 175 km² são florestas.
A área a ser desmatada é a soma das obras de infraestrutura na região para que a usina possa ser construída, como abertura de estradas e construção de acampamentos, mais a área que será alagada pelos reservatórios da hidrelétrica.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Pará foi o estado que mais desmatou em junho. Em relação a maio, houve um aumento de 82,5% na área de desmatamento detectada. No entanto, o instituto não fez nenhuma relação entre o desmatamento e a obra da usina.
A Norte Energia afirma que as florestas suprimidas para a construção da usina são “antropizadas”, ou seja, já sofreram a ação do homem. Ainda de acordo com o gerente da Norte Energia Antonio Neto, haverá replantio como compensação.
“Estamos fazendo um inventário florestal justamente para fazer o levantamento de quanto será extinto de floresta. Na verdade, muita dessa área já era pasto. Pode-se ter certeza de estamos tendo o maior cuidado com a vegetação e os animais, e que essa obra tem o componente ambiental acima de qualquer coisa”, afirmou Antonio Neto.
O G1 acompanhou o trabalho de derrubada de mata em estrada que dá acesso aos futuros acampamentos de trabalhadores e à Transamazônica, principal rodovia da região. A estrada está sendo ampliada, conforme a Norte Energia, para que caminhões e equipamentos possam passar pelo local.
O desmatamento é feito com tratores e motosserras e também manualmente, com foices e facões. Enquanto o desmate é realizado, biólogos atuam no local para afugentar os animais para outras áreas de floresta que não serão desmatadas ou resgatá-los para tratamento.
Diariamente, de acordo com o biólogo Flávio Cardoso Poli, são encontrados de 25 a 30 animais nas áreas desmatadas. Os bichos mais capturados são sapos e cobras, mas também foram registrados casos de tatus, tamanduás e bichos-preguiça. “Muito bicho sai só com o barulho, por instinto de sobrevivência. Não registramos nenhum caso de perda de animais”, disse Poli.
Uma das condicionantes determinadas pelo Ibama para a construção da usina foi a construção de uma base de resgate de animais, que está em fase de conclusão pela Norte Energia.
Sociedade civil
Para o empresário Vilmar Soares, que coordena o Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental da Transamazônica e Xingu (Fort Xingu), a área a ser desmatada para a usina não é uma preocupação, uma vez que representa pouco –– cerca de 0,1% – da área de Altamira, o maior município brasileiro em extensão territorial, com quase 160 mil km², cem vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
“A usina vai gerar desmatamento em uma área pequena. E, além disso, vai ser compensado com a geração de energia para o Brasil e o desenvolvimento de Altamira”, diz o empresário.
O procurador da República em Altamira Cláudio Terre do Amaral discorda. Para ele, além da “grande preocupação” com o desmatamento em razão da obra, há ainda o aumento populacional. O MPF tem, em andamento, 13 ações na Justiça contra a obra – 11 ações civis públicas e duas ações de improbidade administrativa.
“Altamira chegou a ser campeã de desmatamento este ano, obviamente por causa de Belo Monte. E esse impacto do projeto sobre o desmatamento era uma das grandes lacunas dos estudos de impacto ambiental, porque não haviam projeções para o crescimento do desmatamento com o fluxo migratório atraído pela obra.”
Conforme o procurador, o MPF tem dados da organização ambiental Imazon que apontam que o desmatamento indireto causado por Belo Monte, “no melhor dos cenários, pode ser de 800 km² e, no pior dos cenários, de mais de 5 mil km²”.
Madeira
Um dos pontos polêmicos relacionados ao desmatamento em Altamira é a destinação da madeira retirada. Conforme a Norte Energia, como concessionária da obra, a empresa é também a dona do material retirado.
“Ainda está sendo estudado o que será feito. A madeira pode ser vendida ou utilizada na obra”, disse Antonio Neto, da Norte Energia.
O Fort Xingu, entidade que reúne empresários da região, diz que é necessário um “debate mais amplo” sobre a destinação da madeira. Uma das opções, sugere a entidade, seria efetivação de parceria com indústrias madeeiras da região, que estão paradas por falta de matéria-prima. “Estas empresas têm capacidade de produzir de forma sustentável, gerando emprego e renda”. A entidade acrescenta ainda que, caso não haja diálogo com a sociedade civil, há risco de “questionamentos das decisões” tomadas pela Norte Energia.
Fonte- G1 (24.08.2011)
This post was published on 1 de agosto de 2013
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