Plataforma MapBiomas Água Países Amazônicos é lançada nesta quarta-feira (20)

Os países amazônicos estão à beira de uma mudança drástica em sua superfície hídrica, segundo dados obtidos pela nova plataforma de monitoramento MapBiomas Água Países Amazônicos, lançada nesta quarta-feira, dia 20.

A média histórica de superfície de água nesta vasta região no período entre 2000 e 2022 é de 25,4 milhões de hectares (Mha). Mas na última década, todos os países amazônicos tiveram redução da superfície de água. Ao comparar a média da última década com a média histórica do período, foram perdidos 1 milhão de hectares de superfície de água nos nove países amazônicos. Isso apesar do ganho de 747 mil ha (em relação à média histórica) registrado em 2022 e que elevou a área total de superfície de água para 26,2 Mha, representando 2% do território analisado.

O Brasil foi o maior responsável por esse ganho registrado em 2022: foram 910 mil ha de superfície de água a mais identificados no ano passado em relação à média histórica de 17,9 Mha de superfície de água. Os 18,8 Mha contabilizados em 2022 no Brasil representam 72% do total da superfície de água dos países amazônicos.

O ganho de superfície de água no Brasil em 2022 é superior a mais de quatro vezes o total da superfície de água existente no Equador no ano passado (227 mil ha). Em contrapartida, quem mais perdeu superfície de água nesse intervalo foi o Peru: 124 mil ha, perda relativa de 7% em relação a sua média histórica (1,8 Mha).

De forma geral, no entanto, os nove países amazônicos passaram por uma série de transformações críticas em seus recursos hídricos nas últimas duas décadas que resultaram em uma tendência generalizada de retração na superfície de água. Para Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela, o intervalo entre 2013 a 2021 foi identificado como o período com menor superfície de água na série histórica analisada.

“Na nossa região há três países que apresentaram uma redução da sua superfície de água durante todo o intervalo entre 2000 e 2022, que são Equador, Peru e Bolívia. Os outros seis países apresentaram um período de aumento e outro de redução de superfície de água em relação a média histórica, que ocorreu entre 2013 e 2021, com tendências semelhantes, mas de magnitude variável”, informa Eva Mollinedo, da Fundación Amigos de la Naturaleza (FAN-Bolivia) e integrante da equipe MapBiomas Água Países Amazônicos.

A redução da superfície da água também fica evidente numa tendência sustentada de derretimento glacial que, entre 1985 e 2022, levou à perda de uma área de 184 mil hectares de geleiras, o que equivale a 56% da área detectada em 1985. Todos os países andinos sofreram perda de geleiras neste período. A maior extensão foi no Peru, que perdeu 115 mil hectares; enquanto a Venezuela, o país com menor cobertura glacial, sofreu a maior perda relativa a 97% (82 hectares).

“Esta diminuição pode impactar economicamente as populações dos Andes tropicais, com efeitos na agricultura, no abastecimento de água potável e na integridade dos ecossistemas”, segundo Juliano Schirmbeck dae Geokarten (Brasil) e integrante da equipe MapBiomas Água Países Amazônicos. “As geleiras tropicais sofreram perdas em sua área, em resposta ao aumento da temperatura causado pela aceleração das mudanças climáticas globais. Essas geleiras tropicais são consideradas uma espécie de ‘termômetro’ da Terra, já que sua expansão ou redução está intimamente relacionada com o clima global”, completa.

“Tudo isto agrava problemas de saúde e as dificuldades de acesso aos alimentos, o que prejudica de forma mais intensa as populações com menos recursos econômicos. Essa diminuição da superfície da água contribui para a proliferação de incêndios florestais e emissões de gases com efeito de estufa, o que afeta tanto a biodiversidade como as comunidades locais”, afirma Carlos Souza Jr., do Imazon-Brasil e integrante da equipe MapBiomas Água Países Amazônicos.

Sobre o MapBiomas Água Países Amazônicos

A iniciativa MapBiomas Água Países Amazônicos foi desenvolvida de forma colaborativa por organizações da sociedade civil da região que conhecem a fundo as particularidades de seus respectivos países: membros da RAISG no Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. A interpretação dos dados é realizada de forma participativa, ajustando a metodologia para chegar a um produto padronizado para a região. É a primeira vez que a cobertura do mapeamento de superfície de água foi ampliada para abranger todos os países amazônicos.

O projeto MapBiomas Água desenvolveu uma série de mapas que documentam retrospectivamente a superfície da água nos países amazônicos entre 2000 e 2022. Esses mapas usam imagens de satélite e técnicas de aprendizado de máquina para identificar pixels de água com alta precisão. O uso de tecnologia avançada, como o Google Earth Engine, permitiu a criação do primeiro conjunto de dados de águas superficiais que abrange todos os países amazônicos. A detecção de água é baseada em métodos de classificação em nível de subpixel, com uso de lógica difusa, árvores de decisão e procedimentos de pós-classificação. Estes dados mensais e anuais oferecem uma compreensão inédita e detalhada da dinâmica da água na região.

 

 


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