Os impactos cada vez mais evidentes das mudanças climáticas torna o combate ao desmatamento na Amazônia prioridade nacional e global. Em 2023, se o ritmo da derrubada não for interrompido, a floresta pode perder mais 11.805 km² de mata nativa, conforme estimativa da plataforma de inteligência artificial PrevisIA. Do tamanho de quase 10 cidades do Rio de Janeiro, a devastação prevista causará ainda mais emissões de gases do efeito estufa, que estão relacionados com a maior frequência e intensidade de fenômenos climáticos extremos. Entre eles estão chuvas fortes, ondas de frio e de calor e secas prolongadas.
Desenvolvida pelo Imazon em parceria com a Microsoft e o Fundo Vale, a ferramenta já mostrou uma assertividade de quase 80% na previsão de desmatamento em 2022, o que a consolida como uma tecnologia relevante para auxiliar nas ações de proteção à floresta. Para validar o quanto a PrevisIA acertou, os pesquisadores cruzaram as áreas que a plataforma previu estarem sob risco de derrubada entre agosto de 2021 e julho de 2022 com a devastação registrada pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon no mesmo período. E o resultado foi que 78,2% da destruição ocorreu em até 4 km do indicado pela plataforma.
Ou seja: em 2023, ela pode ser usada para direcionar as ações de combate ao desmatamento para as áreas sob maior ameaça e ajudar a evitar que a previsão se concretize novamente.
“Desde o lançamento da PrevisIA, em 2021, nós estamos repetindo que queremos errar a previsão, porque nosso objetivo é que essa tecnologia seja usada para evitar que o risco de derrubada vire realidade. É para isso que trabalhamos a cada ano para aprimorar a ferramenta. Em uma região tão extensa como a Amazônia Legal, poder direcionar as ações de fiscalização para os pontos sob maior risco pode torná-las mais eficazes com menor gasto público”, afirma Carlos Souza Jr., pesquisador do Imazon.
Caso se concretize, a estimativa da plataforma é que 2023 tenha o segundo maior desmatamento desde 2008, atrás apenas de 2021. Assim como o Prodes, sistema federal que monitora anualmente a derrubada na Amazônia, o cálculo de risco da PrevisIA leva em conta o chamado “calendário do desmatamento”, que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte.
Entre os nove estados que compõem a Amazônia Legal, os mais críticos em relação ao risco de desmatamento em 2023 são os três maiores: Pará, Amazonas e Mato Grosso. Somados, eles representam 73% da área sob ameaça de derrubada em 2023 (8.582 km²), conforme a PrevisIA. Isso significa que os governos estaduais também precisarão agir para evitar que essa estimativa seja concretizada.
Em seguida está o Acre, que apesar de ser o segundo menor estado da Amazônia Legal apresentou a quarta maior área sob risco de derrubada na PrevisIA: 1.269 km². Já o quinto maior território sob ameaça fica em Rondônia, 1.094 km², estado que assim como o Acre também faz divisa com o Amazonas. No mapa da ferramenta, é possível ver que as florestas sob maior risco nesses estados estão justamente em suas divisas, onde há uma área de expansão agropecuária chamada “Amacro”.
Além dos estados, a PrevisIA também aponta os municípios com as áreas de floresta sob maior risco de devastação em 2023. Entre os 10 primeiros, metade está no Pará.
“O nível de detalhamento com que os dados da plataforma são apresentados possibilita criar ações em pontos estratégicos de grandes cidades, como por exemplo Altamira, no Pará. Com isso, em uma futura política de combate ao desmatamento, ao invés de colocar o município todo em alguma lista de embargo, o que prejudicará a economia da cidade, pode-se atuar apenas nas áreas mais ameaçadas”, explica Souza Jr.
Das 803 áreas protegidas da Amazônia (terras indígenas, unidades de conservação e territórios quilombolas), 653 estão sob risco de desmatamento em 2023, conforme a PrevisIA. Isso representa 81% de todos os territórios protegidos. Já em relação à área total sob risco na Amazônia, 1.806 km² (15%) estão dentro de áreas protegidas.
As mais ameaçadas são as unidades de conservação, onde 1.357 km² de floresta correm risco de serem derrubados. Em seguida estão as terras indígenas, com 433 km², e os territórios quilombolas, com 16 km².
This post was published on 29 de dezembro de 2022
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