Empreender com a floresta em pé

Um negócio na área de fertilizantes, com uma rotina de atendimento de 300 a 500 consumidores, é hoje projeto de carreira do agrônomo Charles Brito, do município de Capitão Poço, que em 2017 se graduou pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), e viu sua pesquisa se transformar em realidade. “Vi que minha ideia de negócio se encaixava, e no programa conheci como trabalhar clientes e produtos. O projeto foi essencial para entrar no mercado”, conta Charles, que atua na área de bio e nanotecnologia. Ele foi um dos primeiros  jovens empreendedores a participarem do programa Amazônia Up, iniciativa do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, que de forma gratuita desenvolve ideias locais com formação de pré-aceleração de negócios sustentáveis com apoio de parceiros, e está recebendo inscrições de novos interessados até o dia 15 de outubro.

Comprovando na prática que é possível empreender com a  floresta em pé, o programa está na quarta edição, e já detém o título de o maior programa de pré aceleração da Amazônia. Em 2017 foram pré-aceleradas 10 ideias, em 2018 foram 13 projetos, e no ano passado 17, envolvendo mais de 150 empreendedores e um público de mais de 500 pessoas nos eventos de apresentação das startups e seus protótipos. Com um projeto mais robusto, os empreendedores conseguem acessar com  mais facilidade as incubadoras de empresas de inovação. 

A divulgação dos selecionados será no dia 29 de outubro, com 22 projetos para um processo de trocas e conversas em torno de ideias que promovam negócios economicamente viáveis, resguardando a floresta amazônica. O programa quer aumentar os negócios sustentáveis, com inovação, agregação de valor e baixo carbono. Tem como perfil ampliar o empreendedorismo dos jovens em negócios sustentáveis, aproximando empreendedores, empresas, investidores, instituições de ensino e pesquisa, instituições de crédito e outros.

A iniciativa tem a fase de inscrições e a seleção, que se estendem até o fim de outubro, quando iniciam a fase de transformação, e a culminância das ideias. Eduardo Rezende, coordenador do Amazônia Up, explica que os selecionados participam de uma pré-aceleração de suas ideias de negócios, com mentorias específicas em parceria com entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a aceleradora Amazônia B, Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade e muitos outros, além de material completo de formação: ferramentas necessárias para fomentar a inovação. Serão até 80 horas de conteúdo, incluindo lives dos grupos, dentro de até dois meses de programação.

“O Amazônia Up é um programa de pré-aceleração de ideias de negócios com foco em floresta e biodiversidade, e as melhores ideias passam por uma bateria de mentorias e workshops para que se tornem modelos de negócios validados, com protótipos prontos para se tornarem uma empresa”, explica Raphael Medeiros, diretor executivo da entidade. Como resultado dessa troca, o programa prevê para finalização do ciclo o Demo Day, que é o momento de apresentação dos modelos de negócios validados para o ecossistema de empreendedorismo sustentável na Amazônia.

Conectados

Especialistas em negócios na Amazônia e os encontros periódicos continuam sendo marca do programa, que no atual contexto de pandemia se adequaram ao formato on-line. “Nesses tempos o EAD (Ensino à Distância) foi muito usado, e pensamos em diversas formas de implementar com aderência, sem perder o calor humano que traz  o projeto”, diz Eduardo. Para participar, as equipes devem ter pelo menos um estudante em sua formação, cursando a partir do Ensino Médio até recém formados no nível universitário. Eduardo explica que já nas edições anteriores a iniciativa reuniu inscritos não apenas da capital Belém, mas de outras cidades paraenses de Juruti, Barcarena, Paragominas, Santarém, ou mesmo de outros estados – Acre, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, entre outros – e que o formato web permitirá maior alcance, transpondo possíveis fronteiras geográficas. “Mais do que um programa de aceleração, esse foi um programa de encontro humano”, fala José Matos, da Natura, que participou de uma das edições.

O potencial de oportunidades tem se mostrado em diversas cadeias produtivas, de acordo com o desenvolvimento econômico no estado, como cacau, pesca sustentável, mel, sementes, açaí, turismo, gastronomia, biotecnologia, sistemas agroflorestais, produtos florestais não-madeireiros, sociobiodiversidade, pecuária verde, agricultura sustentável, economia criativa, moda sustentável, energia renovável, economia circular.

Empreendedorismo

O Centro de Empreendedorismo da Amazônia é uma associação da sociedade civil sem fins lucrativos cujo objetivo é atuar na promoção e articulação de negócios sustentáveis na Amazônia. Atua na formação, capacitando empreendedores com foco em negócios sustentáveis nas áreas florestal, de biodiversidade e de uso do solo na Amazônia. Realiza e apoia a programas de pré-aceleração e aceleração para impulsionar negócios sustentáveis na Amazônia – especialmente na área rural – por meio de parcerias, agências de fomento, empresas privadas, universidades, organizações socioambientais, associações, cooperativas de pequenos produtores rurais, entre outros.

Para realizar um projeto como o Amazônia Up, por exemplo, são conectadas mais de  20 instituições de diversos campos. “O Centro não faz nada sozinho, ele atua em rede”, afirma Raphael.

O Centro desenvolve ainda o programa Despertar, de educação e formação de jovens empreendedores socioambientais voltados para a promoção do desenvolvimento sustentável da Amazônia. A metodologia das oficinas, baseada nos conceitos de vanguarda de design thinking, canvas, jornada do herói – pensamento de Joseph Campbell, e psicologia positiva, permite uma imersão nas dimensões social, econômica, ambiental e étnico-cultural da Amazônia a partir das cadeias produtivas da floresta, biodiversidade, agricultura sustentável e economia criativa. Ao todo, mais de 600 jovens já participaram da iniciativa.

A atuação do Centro está voltada para um aumento expressivo dos negócios sustentáveis na Amazônia e desenvolvimento de cadeias locais de valor que possam atuar decisivamente na redução do desmatamento, na melhoria o progresso social da região e no desenvolvimento das comunidades locais.

  • Serviço:

As inscrições são gratuitas para o programa Amazônia UP se estendem até o dia 15 de outubro,  de forma on-line. Acesse centroamazonia.org.br/amazoniaup/ para se inscrever e obter mais informações, e acompanhe também pelas redes sociais @centroamazonia. O resultado da seleção será no dia 28 de outubro.

Apoio:

Imazon, Sebrae, Semas, Amazônia B, 4 Advisory,  Certi, M&D, Sol, Idesam, Unama, Única Dol, Universitec, Connecta, Planta.

This post was published on 30 de setembro de 2020

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