As mudanças climáticas têm se tornado uma realidade desafiadora, com impactos socioeconômicos e ambientais profundos no Brasil. Entre os efeitos mais visíveis estão secas severas e enchentes, que não só devastam comunidades e ecossistemas, mas também têm consequências econômicas significativas, como a alta da inflação. E se o país quiser mantê-la dentro da meta, precisa assumir que esse desafio exigirá muito mais do que políticas fiscais, como o controle de gastos públicos. Precisamos de mudanças nas atividades econômicas que mais contribuem para as emissões de poluentes que causam os extremos climáticos e seus desdobramentos inflacionários.
Por ser formado pelo aumento no custo de produtos e serviços, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a “inflação oficial” do Brasil, é altamente dependente do clima. Quando secas, enchentes ou geadas estragam lavouras, o valor dos alimentos sobe, aumentando a inflação. E com menos chuvas para os reservatórios das hidrelétricas, o custo da energia cresce. O que impacta não apenas a nossa conta de luz, mas também a de todas as indústrias e estabelecimentos comerciais. E com a energia mais cara, essas empresas aumentam o valor de seus produtos e serviços, sendo outra contribuição climática para a inflação elevada.
O próprio Banco Central já assumiu essa relação direta entre clima e inflação. Em 2024, por exemplo, a estiagem contribuiu para o aumento no preço de vários alimentos, principalmente das carnes, cuja alta foi de 20,84%. Além disso, as enchentes também impactaram no crescimento da inflação devido à destruição de lavouras e prejuízos logísticos. Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o IPCA de 2024 foi de 4,83%, superando o teto da meta, de 4,5%.
Por isso, quanto mais emitirmos gases de efeito estufa, como o carbono e o metano, responsáveis pelo agravamento das mudanças climáticas, pior será a nossa inflação. Relatórios do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), assinado por centenas de cientistas de todo o mundo, já vinham alertando que quanto maior fosse o aquecimento global, mais frequentes e mais intensos seriam os fenômenos extremos.
Neste mês, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou que 2024 foi o ano mais quente já registrado. E o Brasil está em quinto lugar entre os países que mais emitem gases de efeito estufa no mundo, conforme a plataforma Climate Watch. Portanto, para controlar a inflação, entre outras ações, é essencial adotar medidas que reduzam as emissões (mitigação) e adaptem o país às mudanças climáticas.
A mitigação envolve a redução das emissões de gases de efeito estufa, que no Brasil são causadas principalmente pelo desmatamento. Ou seja: zerar a derrubada das florestas pode contribuir para controlar a inflação. Além disso, são medidas de mitigação importantes realizar a transição energética para acabar com os combustíveis fósseis, restaurar florestas e adotar práticas agrícolas e de gestão de resíduos sólidos sustentáveis.
Já a adaptação significa a preparação das comunidades e das infraestruturas para lidar com os impactos inevitáveis da mudança do clima. Isso inclui, por exemplo, a realocação de famílias que residem em áreas de risco, a melhoria dos sistemas de saneamento, drenagem e transporte, e os investimentos em segurança hídrica e alimentar.
Ações que precisam ser urgentes não apenas para combatermos a emergência climática e a alta da inflação, mas também para impedir uma consequência cruel de ambas: o aumento da pobreza.
*Pesquisador sênior e cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), é engenheiro florestal e mestre em Ciências Florestais.
**Coordenadora de comunicação do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), é jornalista e especialista em Direitos Humanos.
This post was published on 17 de janeiro de 2025
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