Estudo do Imazon mostra que entre 2012 e 2015, 237,3 mil hectares foram desmatados dentro de Unidades de Conservação (UCs) da Amazônia, causando grandes danos ambientais.
Aproximadamente 136 milhões de árvores foram destruídas, causando a morte ou o deslocamento de aproximadamente 4,2 milhões de aves e 137 mil macacos, considerando a densidade típica de animais e plantas na floresta. A emissão de gás carbônico gerado a partir da queima da vegetação nessa área chega a se comparar às emissões de 80% da frota de automóveis do Brasil. As principais causas do desmatamento são as ocupações e a exploração madeireira ilegais. Os ocupantes podem ter obtido uma renda bruta de R$ 300 milhões com a venda da madeira extraída ilegalmente das UCs, o que criou um enorme potencial de investimento no desmatamento. Além disso, eles se apossaram de um patrimônio em terras no valor de R$ 344 milhões.
O estudo revela que o desmatamento tem aumentado dentro de algumas UCs e que a participação percentual do desmatamento em UCs no total desmatado na Amazônia Legal dobrou de 6% para 12% entre 2008 e 2015. No ano de 2015, o desmatamento dentro de UCs foi 79% maior do que em 2012. Esse quadro é alarmante considerando que as UCs deveriam ser as áreas mais protegidas e assim contribuir para conservar animais, plantas e serviços ambientais, além de conter o desmatamento e manter o equilíbrio climático.
O novo estudo do Imazon atualiza o ranking das 50 UCs mais críticas nesse período e que concentram 97% (229,9 mil hectares) da área total desmatada em UCs entre 2012 e 2015. Elas estão em área de expansão da fronteira agropecuária e sob influência de projetos de infraestrutura, como rodovias, hidrovias, portos e hidrelétricas.
As UCs federais estão em maior número no ranking (27), mas as estaduais apresentaram maior área desmatada (68%). Entre as UCs estaduais, destacamos a APA Triunfo do Xingu, a mais desmatada da Amazônia Legal. Entre as UCs federais, o destaque é a Flona Jamanxim na 3ª posição. Os estados do Pará e de Rondônia respondem por 89% do desmatamento detectado no período, 49,8% e 38,9%, respectivamente. As 10 primeiras posições do ranking concentram cerca de 80% de todo desmatamento em UCs do período. O estudo detalha as principais pressões e ameaças dessas áreas.
Elis Araújo, uma das autoras, afirma que a vulnerabilidade dessas áreas decorre de falhas referentes a quatro fatores necessários para o sucesso de qualquer empreendimento: estratégia, pessoal, recursos financeiros e execução. “O principal é a falta de uma visão clara e consistente do papel das UCs no desenvolvimento e proteção da região, isto é, estratégia. Por falta de compromisso com a proteção, o governo cede às pressões para mudar regras e enfraquecer a legislação ambiental conforme interesses de momento”.
Os autores também destacam as falhas relacionadas a recursos humanos e a questões territoriais. Os recursos humanos são insuficientes para gestão das UCs e há uma preocupante tendência de redução no número de analistas ambientais federais lotados na Amazônia, de 40% no ICMBio (2010-2016) e de 33% no Ibama (2009-2015). Outro problema são as ocupações ilegais. Ocupantes ilegais exploram a madeira e a terra de forma predatória e lutam pela revogação ou redução de tamanho ou de grau de proteção de algumas UCs via ações judiciais ou pressão política. Entre 1995 e 2013, os poderes Executivo e Legislativo reduziram 2,9 milhões de hectares de UCs na Amazônia. Eles ressaltam que ocupações irregulares e planos para a construção de hidrelétricas têm sido as razões mais frequentes para a alteração de UCs na Amazônia.
Para zerar o desmatamento e garantir a integridade das UCs, o estudo propõe três medidas: garantir proteção imediata das áreas mais críticas e das populações locais; assegurar a sustentabilidade das UCs através de atividades como turismo, expedições educacionais e eventos artísticos e esportivos; e bloquear a demanda e o financiamento do desmatamento ilegal pressionando e responsabilizando as empresas que compram produtos oriundos de áreas desmatadas e incentivando a produção sustentável.
Paulo Barreto, outro autor do trabalho, avalia que políticos e empresários tem pressionado pela redução das UCs, mas isso aumenta os riscos para os setores que eles defendem. Por exemplo, as florestas contribuem para a formação de chuvas na região e, portanto, beneficiam a agricultura e a geração de energia. O aumento do desmatamento reduzirá as chuvas. Ele lembra, ainda, que o desmatamento começa a criar problemas de reputação para o agronegócio da região, pois campanhas ambientais e de investidores exigem desmatamento zero como uma estratégia eficaz para reduzir os riscos das mudanças climáticas.
O estudo completo e o ranking das 50 Unidades de Conservação mais desmatadas entre 2012 e 2015 na Amazônia Legal encontra-se disponível em: http://bit.ly/2mUpMqA
This post was published on 18 de março de 2017
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