Quais os custos socioambientais de gerar energia na Amazônia?

Nos próximos oito anos, o governo brasileiro planeja investir R$ 96 bilhões para construir 22 hidrelétricas na região amazônica, alegando que a energia gerada na região será limpa e barata. Entretanto, em janeiro de 2012 o Governo Federal reduziu por meio de medida provisória cerca de 1.500 km² de sete Unidades de Conservação na região para facilitar a construção de quatro hidrelétricas. A redução das áreas sem os estudos necessários e sem seguir os procedimentos legais previstos – como consultas públicas –, impossibilita uma análise dos reais custos socioambientais da geração de energia na região.

O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) analisou os riscos jurídicos e socioambientais associados às reduções com foco na Bacia do Tapajós, no Pará, que concentrou 70% (1.050 km²) da área reduzida. Foram cinco Unidades de Conservação diminuídas sem a realização de estudos de impactos sociais e ambientais e sem consulta pública.

Na próxima semana, o Congresso Nacional deve decidir se converte a MP nº 558 em lei. O Imazon alerta sobre os riscos desse tipo de redução para as populações locais, a biodiversidade, as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa e para a segurança jurídica do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, bem como do licenciamento ambiental de projetos hidrelétricos.

Risco – A pesquisadora do Imazon e co-autora do estudo, Elis Araújo, aponta riscos desta iniciativa sobre a segurança jurídica. “Ao reduzir as áreas protegidas, o governo descumpriu a constituição e a legislação ambiental e há o risco de que isso esse torne regra . O descumprimento da constituição está na ausência de urgência para a edição da Medida Provisória. Já a ausência de estudos técnicos e de consultas públicas para respaldar as reduções descumpre a legislação ambiental”, explica.

Segundo dados do IBGE, existem sete localidades ribeirinhas nas áreas excluídas e sujeitas a alagamento dentro das Unidades de Conservação da Bacia do Tapajós. Essas comunidades não foram informadas e ouvidas durante o processo de redução das áreas, pois não houve consultas públicas.

Além disso, a redução das UCs da Bacia do Tapajós ocorreu sem que os estudos sobre biodiversidade estivessem prontos, indicando as áreas que não poderiam ser suprimidas por conta da sua importância para a conservação. Ademais, 85% das áreas excluídas são floretas que, se alagadas, desmatadas ou degradadas, emitirão cerca de 152 milhões de toneladas de CO² para a atmosfera.

A iniciativa de redução, se convertida em lei pelo Congresso na próxima semana, abre precedente para que outras reduções de áreas protegidas ocorram e sejam realizadas da mesma forma em vista das demais hidrelétricas planejadas para a Amazônia.

Confira aqui a Nota Técnica na íntegra.

This post was published on 5 de agosto de 2013

Notícias recentes

Condenações por desmatamento ilegal crescem, mas apenas 5% resultam em indenizações pagas na Amazônia

Pesquisa com mais de 3,5 mil ações mostrou alta nas punições, mas lentidão no pagamento…

31 de janeiro de 2025

Mulheres líderes do Pará ampliarão debate sobre mudanças climáticas, gênero e território

Grupo formado por especialistas de 23 profissões diferentes recebeu formação do Programa Lideranças Amazônicas Sustentáveis…

28 de janeiro de 2025

Amazônia fecha 2024 com queda de 7% no desmatamento, mas alta de 497% na degradação

Área degradada cresceu por causa das queimadas, principalmente em agosto e setembro A floresta amazônica…

24 de janeiro de 2025

Opinião: Mudanças climáticas, inflação e pobreza no Brasil

Paulo Barreto* e Fernanda da Costa** As mudanças climáticas têm se tornado uma realidade desafiadora,…

17 de janeiro de 2025

Desmatamento e degradação têm sexto mês consecutivo de aumento na Amazônia

Novembro teve alta de 41% nas áreas desmatadas e 84% nas degradadas A Amazônia teve…

19 de dezembro de 2024

PrevisIA: inteligência artificial aponta 6,5 mil km² com risco de desmatamento na Amazônia em 2025

Plataforma indica as áreas sob ameaça de derrubada para ajudar a mantê-las em pé Se…

16 de dezembro de 2024