Símbolo da luta pela floresta, Resex Chico Mendes é a área protegida mais pressionada pelo desmatamento na Amazônia

Em relação aos estados, o mais crítico é o Pará, que concentrou sete dos 10 territórios protegidos sob maior pressão

Resex Chico Mendes vem sofrendo com invasões, queimadas e desmatamento nos últimos anos, como mostra imagem de 2019 (Foto: Ramon Aquim/WWF Brasil)

Ícone do ativismo pelo uso sustentável da floresta, a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes foi a área protegida mais pressionada pelo desmatamento na Amazônia no terceiro trimestre, entre julho e setembro deste ano. A unidade de conservação federal localizada no Acre liderou um ranking composto em grande maioria pelo Pará: dos 10 territórios protegidos sob maior pressão, sete ficam localizados em solo paraense.

Os dados são do levantamento trimestral “Ameaça e Pressão de Desmatamento em Áreas Protegidas”, publicado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Com uma metodologia que analisa o número de ocorrências de derrubada da floresta, e não a área total desmatada, esse estudo mostra quais territórios protegidos podem vir a ser os mais desmatados. E, consequentemente, os que precisam de ações urgentes para evitar o avanço da destruição. 

A pesquisa também diferencia as áreas protegidas que tiveram mais ocorrências de desmatamento dentro dos seus territórios, o que é classificado como pressão, das que tiveram mais ocorrências ao redor, a até 10 km², o que é classificado como ameaça.

No caso do avanço da derrubada sobre os territórios, apesar do Acre ser o segundo menor estado da Amazônia Legal, possui duas áreas protegidas entre as 10 mais pressionadas. Além da líder Resex Chico Mendes, que já havia aparecido em terceiro lugar no ranking do mesmo período no ano passado, agora o Parque Nacional (Parna) da Serra do Divisor também entrou na lista.

“O Acre vem se sobressaindo a outros estados da Amazônia em relação ao desmatamento e esse avanço ocorre não apenas em imóveis privados, mas também em áreas protegidas. A causa pode estar na concretização de obras de infraestrutura, como a construção de estradas, que facilitam o acesso às áreas de floresta”, afirma Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.

Áreas protegidas mais pressionadas
1ª Resex Chico Mendes (AC)
2ª APA Triunfo do Xingu (PA)
3ª TI Apyterewa (PA)
4ª APA do Lago de Tucuruí (PA)
5ª APA do Tapajós (PA)
6ª TI Cachoeira Seca do Iriri (PA)
7ª Flona do Jamanxim (PA)
8ª Parna da Serra do Divisor (AC)
9ª APA Arquipélago do Marajó (PA)
10ª Resex Jaci Paraná (RO)

Pressão atinge tanto áreas federais quanto estaduais no Pará

Já no Pará, onde ficam sete das 10 áreas protegidas mais pressionadas pelo desmatamento, o problema atinge tanto terras indígenas quanto unidades de conservação federais e estaduais. Entre as terras indígenas, a mais pressionada foi a Apyterewa, que já havia aparecido no topo do ranking do mesmo período em 2021. Ou seja, é o território indígena que vem se mantendo como o mais pressionado da Amazônia.

“A maior parte das áreas protegidas mais pressionadas no estado estão nas regiões Sudoeste e Sudeste, compostas por municípios onde o desmatamento avançou em ritmo acelerado nos últimos anos, como Altamira e São Félix do Xingu. Essas regiões têm seus municípios constantemente entre os que mais derrubam a floresta amazônica, principalmente por causa da expansão da agropecuária, o que nosso estudo mostra estar pressionando também os territórios protegidos”, explica a pesquisadora do Imazon Bianca Santos.

O Pará também foi o estado com o maior número de áreas protegidas com ocorrências de desmatamento ao seu redor, com metade dos 10 territórios mais ameaçados. Entre eles também estão terras indígenas e unidades de conservação federais e estaduais.

Áreas protegidas mais ameaçadas
1ª Resex Chico Mendes (AC)
2ª Parna Mapinguari (AM/RO)
3ª TI Trincheira/Bacajá (PA)
4ª Flona do Tapajós (PA)
5ª Flona do Iquiri (AM)
6ª APA do Lago de Tucuruí (PA)
7ª TI Parakanã (PA)
8ª TI Cachoeira Seca do Iriri (PA)
9ª Flona do Aripuanã (AM)
10ª Parna da Serra do Divisor (AC)

Entenda a metodologia

Para identificar as áreas protegidas sob maior ameaça e pressão de desmatamento, os pesquisadores dividem a Amazônia Legal em células de 100 km² e analisam se houve derrubada da floresta dentro e ao redor delas no período estudado. A partir disso, são contabilizadas células com ocorrência de desmatamento. Classificadas como pressão, as que estão dentro das áreas protegidas, e como ameça as que estão ao redor (a até 10 km).

Clique aqui para ver o estudo completo

This post was published on 7 de novembro de 2022

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