Terras indígenas Yanomami, Alto Rio Negro e Mundurukú são as mais pressionadas pelo desmatamento na Amazônia

Dados são do monitoramento trimestral Ameaça e Pressão do Imazon, publicado nesta terça-feira (08), que analisou os meses de fevereiro a abril

Casa de liderança Mundurukú foi incendia no final de maio (Foto: Coiab, Reprodução)

 

  • Boletim do mesmo período em 2020 já havia alertado sobre pressão nos territórios Yanomami e Mundurukú, alvos de ataques de garimpeiros ilegais recentemente;
  • Já entre todas as áreas protegidas da Amazônia, a que teve mais ocorrências de desmatamento foi a APA Triunfo do Xingu, localizada entre os municípios paraenses Altamira e São Félix do Xingu;
  • A Reserva Extrativista Jaci-Paraná e o Parque Estadual de Guajará-Mirim, de Rondônia, só saíram do ranking porque tiveram as áreas reduzidas por uma lei;
  • Em relação ao mesmo período do ano passado, houve um aumento de 19% nas ocorrências com desmatamento dentro ou a até 10 km das áreas protegidas.

 

A última análise do desmatamento dentro das áreas protegidas da Amazônia feita pelo Imazon mostrou que, entre fevereiro e abril, as três terras indígenas mais pressionadas foram a Yanomami (AM/RR), Alto Rio Negro (AM) e Mundurukú (PA). Os dados são do monitoramento trimestral Ameaça e Pressão, publicado nesta terça-feira (08).

Tanto o território Yanomami quanto o Mundurukú foram alvos de ataques de garimpeiros ilegais recentemente, casos que motivaram ordens judiciais de proteção. No boletim Ameaça e Pressão dos meses de fevereiro a abril do ano passado, ambas as terras indígenas também apareceram entre as 10 mais pressionadas, na primeira e na sexta colocação, respectivamente.

“As ocorrências de desmatamento dentro de terras indígenas se intensificaram nos últimos anos com o objetivo de extrair recursos naturais dos territórios, como madeira e minérios, e de exercer pressão para a redução de seus limites através de projetos de lei, legalizando as ocupações ilegais que ocorrem através do desmatamento”, explica o pesquisador do Imazon Antonio Fonseca.

Na publicação, o Imazon classifica como pressão o desmatamento que ocorre dentro das áreas protegidas. No ranking que leva em conta todos os territórios, não apenas os indígenas, o que mais sofreu pressão entre fevereiro e abril foi a APA Triunfo do Xingu (PA), uma unidade de conservação estadual.

O local teve três vezes mais ocorrências de desmatamento que o segundo colocado, o território Yanomami (AM/RR), e quatro vezes mais do que o terceiro, a Flona do Jamanxim (PA), que é uma unidade de conservação federal. Para analisar a pressão nas áreas protegidas, o Imazon cruza dados do seu Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), monitoramento mensal via imagens de satélites (incluindo radar), com células de 100 km² na Amazônia Legal.

“Entre fevereiro a abril, 42% da APA Triunfo do Xingu apresentou ocorrência de pressão. Ela está localizada entre Altamira e São Félix do Xingu, dois municípios que apresentam intenso histórico de desmatamento, o que faz com que essa APA estadual sempre apareça no topo do ranking das mais desmatadas”, afirma Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.

UCs de Rondônia saíram do ranking após terem áreas reduzidas

Um ato legislativo de Rondônia fez com que as unidades de conservação (UCs) Reserva Extrativista Jaci-Paraná e Parque Estadual de Guajará-Mirim saíssem do ranking das áreas com maior pressão de desmatamento. No final de abril, a Assembleia Legislativa do estado aprovou um projeto de lei que retirou 171 mil hectares da área da Reserva Extrativista Jaci-Paraná, o que representou uma diminuição de quase 90% do território, e 55 mil hectares do Parque Estadual de Guajará-Mirim. Sancionada pelo governador, a mudança legislativa foi a maior redução de áreas protegidas já aprovada por um parlamento estadual no Brasil.

Antes disso, ambos os territórios estavam na lista dos 10 com maior número de ocorrências de desmatamento entre fevereiro e abril, ou seja, entre os mais pressionados. Porém, como depois essas áreas deixaram de fazer parte das UCs, a Reserva Extrativista Jaci-Paraná e o Parque Estadual de Guajará-Mirim acabaram saindo do ranking.

Uru-Eu-Wau-Wau é a área protegida mais ameaçada

Já em relação à ameaça de desmatamento, medida de risco contabilizada na publicação quando a devastação ocorre a uma distância de até 10 km das áreas protegidas, a situação mais crítica foi a da terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau (RO). Na sequência das mais ameaçadas estão a Parna Mapinguari (AM/RO) e a Flona do Jamanxim (PA), ambas unidades de conservação federal.

A classificação de ameaça representou 73% do total de ocorrências de desmatamento entre fevereiro e abril, quando 1.767 km² de floresta foram devastados na Amazônia. As outras 27% foram classificadas como pressão. Em relação ao mesmo período do ano passado, houve um aumento de 19% nas ocorrências com desmatamento dentro ou a até 10 km das áreas protegidas.

Clique aqui para ver o boletim completo

Estudo – O relatório dos índices de ameaça e pressão de desmatamento em áreas protegidas (APs) é divulgado trimestralmente pelo Imazon. Para isso, o instituto cruza dados do seu Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), monitoramento mensal via imagens de satélites (incluindo radar), com células de 100 km² na Amazônia Legal. No boletim, são contabilizadas células com ocorrência de desmatamento que estão dentro de uma das áreas protegidas ou a até 10 km desses territórios. Quando a célula com ocorrência de desmatamento está dentro da AP, é classificada como pressão. Já se estiver a até 10 km de distância, é classificada como ameaça.

Imazon – O Imazon é um instituto de pesquisa sem fins lucrativos fundado há 30 anos em Belém, no Pará. Composto por pesquisadores brasileiros, realiza há mais de uma década o trabalho de monitoramento e de divulgação de dados sobre o desmatamento e a degradação da Amazônia Legal. Esses alertas independentes e transparentes servem para orientar mudanças que resultem em reduções significativas na destruição da floresta e promovam o desenvolvimento sustentável.

 

This post was published on 8 de junho de 2021

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