Gatti, Luciana V.; Costa, Pedro; Arieira, Julia; Blackham, Grace; Alencar, Ane; Macedo, Marcia; Brown, Foster; Garavito, Sandra; Suruí, Gasodá; Silva, Sonaira; Verissimo, Beto; Hecht, Susanna; Saleska, Scott. Impactos humanos nas emissões de carbono e perdas dos serviços ecossistêmicos: A necessidade de restauração e financiamento climático inovador para a Amazônia. The Amazon We Want, 2023. https://www.aamazoniaquequeremos.org/spa_publication/policy-brief-2023-impactos-humanos-nas-emissoes-de-carbono-perdas-nos-servicos-ecossistemicos/

Menssagens-chave 

(i) Na última década (2010-2020), o balanço de carbono da Amazônia, que integra todos os processos de absorção e emissão, indica que a região se tornou uma fonte de carbono – principalmente devido a mudanças no uso da terra, representando uma emissão anual de CO2 de 1,1
bilhão de toneladas por ano.

(ii) O desmatamento e a degradação florestal impulsionam as mudanças climáticas regionais, induzindo distúrbios climáticos que comprometem severamente as florestas remanescentes, reduzindo a absorção e armazenamento de carbono pela floresta, e afetando microclimas regionais, provocando menor precipitação e temperaturas superficiais mais altas, especialmente durante secas, levando regiões com mais de 20% de desmatamento a se aproximarem do ponto de não-retorno.

(iii) Eventos climáticos extremos na Amazônia, como o super El Niño 2023-24, em combinação com anomalias de alta temperatura no Oceano Atlântico Norte, exacerbam as mudanças impulsionadas pelo homem na Amazônia, especialmente com a ocorrência de mega-incêndios, ameaçando o bem-estar dos Povos Indígenas e comunidades locais (IPLC da sigla em inglês), bem como daqueles que vivem em cidades e vilarejos. Em 2023, municípios amazônicos apresentaram uma das piores qualidades do ar do mundo devido a incêndios regionais,
incluindo Manaus, Santarém e Santa Cruz de la Sierra.

(iv) Florestas primárias e secundárias removem, em conjunto, 0,7 bilhão de toneladas de CO2 por ano, o que representa cerca de 14% de todas as fontes globais associadas a mudanças no uso da terra. As florestas amazônicas atuam não apenas como sumidouros de carbono, mas também fornecem múltiplos serviços ecossistêmicos, incluindo a regulação do clima regional através da reciclagem de água para a atmosfera e a redução das temperaturas do ar regional e local, suporte a sistemas hidrológicos, conservação da biodiversidade e sustentação dos meios de vida das IPLCs, bem como das populações urbanas.

(v) Pôr fim a todo o desmatamento (legal e ilegal) e prevenir a degradação florestal pode recuperar o sumidouro de carbono amazônico, mesmo diante das mudanças climáticas globais. A implementação de medidas de proteção florestal em larga escala manteria os estoques de carbono existentes, enquanto um programa avançado e ambicioso de restauração florestal capturaria e armazenaria um adicional de 15-30 bilhões de toneladas de CO2 nas florestas amazônicas até 2050.

(vi) Os mercados de carbono (ou seja, transações de créditos de carbono em troca de remoção ou armazenamento de carbono) podem fornecer parte do financiamento necessário para a proteção e restauração florestal na Amazônia, mas a maioria dos modelos atuais de financiamento de carbono restringe a capacidade de crescer em escala devido a necessidade de garantir a adicionalidade, prevenir vazamentos e promover a permanência dos estoques de carbono no nível individual de projetos ou programas. Há uma necessidade de inovação e abordagens alternativas no financiamento de proteção e restauração florestal, concentrando-se em uma definição mais ampla de financiamento climático e ambiental que possa ser implementada no nível da paisagem e evite os desafios das abordagens baseadas em projetos ou programas.

 

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