Com o avanço do desmatamento na Amazônia, que em 2021 atingiu a maior área em pelo menos 14 anos, identificar os territórios indígenas que estão sendo mais cercados pela devastação é uma informação importante para o direcionamento de ações de proteção. Por isso, neste 19 de abril, Dia de Luta e Resistência dos Povos Indígenas, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou um estudo que mapeia a derrubada da floresta ao redor desses territórios com o objetivo de ajudar a evitar que eles sejam invadidos.
Conforme a pesquisa, que analisa o desmatamento a até 10 km das áreas protegidas na Amazônia, a terra indígena Trincheira/Bacajá, no Pará, foi a mais ameaçada pela destruição nos últimos dois meses de 2021. Além dela, outras sete terras indígenas que ficam em solo paraense estão entre as 10 que tiveram mais ocorrências de desmatamento ao seu redor, o que faz do Pará o estado prioritário para as ações de proteção.
TIs mais ameaçadas em novembro e dezembro de 2021
1ª – TI Trincheira/Bacajá (PA)
2ª – TI Cachoeira Seca do Iriri (PA)
3ª – TI Uru-Eu-Wau-Wau (RO)
4ª – TI Parakanã (PA)
5ª – TI Waimiri Atroari (AM/RR)
6ª – TI Arara (PA)
7ª – TI Alto Rio Guamá (PA)
8ª – TI Trombetas/Mapuera (AM/PA/RR)
9ª – TI Arara da Volta Grande do Xingu (PA)
10ª – TI Koatinemo (PA)
“Assim como o monitoramento do desmatamento que está ocorrendo dentro das terras indígenas, que realizamos mensalmente, também é muito importante saber o que está acontecendo ao redor delas. Conhecendo os territórios mais cercados, os órgãos de fiscalização podem agir na proteção deles para evitar que a derrubada da floresta avance sobre seus limites”, afirma Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
Se levarmos em conta todas as ocorrências de desmatamento no último ano, de janeiro a dezembro, a terra indígena mais cercada foi a Uru-Eu-Wau-Wau, localizada em Rondônia. Assim como no ranking mais atual, que leva em conta apenas novembro e dezembro, o consolidado do ano passado também tem o Pará como o estado com o maior número de terras indígenas sitiadas pela devastação: seis.
“Precisamos que o Pará receba ações efetivas de proteção a esses territórios, principalmente aqueles que também já estão sofrendo com a derrubada da floresta dentro de suas áreas. A terra indígena mais ameaçada no Pará no ano passado, a Trincheira/Bacajá, por exemplo, também está entre as mais desmatadas em 2021”, ressalta a pesquisadora.
TIs mais ameaçadas em todo 2021 (de janeiro a dezembro)
1ª – TI Uru-Eu-Wau-Wau (RO)
2ª – TI Trincheira/Bacajá (PA)
3ª – TI Parakanã (PA)
4ª – TI Baú (PA)
5ª – TI Cachoeira Seca do Iriri (PA)
6ª – TI Arara (PA)
7ª – TI Aripuanã (MT)
8ª – TI Karipuna (RO)
9ª – TI Apyterewa (PA)
10ª – TI Aripuanã (MT/RO)
Na comparação do ranking dos dois últimos meses com o consolidado do ano, metade das terras indígenas mais ameaçadas em novembro e dezembro não apareceram na análise que leva em conta todo 2021. São os territórios: Waimiri Atroari (AM/RR), Alto Rio Guamá (PA), Trombetas/Mapuera (AM/PA/RR), Arara da Volta Grande do Xingu (PA) e Koatinemo (PA).
Isso significa que eles são as terras indígenas que mais tiveram ocorrências de desmatamento ao seu redor recentemente, por isso precisam de atenção especial dos órgãos de proteção. “Agir antecipadamente pode impedir que esses territórios apareçam neste ano como os mais ameaçados ou, em um cenário ainda pior, como os mais desmatados”, alerta Amorim.
Apesar de muito pressionadas pelo avanço da derrubada da Amazônia no último ano, que cresceu 29% em relação à 2020, as terras indígenas são a categoria de território que mais tem impedido a devastação. Em 2021, apenas 2,5% (263 km²) de toda a destruição no bioma (10.362 km²) ocorreu dentro de territórios indígenas. Isso mostra que, além de garantir um direito constitucional aos povos, demarcar novas áreas é uma ação efetiva de combate ao desmatamento.
Divulgado trimestralmente pelo Imazon, o relatório “Ameaça e pressão de desmatamento em áreas protegidas” possui uma metodologia que contabiliza o número de “ocorrências” da destruição da floresta dentro ou no entorno desses territórios — e não a área total desmatada. Para isso, o instituto cruza dados do seu Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), monitoramento mensal via imagens de satélites, com células de 100 km² na Amazônia Legal.
No estudo, são contabilizadas como “ocorrências” células cuja devastação está dentro ou a até 10 km de uma área protegida. A ocorrência é classificada como pressão se a célula com desmatamento estiver dentro do território e como ameaça se for localizada no entorno.
This post was published on 19 de abril de 2022
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