01pecuaria18042021 - Pecuária
Imagem retirada do estudo “Os frigoríficos vão ajudar a zerar o desmatamento da Amazônia?”, do Imazon

 

Há mais de 30 anos, o Imazon investe na produção científica, em projetos de campo e na atuação junto aos setores público e privado para oferecer as melhores soluções para o desenvolvimento da pecuária na Amazônia sem desmatamento.

A partir do Programa Monitoramento da Amazônia, o Imazon atua junto à rede MapBiomas para mostrar a partir de imagens de satélite o avanço das pastagens sobre a floresta, produzindo dados essenciais para que os setores público e privado atuem no combate ao desmatamento ilegal relacionado à pecuária na região. Além disso, na plataforma da Rede MapBiomas é possível acompanhar o grau de degradação das pastagens.

Já dentro do Programa Política e Socioeconomia, o instituto possui uma área de pesquisa exclusiva para avaliar a pecuária na Amazônia Legal, que estuda os principais problemas relacionados à atividade na região e propõe as melhores soluções para torná-la sustentável. Além disso, o Imazon participa de grupos de trabalho que discutem melhorias na pecuária amazônica, como a Câmara Técnica de Acompanhamento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne, do Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA), e de eventos voltados para o setor, como a Expomeat. O instituto também foi um dos responsáveis pela criação do Radar Verde, um indicador de transparência da cadeia da carne na Amazônia.

O Imazon ainda produz pesquisas que auxiliam no tema da pecuária dentro do Programa Direito e Sustentabilidade, onde discute especificamente o combate à grilagem relacionada à atividade na região.

Em campo, o instituto também atua junto a governos locais e a pecuaristas por meio do Programa Restauração de Paisagens, que apoia a adoção da produção sustentável e do cumprimento das leis ambientais. Especificamente no município de Paragominas, no Pará, o Imazon também realizou um estudo de campo sobre o aumento da produtividade e da lucratividade da pecuária verde.

Já dentro do Programa Áreas Protegidas, o instituto forma Agentes Ambientais Comunitários (ACC) para denunciarem atividades ilegais em unidades de conservação, terras indígenas e quilombolas, entre elas a pecuária. Atualmente, há mais de 100 voluntárias e voluntários atuando na defesa desses territórios com apoio do Imazon.

Abaixo, saiba mais sobre a nossa atuação em relação à pecuária nos tópicos:

1. Pesquisa científica
     1.1. Monitoramento por satélite
          1.1.1. Expansão da pecuária
          1.1.2. Degradação das pastagens
     1.2. Soluções para a pecuária
          1.2.1. Aumento da produtividade
          1.2.2. Reforma de pastos
          1.2.3. Fim dos incentivos ao desmatamento
2. Projetos de campo
     2.1. Apoio a pecuaristas
     2.2. Avaliação da Pecuária Verde
     2.3. Monitoramento das áreas protegidas
3. Atuação junto aos setores público e privado
     3.1. Radar Verde
     3.2. TAC da Carne
     3.3. Eventos
     3.3. Materiais de comunicação

1. Pesquisa científica

1.1. Monitoramento por satélite

1.1.1. Expansão da pecuária

Conforme os últimos dados da rede MapBiomas, cuja coordenação técnica do bioma amazônico é realizada pelo Programa de Monitoramento do Imazon, 86% das áreas desmatadas na Amazônia Legal eram ocupadas por pastagens em 2021. Na série histórica da rede, a área destinada para pecuária triplicou em 37 anos, passando de 19 milhões de hectares em 1985 para 68 milhões de hectares em 2021. Com isso, os pastos já ocupavam 13% do território da Amazônia Legal, o equivalente a quase três vezes o estado de São Paulo.

Amazonia Legal - Pecuária
Mapa mostra áreas de agropecuária em amarelo (Fonte: MapBiomas)


E a maior parte do desmatamento na região é ilegal. Um estudo que cruzou as imagens de satélite da derrubada da floresta com as autorizações dos órgãos ambientais na Amazônia e no Matopiba de 2008 até o segundo semestre de 2020 concluiu que 94% da remoção da vegetação foi feita sem permissão.

1.1.2. Degradação das pastagens

Além de ser majoritariamente ilegal, a expansão da pecuária sobre a floresta amazônica tem ocorrido sem que as áreas já desmatadas estejam bem aproveitadas. Em 2021, 57% das pastagens existentes na Amazônia Legal estavam com degradação severa ou moderada, segundo dados da MapBiomas. Isso corresponde a 39 milhões de hectares, uma área superior ao território de Mato Grosso do Sul.

Pastos degradados - Pecuária
Mapa mostra situação das pastagens na Amazônia Legal em 2021 (Fonte: MapBiomas, com legenda nossa)

1.2. Soluções para a pecuária

1.2.1. Aumento da produtividade

A pecuária ainda é muito pouco produtiva na Amazônia. Segundo um estudo do Imazon dentro do projeto Amazônia 2030, há em média um boi por hectare na região, quando poderia haver pelo menos 3. E, conforme essa mesma pesquisa, já há tanto tecnologias quanto crédito rural disponíveis para aumentar essa produtividade sem novos desmatamentos.

O problema é que, embora produtores que atuem com a pecuária sustentável consigam ter produtividade até seis vezes maior do que a nacional, fatores como a prevalência de pastos degradados, a abundância de terras e principalmente a existência incentivos à ilegalidade contribuem para um cenário de continuidade do desmatamento. Ou seja: apesar dos bons exemplos, o que ainda predomina na Amazônia é um modelo de pecuária extensiva, que prefere abandonar pastagens para desmatar novas áreas de floresta.

1.2.2. Reforma de pastos

Embora o custo para desmatar um hectare (cerca de R$ 1.500) seja menor do que o custo para reformar a mesma área de pasto (entre R$ 1.600 e R$ 3.000), o ganho de produtividade obtido com a recuperação das pastagens faz com que a segunda opção se torne mais barata para os pecuaristas. É essa a conclusão de um estudo do Imazon para o projeto Amazônia 2030, que mostrou que seria necessário desmatar 3,75 hectares de floresta para produzir o mesmo do que em um hectare de pasto reformado, considerando um ganho médio de produtividade de 80 kg para 300 kg de carne por hectare com a reforma da pastagem.

Nesse caso, para atender a demanda por carne projetada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para 2030, que exigiria aumento da produção entre 1,4% e 2,4%, seria mais barato investir na recuperação dos pastos do que no desmatamento. Isso porque, sem ganho de produtividade, seria necessário desmatar de 634 mil a 1 milhão de hectares por ano até 2030, o que custaria de R$ 950 milhões a R$ 1,63 bilhão anuais. Já com a reforma de pastos e o aumento médio da produtividade, seria necessário recuperar entre 170 mil e 290 mil hectares de pastagens por ano até 2030, o que custaria de R$ 270 milhões a R$ 873 milhões anuais. Ou seja, o desmatamento seria de três a sete vezes mais caro do que a reforma de pastos.

Reforma pasto X desmatamento - Pecuária
Estimativas de área, em hectares, (esquerda) e de investimento (direita) necessários anualmente para atender aumentos de 1,4% e de 2,4% na produção de carne projetados pelo Mapa até 2030 (Fonte: Pesquisa “Políticas para desenvolver a pecuária na Amazônia sem desmatamento”, de Paulo Barreto)


1.2.3. Fim dos incentivos ao desmatamento

Atualmente, conforme as pesquisas do Imazon, as principais soluções para tornar a pecuária sustentável na Amazônia envolvem: combater a grilagem; rastrear e fiscalizar efetivamente o gado; dar incentivos para recuperação de pastagens degradadas e aumento da produtividade; cobrar impostos adequadamente (propriedades grandes e menos produtivas devem pagar mais tributos, mas os governos não têm cobrado devidamente os valores previstos, conforme estudo do instituto); fornecer amplo acesso à assistência técnica continuada; condicionar o crédito rural ao aumento da produtividade de forma sustentável e investir em infraestrutura em áreas prioritárias.

2. Projetos de campo

2.1. Apoio a pecuaristas

Dentro do Programa Restauração de Paisagens, por meio do Projeto Floresta Para Sempre, o Imazon tem apoiado famílias que atuam com a agropecuária na adoção da produção sustentável e no cumprimento das leis ambientais. Esse projeto auxilia residentes de pequenas e médias propriedades rurais a realizarem o Programa de Regularização Ambiental (PRA) e o Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas ou Alteradas (PRADA), o que envolve a recuperação de Áreas de Preservação Permamente (APPs) e de Reserva Legal (RL) desmatadas.

Em relação às famílias de agricultoras e agricultores familiares, que moram em assentamentos, o projeto prevê o apoio à restauração de uma área equivalente a 400 campos de futebol nos municípios paraenses de Capitão Poço, Dom Eliseu, Paragominas e Ulianópolis. Para isso, o Imazon já capacitou assentadas e assentados participantes em restauração florestal e plantou mais de 13,5 mil mudas de árvores nativas em suas pequenas propriedades. São oito espécies que vão gerar renda às famílias a curto, médio e longo prazo: açaí, pupunha, cacau, cupuaçu, ingá, buriti, castanha e andiroba.

Já quanto às produtoras e produtores que residem em médias propriedades rurais, o projeto auxiliará na condução da Regeneração Natural Assistida (RNA) em uma área equivalente a 3 mil campos de futebol. Essa técnica consiste em realizar ações para acelerar a recuperação natural da floresta, como por exemplo a construção de cercas para evitar a entrada do gado nas áreas em regeneração, a implantação de barreiras para o fogo, o controle de pragas e a retirada de espécies invasoras.

2.2. Avaliação da Pecuária Verde

Para avaliar os resultados do investimento na pecuária verde na Amazônia, o Imazon realizou um estudo de caso no município de Paragominas, no Pará. Nesse trabalho, o instituto mediu o desempenho financeiro e a satisfação das pessoas que trabalhavam em cinco fazendas que adotaram o modelo sustentável de produção, comparando esses números com os obtidos por propriedades tradicionais.

A conclusão foi que as fazendas verdes conseguiram aumentar a produtividade em cerca de quatro vezes em comparação com as outras, o que as tornou mais lucrativas. Além disso, as fazendas sustentáveis apresentaram maiores índices de satisfação das funcionárias e dos funcionários em relação às condições de trabalho. Resultados práticos que contribuíram para mostrar as vantagens da adoção da pecuária verde na Amazônia.

2.3. Monitoramento das áreas protegidas

Dentro do Programa Áreas Protegidas, o instituto forma Agentes Ambientais Comunitários (ACC) para denunciarem atividades ilegais em unidades de conservação, terras indígenas e quilombolas, entre elas a pecuária. Atualmente, há mais de 100 voluntárias e voluntários atuando na defesa desses territórios com apoio do Imazon na região Norte do Pará, onde há o maior bloco de áreas protegidas do mundo. São mais de 22 milhões de hectares que estão sofrendo forte pressão do desmatamento por causa da grilagem, da agropecuária e do garimpo.

3. Atuação junto aos setores público e privado

3.1. Radar Verde

Em 2021, o Imazon criou junto com o Instituto O Mundo Que Queremos o Radar Verde, um indicador de transparência da cadeia da carne na Amazônia. A partir dessa iniciativa, questionamos 90 empresas frigoríficas e 69 redes de supermercados sobre as ações que cada uma está realmente tomando para evitar a entrada de carne relacionada ao desmatamento ilegal da região e outros crimes, como o trabalho análogo à escravidão. As respostas a esses questionamentos foram avaliadas e publicadas em 2022, porém nenhuma das empresas participantes autorizou a divulgação dos seus resultados individuais.

Apesar disso, o Radar Verde já contribuiu para a maior conscientização do público a respeito da relevância de exigir a transparência na cadeia da pecuária. Conforme uma pesquisa de opinião realizada para a iniciativa pelo Reclame Aqui com mais de 9 mil pessoas de todo o país, caso a rastreabilidade virasse regra, 73% disseram que deixariam de comprar carne de empresas que não conseguissem garantir que a produção não causou desmatamento ilegal. Além disso, 79% afirmaram que supermercados e frigoríficos devem ser os responsáveis por verificar a legalidade da origem do produto.

Em 2023, o Radar Verde iniciou o seu segundo ciclo de avaliações, com a expectativa de obter informações de ainda mais empresas e de aumentar a transparência em relação à publicação dos resultados. Para esta etapa, já foram mapeados 173 frigoríficos, quase o dobro do ano anterior.

3.2. TAC da Carne

O Imazon foi uma das instituições que auxiliaram o Ministério Público Federal (MPF) na elaboração do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da pecuária no Pará, o chamado “TAC da Carne”. Essa iniciativa determina que as empresas signatárias do TAC se comprometam em barrar a comercialização de carne bovina relacionada ao desmatamento ilegal no estado. Criado em 2009, o TAC da Carne foi fundamental para o aumento expressivo nos Cadastros Ambientais Rurais (CARs), que passaram de apenas 400 no primeiro ano da iniciativa para mais de 170 mil em 2016.

Atualmente, o instituto também contribui para a avaliação da ação como participante da Câmara Técnica de Acompanhamento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne do Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA), onde avalia os resultados das fiscalizações do órgão. Em suas últimas auditorias, o MPF/PA mostrou que quase 10% do gado comprado pelos frigoríficos fiscalizados passou por áreas desmatadas ilegalmente.

3.3. Eventos

Para ampliar o alcance das soluções propostas para desenvolver a pecuária sem desmatamento, o Imazon também participa e realiza eventos sobre a temática. Para apresentar o Radar Verde, por exemplo, o instituto esteve na última COP, realizada no Egito, e na Expomeat, uma das principais feiras do setor no país.

Em seu canal no YouTube, o Imazon também promoveu recentemente o clico de debates “Para onde vai a boiada“, que reuniu pesquisadores, pecuaristas, um empresário e uma jornalista para discutir o futuro da pecuária na Amazônia.

 


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