O estudo sobre a caracterização dos Pólos Madeireiros é uma resposta à escassez de estatísticas sobre a atividade madeireira na Amazônia. Para suprir essa carência, foi necessário realizar um amplo levantamento de campo em todos os 72 pólos madeireiros distribuídos nos nove Estados da Amazônia Legal. Esse estudo é o diagnóstico mais completo já realizado sobre a principal atividade de uso da terra na Amazônia o setor madeireiro. Em cada pólo, entrevistamos as indústrias madeireiras instaladas para caracterizar a produção de madeira quanto ao sistema de exploração, às espécies extraídas, à origem da matéria-prima, aos produtos processados; bem como sobre os empregos gerados, o mercado e a rentabilidade da atividade madeireira na Amazônia. A maior parte da coleta de dados ocorreu em 1998 e 2001, com algumas incursões em 1999 e 2000.
“Pólos Madeireiros do Estado do Pará” é o primeiro livro de uma série de três volumes a ser publicado pelo Imazon sobre o setor madeireiro da Amazônia. Nesse primeiro livro, iremos enfocar o Estado do Pará, o maior produtor de madeira da Amazônia (40% da produção regional). O segundo livro abordará o Estado do Mato Grosso, onde ocorre aproximadamente 35% da produção madeireira da Amazônia. Por último, iremos editar um livro sobre os pólos madeireiros situados em Rondônia (18% da produção total) e os outros Estados com menor participação na produção de madeira, tais como Amapá, Acre, Amazonas, Roraima e Maranhão.
O Estado do Pará (1,25 milhão de km2) é largamente (73%) coberto por florestas, enquanto as áreas antrópicas e a vegetação não-florestal totalizam 27%. As condições de relevo (em geral, plano a suavemente ondulado), a grande extensão de rios navegáveis e o clima chuvoso, porém com estação seca definida, oferecem condições favoráveis para a atividade madeireira.
Em 1998, as madeireiras instaladas no Pará extraíram 11,3 milhões de metros cúbicos de madeira em tora. O desdobro dessas toras resultou em uma produção de aproximadamente 4,25 milhões de metros cúbicos de madeira processada (i.e., serrados, laminados, compensados e madeira beneficiada).
Para caracterizar o setor madeireiro do Pará entrevistamos 43% das 676 indústrias em funcionamento em 1998. Além disso, entrevistamos 11% das 534 serrarias equipadas com serras circulares existentes em 1998. Essas empresas estavam localizadas em 24 pólos processadores de madeira distribuídos em cinco zonas madeireiras referidas neste livro como sul, leste, central, oeste e estuário.
A grande maioria (89%) das 676 madeireiras era formada por serrarias equipadas com serras-de-fita, enquanto as laminadoras somavam 6% e as fábricas de compensados, 5%. A madeira serrada representou 3,26 milhões de metros cúbicos (77%) da produção madeireira do Estado. Por sua vez, os laminados totalizaram 408 mil metros cúbicos (10%), os compensados somaram 329 mil metros cúbicos (7%) e a madeira beneficiada, 253 mil metros cúbicos (6%).
O Pará abriga também 534 serrarias circulares (em geral, microempresas informais) localizadas majoritariamente na região do estuário paraense e baixo Amazonas. Essas madeireiras geravam apenas 7% dos empregos e produziam somente 5% da madeira processada (em geral de baixa qualidade) do Estado.
A atividade madeireira em larga escala é um fenômeno recente no Pará. A metade das madeireiras foi instalada na década de 90; enquanto 39% das indústrias foram estabelecidas nos anos 80 e o restante (11%) nas décadas anteriores, especialmente nos anos 70.
A maioria (56%) do volume de madeira em tora foi extraído por equipes pertencentes às próprias indústrias madeireiras. Por outro lado, 44% do volume total de madeira em tora foi extraído por terceiros, principalmente extratores autônomos.
Nas florestas de terra firme, o sistema de exploração é geralmente mecanizado, sendo caracterizado pelo corte das árvores através das motosserras e o arraste de toras feito por tratores. Há uma diversidade de tipos de tratores, sendo que o uso de tratores de esteira ainda é a forma mais comum (49% do volume de madeira extraído é arrastado por este tipo de máquina), seguido por tratores de pneus tipo skidder (27%) e tratores agrícolas (6%). Além disso, cerca de 11% da madeira extraída foi arrastada através do sistema catraca, no qual as toras são embarcadas em caminhões com auxílio de cabos de aço. O sistema manual, caracterizado pelo uso do machado no corte e arraste feito com as mãos (em geral, grupos de dez a quinze pessoas fazem essa operação) estava restrito ao estuário e representou somente 7% do volume extraído no Estado.
De acordo com os entrevistados, a grande maioria (91%) da madeira foi extraída de áreas privadas (tituladas ou não) e somente 9% foi originária de Unidades de Conservação, terras indígenas e terras devolutas. Nas áreas privadas, a maioria (60%) da madeira foi retirada de áreas de terceiros (em geral, pecuaristas e colonos), enquanto 40% foi extraída de áreas próprias das madeireiras.
As grandes propriedades (maiores do que 5 mil hectares) contribuíram com o fornecimento de 36% da madeira extraída no Estado; as médias propriedades (entre 500 hectares e 5 mil hectares) participaram com 23% do volume consumido, enquanto as pequenas propriedades (menores de 500 hectares) supriram 32% da madeira utilizada no Pará. As áreas públicas contribuíram com cerca de 9% do volume de madeira extraído no Pará, um valor provavelmente subestimado considerando que há uma proporção maior de madeira extraída ilegalmente de terras indígenas e Unidades de Conservação.
A maioria (78%) da produção madeireira do Pará foi destinada ao mercado doméstico, enquanto o restante (22%) foi exportado, principalmente para a Europa e os Estados Unidos. No caso do mercado interno, as principais regiões consumidoras são o Nordeste e o Sudeste (27% cada).
A atividade madeireira foi rentável, com a receita líquida oscilando entre 10% a 26%, excluindo-se os custos de capital e os gastos com legalização. Em 1998, a renda bruta do setor madeireiro foi expressiva, atingindo US$ 1,026 bilhão. Nesse mesmo ano, foram gerados na extração, no transporte e no processamento um total de 54,6 mil empregos diretos.
No Pará, como no resto da Amazônia, a exploração madeireira é largamente feita de forma predatória, causando impactos severos ao ecossistema florestal. Nos últimos anos, porém, o manejo florestal teve um crescimento razoável. Em 2002, por exemplo, a área florestal certificada de acordo com os critérios do FSC (Conselho Mundial de Florestas) somou aproximadamente 232 mil hectares no território paraense.
O padrão predatório de uso dos recursos florestais tem ocasionado a redução drástica dos recursos madeireiros nas zonas leste e sul do Pará. De fato, estimamos que houve uma redução de cerca de 11% no volume de madeira extraído no leste do Pará entre 1998 e 2001. Em conseqüência disso, as madeireiras estão migrando em direção à zona oeste do Estado e, em menor proporção, para a zona central, nas áreas de influência dos pólos madeireiros de Portel, Altamira e Uruará.
O desenvolvimento de um setor madeireiro sustentável no Estado do Pará requer ações simultâneas nas áreas de promoção do manejo florestal (crédito, assistência técnica, treinamento e extensão florestal) bem como no aperfeiçoamento do sistema de controle e monitoração da exploração madeireira predatória. Além disso, é fundamental ordenar o território através da regularização fundiária das áreas privadas e criação de Florestas Estaduais (Flotas) e Nacionais (Flonas) nas terras devolutas e ou ilegalmente ocupadas (griladas). A recém aprovada Lei Florestal do Estado do Pará oferece oportunidades para o desenvolvimento de um setor madeireiro responsável. Para isso, é importante a criação de uma instituição estadual (Agência Estadual de Floresta ou Secretaria Executiva), a qual seria responsável pela modernização e legalização do setor madeireiro. Por último, é importante reconhecer o papel do Governo Federal, cuja função é assegurar a integridade do patrimônio florestal e evitar a competição regulatória entre as regiões madeireiras.
O boom da atividade madeireira é recente na história do Pará. Durante mais de três séculos, a exploração madeireira ocorreu de forma esporádica no Estado. Em 1959, a produção de madeira em tora representou apenas 0,2 milhão de metros cúbicos (Knowles 1971). Nesse período, a exploração madeireira era concentrada nas florestas de várzea situadas nas margens dos rios Pará, Tocantins e, em menor escala, Amazonas. A madeira era transportada por jangadas e processada nas serrarias localizadas principalmente em Breves e Belém (Knowles 1966).
Entretanto, a abertura das rodovias a partir da década de 60 impulsionou a atividade madeireira no Estado. As novas estradas (em especial, a Belém-Brasília) permitiram acesso às extensas reservas florestais de terra firme no leste e sul do Estado. Nos anos 80, o asfaltamento da PA 150 ampliou significativamente o acesso às florestas situadas nas proximidades da bacia do Tocantins. O resultado foi um crescimento expressivo da produção madeireira. Em 1991, por exemplo, as 1.874 madeireiras em funcionamento no Pará consumiram aproximadamente 9,2 milhões de metros cúbicos em tora (Barros & Uhl 1995, Uhl et al. 1997).
O setor madeireiro do Pará tem sido estudado desde os anos 60 (Ros-Tonen 1993). Entretanto, os estudos empíricos de maior amplitude foram realizados no final dos anos 80 e década de 90. Em 1989, a pesquisadora holandesa Mirjam Ros-Tonen realizou um amplo estudo sobre o setor madeireiro no oeste do Pará (Santarém, Itaituba, Ruropólis e Uruará). Nessa região de estudo, Ros-Tonen estimou uma produção extrativa de aproximadamente 0,5 milhão de metros cúbicos em tora.
Na década de 90, pesquisadores do Imazon publicaram uma série de estudos empíricos envolvendo ecologia, manejo florestal, economia e política do setor madeireiro no Pará (ver Anexo I). Uma síntese desses estudos, publicada por Uhl et al. (1997), descreve os padrões da indústria madeireira. De acordo com esse estudo, os padrões da exploração madeireira são influenciados pela composição de espécies nas florestas locais (principalmente espécies de alto valor), sistemas de transporte (i.e., terrestre ou fluvial), opções de comercialização (mercado interno ou externo), características socioeconômicas locais (aviamento ou economia moderna de mercado) e disponibilidade de capital.
A atividade madeireira é o principal uso da terra no Estado do Pará. Entretanto, a maioria da exploração madeireira é não-manejada, ocasionando severos danos ecológicos (Veríssimo et al. 1992, Uhl et al. 1997). Felizmente, houve um crescimento expressivo de áreas de manejo florestal no Estado. De acordo com Barreto et al. (1998), o manejo florestal mantém a composição geral da flora arbórea, a estrutura e a função ecológica das florestas exploradas.
Após três décadas de exploração, houve uma redução significativa do recurso florestal no leste e sul do Pará. Em conseqüência disso, os madeireiros estão migrando para as ricas florestas do centro e oeste do Estado (Schneider et al. 2000). Para evitar a repetição do ciclo do padrão predatório de exploração dos recursos florestais, Veríssimo et al. (2002) sugerem a expansão da rede de Florestas Nacionais (Flonas)e ou Estaduais (Flotas). Para Veríssimo et al. (2002), isso poderia gerar uma escassez artificial do recurso florestal e dessa maneira estimular a adoção do manejo florestal bem como a intensificação do uso da terra nas áreas desmatadas. A criação dessas Flonas garantiria também a manutenção da cobertura florestal, evitaria a apropriação indevida de terras públicas por grupos privados e conseqüentemente a concentração de terras na região (Veríssimo et al. 2000 a).
O objetivo deste trabalho é caracterizar o setor madeireiro no Pará no período entre 1998 e 2001. Em termos específicos, descreveremos a indústria madeireira quanto ao ano de instalação, ao porte, à produção de madeira em tora e processada, ao sistema de exploração, à origem da matéria-prima, às espécies extraídas, ao sistema de transporte, ao mercado, aos preços médios das principais madeiras utilizadas, aos empregos gerados, aos custos médios e à renda bruta e líquida da produção.
O Estado do Pará, 1.247.703 km2, representa 15% do território nacional (IBGE 2000). De acordo com o Censo Agropecuário (1996), as terras privadas representam pelo menos 18% do Estado, enquanto as áreas protegidas (Terras Militares, Terras Indígenas, Reservas de Proteção Integral e Reservas de Uso Sustentável) totalizam 30% do território. As áreas remanescentes (52%) são terras potencialmente devolutas e áreas sem titulação (Figura 1, Tabela 1).
Figura 1. Principais cidades e áreas protegidas do Pará, 1999 (ISA 1999, IBGE 1997).
Tabela 1. Áreas protegidas do Pará, 1998 (ISA 1999).
No ano de 2000, o Estado do Pará abrigava uma população de aproximadamente 6,2 milhões de habitantes distribuídos em 143 municípios, dos quais aproximadamente 67% vivem em áreas urbanas (IBGE 2000). A região metropolitana de Belém possui um terço da população do Estado. O Pará apresenta uma baixa densidade demográfica (4,9 habitantes por km2), enquanto a média nacional é 19,9 habitantes por km2 (IBGE 2000).
A economia é largamente baseada no extrativismo madeireiro, na agropecuária e na mineração industrial. Em 1999, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado era de R$ 16,5 bilhões, o que correspondia a apenas 1,7% do PIB do Brasil (IBGE 2000).
As florestas cobrem a maior parte do Estado (73%); os tipos não-florestais, tais como cerrados, campos naturais, áreas de transição ecológica e formações pioneiras, representam 8%; enquanto as áreas desmatadas somam 19% (IBGE 1997). As florestas, por sua vez, podem ser subdivididas em ombrófilas densas (49%), ombrófilas abertas (23%) e florestas estacionais (1%) (Figura 2, Tabela 2).
Figura 2. Cobertura vegetal do Pará, 1997 (IBGE 1997).
Tabela 2. Cobertura vegetal do Pará, 1997 (IBGE 1997).
As matas densas caracterizam-se por abrigarem árvores altas (25-35 metros de altura), dossel fechado e sub-bosques limpos. Estudos da região de Tailândia mostraram área basal média de 25 m2/ha nesse tipo de floresta (Uhl et al. 1991), enquanto em florestas densas de Paragominas a área basal ficou em torno de 30 m2/ha (Uhl & Vieira 1989).
As florestas abertas possuem árvores de menor porte e dossel mais aberto. O mogno (Swietenia macrophylla King.), a madeira tropical mais valiosa do planeta, é uma das espécies típicas dessas florestas situadas ao sul do Estado. Para os bosques abertos, Veríssimo et al. (1995) estimaram uma área basal média de 13,5 m2 por hectare.
As florestas de várzea ocorrem em áreas sujeitas às inundações no estuário e baixo Amazonas. Essas florestas possuem menor valor madeireiro se comparadas às florestas densas de terra firme apenas 10% das espécies comercialmente extraídas na Amazônia são exclusivas de florestas aluviais (Martini et al. 1994).
De acordo com estudo do Imazon (Souza Jr. et al. 2000), a extensa rede de estradas, o relevo suavemente ondulado e as boas condições de navegabilidade dos rios do Pará[1] fazem com que a maioria (77%) das florestas do Estado sejam economicamente acessíveis à atividade madeireira. Por outro lado, aproximadamente 23% são florestas consideradas inacessíveis por estarem situadas em áreas de relevo acidentado, rios não-navegáveis e uma precária rede de estradas. Essas florestas remotas estão localizadas principalmente no extremo norte do Estado (ver Anexo II).
No caso específico das florestas acessíveis, quase dois terços são acessíveis para a extração de espécies de médio e alto valor comercial. No terço restante, somente é viável extrair e transportar espécies de valor econômico muito alto, como é o caso do mogno (Swietenia macrophylla K.), cujo preço fica em torno de US$ 1.200 por metro cúbico (FOB) serrado para exportação (Tabela 3, Figura 3).
Figura 3. Alcance econômico da atividade madeireira no Pará (Souza Jr. et al. 2000).
Tabela 3. Alcance econômico das áreas florestais do Pará (Souza Jr. et al. 2000).
As chuvas são abundantes no Pará, com a precipitação anual variando de 1.500 mm, no sul do Estado, a 3.500 mm – 4.000 mm, no estuário do rio Amazonas (IBGE 1991). A precipitação elevada e o alto teor de umidade criam condições favoráveis para a existência de florestas no Estado.
Em geral, as condições de solo são mais adequadas à atividade florestal do que à agropecuária. A maioria (75%) dos solos do Pará são Oxisols e Ultisols, possuindo alta acidez e baixa fertilidade natural. Solos férteis e bem drenados, como Afisols e Inceptisols são raros e ocorrem em apenas 6% do Estado.
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[1] A calha do rio Amazonas e afluentes é favorável à navegação e ao transporte de madeira. Entretanto, os rios que fluem do planalto central (Tapajós, Xingu e Tocantins) e do Escudo das Guianas (Paru do Oeste e Paru do Leste, Trombetas, Curuá e Jari) possuem diversos trechos não-navegáveis (ver Anexo II).
Estudos anteriores do Imazon revelaram uma forte concentração das indústrias madeireiras em torno dos núcleos urbanos (Uhl et al. 1991, Veríssimo et al. 1992, Veríssimo et al. 1995, Stone 1997). Por essa razão, optamos por concentrar o levantamento nos pólos madeireiros, onde o consumo de madeira fosse igual ou superior a 100 mil metros cúbicos de madeira em tora por ano. De acordo com informações da literatura e levantamento de campo, estimamos que os pólos madeireiros concentram aproximadamente 95% da madeira extraída e processada no Estado do Pará.
A pesquisa foi realizada em 1998 em todos os 24 pólos madeireiros do Estado. Em cada pólo, entrevistamos pelo menos 40% das madeireiras em funcionamento (ver Anexo III). Essas empresas foram selecionadas de forma aleatória. Entre fevereiro e abril de 2001, visitamos metade dos principais pólos madeireiros do Estado para levantar a situação da produção extrativa (madeira em tora e processada), dos preços da madeira e dos custos médios.
Inicialmente, realizamos um censo das madeireiras em cada pólo. Para isso, consultamos os informantes locais (sindicatos madeireiros, escritórios do Ibama, prefeituras, etc.) sobre a quantidade e a localização das empresas. Em seguida, fizemos uma rápida inspeção de campo (no máximo um dia por pólo) para quantificar o total de empresas efetivamente em funcionamento e identificar o tipo de indústria (serraria, laminadora ou fábrica de compensados).
A amostragem foi inferior (11%) para as microempresas equipadas com serras circulares[2], localizadas principalmente nos pólos madeireiros do estuário (95% das microempresas). Entretanto, a baixa produção dessas empresas e sua relativa homogeneidade tornam desnecessária uma amostragem mais intensa. No restante deste trabalho, faremos referência a essas empresas apenas como serrarias circulares.
As entrevistas tiveram duração média de 30 minutos. Os questionários abordavam: (i) dados gerais da empresa tipo de empresa, ano de instalação, tecnologia de processamento, empregos gerados (processamento e floresta); (ii) consumo anual de matéria-prima e produção anual de madeira processada (serrada, beneficiada, laminada e compensados); (iii) sistema de exploração (responsável pela exploração e equipamentos utilizados); (iv) principais espécies processadas; (v) origem da matéria-prima, incluindo tipo de propriedade (área própria, área de terceiro) e tamanho das propriedades florestais; (vi) transporte da madeira em tora, distância (média e amplitude) e condição de acesso (estrada asfaltada, não-asfaltada e rio navegável); (vii) mercado (estadual, nacional e internacional); (viii) preços de madeira (em pé, em tora e processada); (ix) custos médios de exploração, de transporte e de processamento.
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[2] Outros equipamentos de processamento utilizados em microempresas de florestas de terra firme eram serras induspan e engenhos horizontais.
A atividade madeireira está concentrada em 24 pólos madeireiros no Estado do Pará. Em 1998, esses pólos abrigavam 676 empresas madeireiras, das quais 602 eram serrarias, 43 eram laminadoras e 31 eram fábricas de compensados. Além disso, haviam 534 serrarias circulares localizadas principalmente nas regiões do estuário e baixo Amazonas.
Em 1998, as madeireiras do Pará consumiram aproximadamente 11,3 milhões de metros cúbicos de madeira em tora (cerca de 2,8 milhões de árvores) e produziram aproximadamente 4,25 milhões de metros cúbicos de madeira processada em 1998. Nesse ano, a renda bruta gerada pela atividade madeireira foi aproximadamente US$ 1,026 bilhão.
Estabelecemos cinco zonas madeireiras no Pará, de acordo com as tipologias florestais (floresta densa, aberta e de várzea), a idade da fronteira madeireira (velha, intermediária e nova), as condições de acesso e o tipo de transporte (fluvial ou terrestre).
A zona leste é uma velha fronteira madeireira coberta originalmente por florestas densas de terra firme. As condições de acesso são boas, com a existência das rodovias Belém-Brasília e Pará 150 e uma intensa rede de estradas vicinais. Essa região, responsável por aproximadamente 65% da madeira em tora do Estado, tem como principais pólos madeireiros Paragominas, Tailândia, Tomé-Açu, Jacundá e Breu Branco (Figura 4). Após três décadas de exploração madeireira intensa, há uma redução expressiva dos estoques naturais de madeira. De fato, houve uma redução drástica de cerca de 55% na produção de madeira em Paragominas, o maior pólo madeireiro dessa região, em relação ao auge da atividade no período 1988-1990.
A zona sul é uma velha fronteira madeireira cuja cobertura vegetal original era dominada por florestas abertas. Originalmente, a zona sul era a principal área de ocorrência do mogno, uma espécie madeireira de altíssimo valor, cujos estoques foram praticamente extirpados nessa zona no final dos anos 90 (Grogan et al. 2002). Atualmente, a cobertura florestal está bastante reduzida nas áreas privadas, em especial aquelas situadas nos municípios de Redenção e Rio Maria; enquanto os bosques remanescentes estão concentrados nas extensas reservas indígenas estabelecidas nessa região. Os pólos madeireiros dessa região (Itupiranga, Marabá e Redenção) são responsáveis por apenas 10% da produção madeireira do Estado (Figura 4).
A zona do estuário e baixo Amazonas é responsável por 12% da produção de madeira em tora do Pará. Essa região, cujos principais pólos madeireiros são Breves e Porto de Moz, é largamente coberta por florestas de várzea (Figura 4). A exploração seletiva vem ocorrendo desde o século XVII (Rankin 1985), mas foi somente a partir da década de 1960 que a produção madeireira dessa região passou a ser significativa. A partir deste período, houve um crescimento significativo nas exportações da virola (Virola surinamensis), uma espécie valiosa para a indústria de compensados. Além disso, o crescimento populacional da Grande Belém e de Macapá elevou significativamente a demanda por madeira de baixo valor para ser utilizada na construção de habitações rústicas.
As florestas densas de terra firme entremeadas com bosques abertos formam a vegetação típica da zona central. Nessa região, a atividade madeireira é mais recente – final da década de 80. Os pólos madeireiros dessa região são Altamira, Santarém e Uruará os quais extraem e processam apenas 7% da madeira em tora do Estado (Figura 4).
Figura 4. Pólos e zonas madeireiras do Pará, 1998.
O oeste do Estado, a mais nova fronteira madeireira do Pará, tem a maior parte de sua extensão coberta por florestas abertas e, em menor proporção, bosques densos de terra firme. As madeireiras começaram a operar na década de 90. As causas para a expansão da atividade madeireira nessa região incluem a expectativa de asfaltamento da rodovia Cuiabá-Santarém, a oferta abundante de madeira em terras devolutas e a existência de espécies de alto valor – como é o caso do mogno. Os pólos madeireiros integrantes dessa zona são Novo Progresso e Itaituba (Figura 4).
Na zona norte do Pará (margem esquerda do Amazonas), o relevo acidentado (escudo das Guianas), a quase inexistência de estradas e a grande extensão de rios não-navegáveis são fatores limitantes para a atividade madeireira. Por essa razão, a exploração madeireira é praticamente inexistente nessa região (Figura 4).
Em 1998 havia 676 indústrias madeireiras no Pará. Desse total, as serrarias de fita somavam 602 ou 89%; as laminadoras totalizavam 43 empresas (6%); enquanto as 31 fábricas de compensados representavam 5% das madeireiras. Além disso, havia 534 serrarias circulares, a grande maioria delas (95%) localizadas no estuário paraense e baixo Amazonas (Tabela 4).
Tabela 4. Empresas existentes nos pólos madeireiros do Pará, 1998
As 1.210 madeireiras em funcionamento no Estado do Pará podem ser classificadas de acordo com o volume de madeira produzida. Desse total, havia 540 serrarias de porte micro (45%), cujo consumo anual de madeira em tora é inferior a 4 mil metros cúbicos. Em seguida, havia 190 madeireiras de pequeno porte (16%), cujo consumo anual de madeira em tora fica entre 4 mil metros cúbicos e 10 mil metros cúbicos. Havia também 330 indústrias madeireiras (27%) de porte médio, caracterizadas por um consumo superior a 10 mil metros cúbicos e inferior a 20 mil metros cúbicos em tora. E, por último, havia apenas 150 (12%) indústrias processadoras classificadas como grande porte, ou seja, possuía um consumo anual superior a 20 mil metros cúbicos de madeira em tora (Tabela 5).
Tabela 5. Porte das empresas nos pólos madeireiros do Pará, 1998.
Pólos. Os principais pólos madeireiros do Pará quanto ao número de madeireiras são Paragominas (155 empresas), Tomé-Açu (52), Jacundá (50), Tailândia (44) e Breu Branco (40). Os menores pólos eram Afuá e Portel (6 empresas cada), Uruará (7) e Novo Repartimento (9) (Tabela 4).
Zonas. Em 1998, a zona leste concentrava aproximadamente 464 (69%) das madeireiras existentes no Estado, seguida das zonas central (62), sul (63), estuarina (52) e, finalmente, da zona oeste, com apenas 35 indústrias.
A maioria (51%) das empresas de médio e grande porte estava concentrada no leste e no sul do Pará. Além disso, 30 das 43 laminadoras e 24 das 31 fábricas de compensados estavam situadas no leste (Tabelas 4 e 5).
Metade das empresas madeireiras do Pará iniciou suas atividades na década de 90. Trinta e nove por cento das madeireiras foram estabelecidas na década de 80, enquanto apenas 11% foram instaladas durante os anos 70 ou antes (Tabela 6).
Na nova fronteira madeireira, oeste do Estado, as empresas foram instaladas na década de 90. No leste, uma das fronteiras mais antigas, a maioria (53%) das indústrias foi instalada na década de 90, enquanto 39% foram estabelecidas na década de 80 e o restante nos anos 70. Uma situação similar ocorre nas zonas sul e central do Estado. De fato, na região central, 50% das madeireiras foram implantadas na década de 90, 36% nos anos 80 e apenas 14% na década de 70. No estuário, excluindo as serrarias circulares, temos que a maioria (60%) iniciou suas atividades na década de 80 (Tabela 6).
Tabela 6. Período de instalação das madeireiras, 1998.
A atividade madeireira no Estado gerou, em 1998, cerca de 55 mil empregos diretos nas atividades de exploração madeireira, transporte de madeira em tora e processamento. A maioria (62%) dos empregos refere-se ao processamento de madeira, enquanto a extração e o transporte de toras utiliza os 38% restantes da mão-de-obra (Tabela 7).
O leste do Pará emprega 62% da força de trabalho do setor madeireiro, o que corresponde à importância dessa região na produção madeireira do Estado. A atividade madeireira no estuário gera 15% dos empregos do setor, enquanto a zona sul do Estado responde por 9% da mão-de-obra madeireira. Por último, a zona central e oeste do Estado empregam 14% dos trabalhadores do setor madeireiro (Tabela 7).
Há uma grande variação no número de empregos gerados entre as madeireiras. As grandes madeireiras empregam em média 146 pessoas, enquanto as empresas de médio e pequeno porte utilizam respectivamente 30 e 21 funcionários. Por último, as serrarias circulares empregam apenas sete pessoas, em geral mão-de-obra familiar.
Tabela 7. Empregos gerados pela atividade madeireira no Pará, 1998.
A indústria madeireira do Pará extraiu 11,3 milhões de metros cúbicos em tora em 1998. Assumindo um valor médio de quatro metros cúbicos por árvore, o setor madeireiro extraiu cerca de 2,8 milhões de árvores em 1998. A maioria (65%) dessa madeira foi consumida pelas indústrias madeireiras instaladas no leste do Estado. As madeireiras localizadas no estuário processaram 12% da madeira em tora do Estado, seguidas pelas empresas situadas no sul (10% cada), no centro (7%) e no oeste do Estado (6%) (Tabela 8).
As 1.210 madeireiras do Pará produziram cerca de 4,25 milhões de metros cúbicos de madeira processada. Desse total, a maioria (77%) foi madeira serrada, enquanto os laminados representaram 10% e os compensados, 7%. A madeira beneficiada (assoalhos, lambris, forros, rodapés, etc.) representou apenas 6% (Tabela 9).
Consumo em 2001. Com base em um levantamento de campo realizado em 2001 (133 entrevistas), estimamos uma ligeira queda (4%) no volume de madeira extraído no Estado 11,3 milhões de metros cúbicos em 1998 para 10,8 milhões de metros cúbicos em 2001. As prováveis razões para isso incluem escassez de madeira nas zonas leste e oeste, maior rigor na fiscalização do Ibama combinadas ao fraco desempenho da economia brasileira nesse período (Lentini et al. no prelo).
Em 1998, Paragominas, leste do Pará, era o principal pólo madeireiro do Estado, consumindo anualmente cerca de 2,3 milhões de metros cúbicos em tora. Nesse pólo, o setor madeireiro gerou uma renda bruta de aproximadamente US$ 163 milhões (16% do Estado). A maioria (87%) da produção foi madeira serrada.
Os pólos madeireiros de Tailândia e Jacundá, localizados ao longo da rodovia PA 150, consumiram conjuntamente 1,6 milhão de metros cúbicos de madeira em tora. Outro pólo madeireiro importante é Tomé-Açu, cujo consumo de madeira em tora foi 0,75 milhão de metros cúbicos. Por outro lado, Uruará (centro) e Novo Repartimento (leste) são os menores pólos madeireiros, cujos consumos anuais em tora são aproximadamente 0,1 milhão de metros cúbicos (Tabelas 8 e 9).
Tabela 8. Consumo de madeira em tora e produção no Pará, 1998.
Tabela 9. Produção e renda bruta da atividade madeireira no Pará, 1998.
Renda bruta. No Estado do Pará estimamos que a atividade madeireira tenha gerado uma renda bruta de US$ 1,026 bilhão. Desse total, a maioria (59%) foi gerada no leste do Pará, seguido pelo estuário (15%), sul (10%), centro (10%) e oeste, com 6% (Tabela 9).
No Estado do Pará, o consumo médio anual de uma microempresa madeireira é cerca de 1,3 mil metros cúbicos de tora (serrarias circulares) a 3,8 mil metros cúbicos de tora (laminadoras). Por outro lado, as grandes indústrias processadoras de madeira consomem, em média, 28 mil metros cúbicos em tora (serrarias) a 78 mil metros cúbicos (fábricas de compensados). As empresas pequenas consomem entre 5,4 mil metros cúbicos em tora (laminadoras) e 7,7 mil metros cúbicos em tora (serraria); enquanto as indústrias de porte médio, entre 12 mil metros cúbicos em tora (fábrica de compensados) e 14.500 metros cúbicos em tora (serraria) (Tabela 10).
Tabela 10. Consumo de madeira em tora pelo tipo e pelo porte das empresas, 1998.
Em 1998, o estuário paraense possuía aproximadamente 458 serrarias circulares localizadas nos furos e tributários dos rios Amazonas e Pará (Figura 5). Nessa zona os principais pólos madeireiros eram Afuá (250 serrarias circulares) e Oeiras (100 serrarias circulares). Essas processadoras familiares geravam 2,8 mil empregos informais, dos quais 80% referentes ao desdobro das toras e o restante (20%), à extração e ao transporte da madeira em tora (Tabela 11).
Figura 5. Serrarias circulares no estuário, 1998.
Essas microempresas consumiram apenas 357 mil metros cúbicos de madeira em tora, o que resultou em cerca de 128 mil metros cúbicos de madeira serrada (Tabela 11). Não havia beneficiamento de madeira serrada. Essas empresas, em geral, produziam apenas madeira serrada de baixa qualidade, comercializada nos mercados de Belém, Macapá e cidades do estuário.
Existiam também 76 serrarias circulares que processavam madeiras oriundas de florestas de terra firme. Essas empresas geravam cerca de 800 empregos diretos, e produziam apenas 73 mil metros cúbicos de madeira processada. No total, as serrarias circulares (estuário e terra firme) foram responsáveis por apenas 5% da produção estadual e por somente 7% dos empregos diretos do setor madeireiro do Pará.
As nossas estimativas para as serrarias circulares da região estuarina foram bem inferiores ao levantamento feito por Barros & Uhl no período 1990-1991 (Barros & Uhl 1995). Nesse estudo, os autores documentaram 1.195 microempresas na mesma região, cujo consumo era 2,1 milhões de metros cúbicos em tora para uma produção de 0,78 milhão processada.
Há alguns fatores que podem ter ocasionado o declínio da exploração na várzea, como por exemplo: (i) exaustão dos estoques de espécies comerciais; (ii) maior rigor na fiscalização; e (iii) competição com as madeiras de baixo valor oriundas das florestas de terra firme.
Uma característica marcante das serrarias circulares no estuário é a alta rotatividade. De fato, quase a metade (49%) das microempresas do estuário instalou-se na segunda metade da década de 90. Vinte e dois por cento, no período 91-95; e apenas 29%, na década de 80. Não entrevistamos nenhuma empresa que havia iniciado suas atividades antes de 1980 (Figura 6).
Tabela 11. Serrarias circulares do Pará, 1998.
Figura 6. Período de instalação das serrarias circulares no estuário, 1998.
As equipes de exploração das empresas madeireiras são responsáveis por 56% do volume extraído nas florestas do Pará, enquanto 44% da madeira é explorada por terceiros (em especial, extratores autônomos). No oeste do Estado, mais de dois terços do volume extraído é realizado por equipes das próprias empresas. Por outro lado, no sul do Estado apenas 38% da madeira provém de equipes das empresas (Figura 7).
Figura 7. Matéria-prima (%) explorada por empresas madeireiras e por terceiros, 1998[1].
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[1] Inclui as serrarias circulares do estuário do Pará.
A maioria (45%) das empresas dependia totalmente de madeira oriunda de extratores autônomos, enquanto as empresas verticalizadas (isto é, responsáveis pela exploração e processamento) somaram 32%. Por último, cerca de 23% das empresas possuíam estratégia mista, adquirindo parte da madeira de terceiros e, ao mesmo tempo, realizando também exploração com equipe própria (Tabela 12).
As empresas verticalizadas representavam 33% no centro, 30% estuário e 35% no leste. No oeste, a maioria (57%) das empresas era verticalizadas. Por outro lado, no sul do Estado apenas 14% eram verticalizadas.
As empresas que dependem de madeira fornecida por terceiros representavam entre 42% e 50% das madeireiras no centro, estuário e leste do Estado. A oferta de madeira oriunda de terceiros é maior no sul do Estado (68%). No oeste, apenas 14% das empresas madeireiras eram totalmente dependentes de matéria-prima oriunda de terceiros (Tabela 12).
Tabela 12. Responsável pela exploração madeireira, 1998.
A maior parte (43%) da madeira cortada nas florestas do Pará é arrastada por tratores de esteiras. Esses tratores, utilizados na construção de ramais, estradas e pátios de exploração, são máquinas inadequadas para a operação de arraste, pois provocam compactação do solo e maiores danos às árvores remanescentes. O uso de tratores florestais (skidder ), veículo recomendado para operações florestais, responde por 29% do volume total de madeira arrastado (Tabela 13).
O arraste conhecido como catraca, no qual as árvores são embarcadas nos caminhões com auxílio de cabos de aço, é responsável por 12% do volume total de madeira do Estado. Outras maneiras de arraste de toras incluem o uso de tratores agrícolas (7%); arraste aquático em florestas submersas, como é o caso do lago de Tucuruí (4%); e arraste manual (5%) na região estuarina, onde o transporte é feito por jangadas até as serrarias (Tabela 13).
Tabela 13. Sistemas de arraste utilizados na exploração florestal, 1998.
O uso de skidder é mais comum no sul do Pará (91% do volume explorado), seguido do leste (30%), zonas onde a exploração é mais intensiva e as empresas são mais capitalizadas. No centro do Estado a maior parte da madeira em tora é arrastada através de catraca (65%). No estuário, 39% da madeira é explorada nos sistema manual e 31%, através de catraca. Finalmente, no oeste, 49% do volume de madeira é arrastado por tratores de esteira (Tabela 13).
Florestas de várzea. Existem dois padrões de exploração nas florestas de várzea. O primeiro é a exploração altamente seletiva da virola (Virola surinamensis). Em geral, os extratores cortam as árvores (um a dois indivíduos por hectare) com machados e retiram-nas das florestas utilizando a própria força física. Na época das cheias, a madeira é retirada por flutuação. Quando não há nível d’água suficiente, as toras são empurradas sobre estivas de madeira até os rios. A madeira é então transportada em grandes jangadas até grandes indústrias para o processamento. É comum os extratores trabalharem para proprietários de terras ou agentes de empresas madeireiras em troca de víveres (sistema de aviamento). A pressão excessiva sobre a virola reduziu drasticamente seus estoques naturais. Em resposta, o Governo Federal estabeleceu cotas de exportação para a espécie.
No segundo padrão, a exploração é intensiva. Entre 50 e 100 espécies madeireiras são exploradas, sendo extraídas mais de 10 árvores por hectare. É promovida por proprietários de serrarias circulares, nas quais espécies de baixo valor são processadas em serrarias familiares equipadas com serras-de-fita. As toras são transportadas por flutuação nos rios, amarradas em canoas. O impacto desse tipo de exploração tem se tornado severo em virtude do grande número de serrarias circulares que se instalaram no estuário e baixo Amazonas nas últimas décadas (Barros & Uhl 1995, Uhl et al. 1997, Veríssimo et al. 1999).
Florestas de terra firme. Os padrões de exploração de terra firme são determinados pela idade da fronteira e pelas condições locais de infra-estrutura. Um padrão distinto é a exploração altamente seletiva do mogno (Swietenia macrophylla), uma espécie que ocorre no sul do Pará. Empresas verticalizadas utilizam skidders para extração de toras de mogno. A pressão excessiva sobre o mogno tem ocasionado uma redução severa dessa espécie na paisagem. O Ministério do Meio Ambiente estabeleceu cotas de exportação, cujo teto, em 2001, foi apenas 30 mil metros cúbicos anuais (Veríssimo et al. 1995, Grogan et al. 2002).
Em condições de infra-estrutura um pouco melhores (fronteiras relativamente recentes), o estabelecimento de novas áreas de colonização leva à exploração de madeiras de alto valor para subsidiar a conversão de terras para atividades agropecuárias. A exploração é seletiva (5 a 15 espécies comerciais) e o processamento é feito por empresas familiares de pequeno a médio porte equipadas com serras-de-fita (Uhl et al. 1991).
Em velhas fronteiras, onde há boas condições de infra-estrutura, a exploração é feita de forma intensiva, causando severos impactos ambientais. Entre 100 e 200 espécies madeireiras são extraídas. Máquinas pesadas são utilizadas na abertura de estradas e ramais e no arraste de toras. O transporte é feito por caminhões (estradas) ou balsas (rios). Grandes empresas verticalizadas investem em equipamentos e equipes de exploração florestal (Veríssimo et al. 1992, Uhl et al. 1997, Stone 1997).
Proprietários das áreas florestais. A grande maioria (91%) da madeira extraída no Estado é oriunda de áreas privadas (próprias e de terceiros), enquanto pelo menos 9% é proveniente de áreas públicas. Entretanto, é possível que a extração de madeira oriunda de terras públicas (protegidas e devolutas) seja maior, principalmente no oeste e centro do Pará, onde está concentrada a maior parte dessas áreas. Nas áreas privadas, a maior parte (55%) da madeira utilizada nas indústrias madeireiras provém de áreas de terceiros, enquanto 36% é oriunda de áreas próprias (Tabela 14).
Tabela 14. Origem da matéria-prima florestal, 1998.
Tamanho das propriedades. Aproximadamente 5,1 milhões de metros cúbicos de madeira em tora (45%) foram provenientes de grandes propriedades (maiores que 5 mil hectares), incluindo as áreas públicas. As florestas pertencentes a pequenos produtores (menores de 500 hectares) forneceram 3,6 milhões de metros cúbicos em tora (32%), enquanto as médias propriedades (entre 500 hectares e 5 mil hectares) foram responsáveis por 2,6 milhões de metros cúbicos em tora (23%) (Tabela 15).
No estuário, a maioria (62%) da madeira foi originada de áreas de pequenas propriedades, enquanto 26% foi oriunda de terrenos de tamanho médio e os grandes lotes participaram com apenas 12%, incluindo as áreas públicas (Tabela 15).
No centro do Estado, a maioria da madeira (61%) foi extraída de pequenas propriedades, enquanto 19% foi originada de terrenos de porte médio. Os 20% restantes foram extraídos de grandes propriedades florestais (Tabela 15).
No leste, a maioria (56%) da madeira extraída foi oriunda de grandes propriedades, incluindo as áreas públicas, enquanto os estabelecimentos rurais de porte médio participaram com 20% e as pequenas propriedades foram responsáveis por 24% (Tabela 15).
No oeste, as médias propriedades têm uma participação maior (55%) no suprimento de madeira, enquanto as pequenas contribuem com 34%. Os 11% restantes são oriundos de grandes propriedades florestais (Tabela 15).
Finalmente, no sul do Estado, há o maior percentual de matéria-prima originada de grandes propriedades (52%). Por outro lado, 25% da madeira provem de médias propriedades, e os 23% restantes são extraídos de pequenas propriedades (Tabela 15). É interessante observar que o sul é justamente a região onde há as menores proporções de empresas verticalizadas (Figura 7, Tabela 12).
De acordo com os dados do Censo Agropecuário (IBGE 1996), a grande maioria (97%) das propriedades rurais do Estado possui área inferior a 500 hectares. Por outro lado, os 2% de propriedades maiores do que 500 hectares ocupam quase 60% das terras agrícolas do Estado (ver Anexo VII). É de se esperar, portanto, que as grandes propriedades tenham maior participação na exploração florestal no Estado do Pará.
Tabela 15. Volume de madeira extraído por tamanho de propriedade florestal, 1998.
As Florestas Nacionais (Flonas), Estaduais (Flotas) ou Municipais são Unidades de Conservação de Uso Sustentável, cuja finalidade é produzir bens (produtos madeireiros e não madeireiros) e serviços ambientais. O Governo pode manejá-las diretamente ou conceder, temporariamente, o direito de uso para instituições privadas ou de economia mista (Veríssimo et al. 2000). As Flonas, instituídas pelo Código Florestal (Lei 4.771/65) passaram novamente a ser prioridade do Governo Federal com a criação do Programa Nacional de Florestas (PNF), através do Decreto 3.420, de abril de 2000.
Até 2000, as Flonas representavam apenas 80 mil km2 em toda a Amazônia Legal, o suficiente para abastecer de forma manejada apenas 11% da demanda nacional de madeira amazônica. Em 2001 foram estabelecidos aproximadamente 13 mil km2 de novas Flonas. Além disso, estão em processo de criação cerca de 37 mil km2, os quais deverão estar concluídos em meados de 2003. Dessa maneira, a área de Flonas na Amazônia alcançara até 2003, no mínimo, 130 mil km2.
Veríssimo et al. (2000) realizaram um estudo para identificar áreas florestais com potencial para o estabelecimento de Florestas Nacionais em toda a Amazônia Legal. Combinaram em Sistemas de Informações Geográficas (SIG) informações espaciais, como áreas legalmente protegidas (29% da Amazônia), cobertura vegetal (31% da Amazônia não é coberta por florestas), áreas com indícios de ocupação antrópica (9%), áreas sem potencial madeireiro (1%) e florestas economicamente inacessíveis aos atuais pólos processadores de madeira (8%).
Veríssimo e colaboradores concluíram que 23% da Amazônia (1,15 milhão de km2) possui potencial para a criação de Flonas. Essa área é suficiente para suprir a demanda nacional de madeira da Amazônia (28 milhões de metros cúbicos anuais). Considerando apenas o Pará, 27% do Estado (cerca de 330 mil km2) possui potencial para a criação de florestas de produção (Figura 8); uma área mais do que suficiente para suprir de forma manejada a atual demanda por madeira em tora do Estado.
Figura 8. Áreas com potencial para Florestas Nacionais no Pará (Adaptado de Veríssimo et al. 2000).
A grande maioria (87%) da madeira extraída no Pará é transportada via terrestre através de caminhões, enquanto apenas 13% da madeira em tora é deslocada via fluvial através de balsas, barcos e jangadas. Esse transporte fluvial típico da região do estuário e baixo Amazonas. Nessa região, o custo médio de transporte é apenas US$ 0,07/m3 km (Tabela 16).
No transporte predominam as estradas não pavimentadas (81%). As rodovias asfaltadas representam apenas 6%. O custo unitário de transporte é maior no oeste e centro (US$ 0,22/m3.km), em virtude das estradas não serem pavimentadas. No leste e sul, onde a qualidade das estradas é melhor, o custo médio de transporte é menor: 0,12/m3km. No oeste apenas as estradas de terra estão disponíveis, o que torna elevado o custo médio de transporte por quilômetro percorrido (Tabela 16).
Tabela 16. Custo médio de transporte e composição média do trajeto das florestas às indústrias, 1998.
A indústria madeireira da Amazônia extrai cerca de 350 espécies (Martini et al. 1994). No caso específico do Estado do Pará, as espécies madeireiras mais exploradas são ipê (Tabebuia sp.), cedro (Cedrela odorata), freijó (Cordia sp.), maçaranduba (Manilkara sp.), angelim pedra (Hymenolobium sp.), angelim vermelho (Dinizia excelsa), jatobá (Hymenaea sp. ), louro (Nectandra sp. ), muiracatiara (Astronium sp.), tauari (Couratari sp.), faveira (Pterodon sp.), cumaru (Dipteryx sp.), piquiá (Caryocar sp.), tatajuba (Bagassa guianensis), e marupá (Simaruba amara) (ver Anexo VIII).
Na zona estuarina do Estado, onde predominam as florestas de várzea, as espécies mais exploradas são andiroba (Carapa guianensis), anani (Symphonia globulifera), jacareúba (Calophyllum brasiliense ), macacaúba (Platymiscium sp.), pau-mulato (Calycophyllum spruceanum), pracuúba (Mora sp.) e virola (Virola surinamensis).
Para a indústria de laminados e compensados, as principais espécies utilizadas são a amescla (Trattinickia sp.), Currupixá (Micropholis melinoniana), copaíba (Copaifera sp.), faveira (Pterodon sp.), paricá ou pinho cuiabano (Schizolobium amazonicum), etc.
No mercado interno, o Nordeste e o Sudeste são os maiores compradores de madeira (27% cada), seguidos do Sul (9%) e do Centro-Oeste (6%) (Figura 9).
O estuário paraense exporta a maioria (77%) de sua produção, enquanto o restante é destinado ao consumo estadual (19%) e ao consumo nacional (4%) (Figura 10). A situação inverte-se no leste, onde a grande maioria da produção (86%) destina-se ao mercado nacional; o restante é destinado às exportações (11%) e ao mercado estadual (3%). No leste, uma parte expressiva (42%) de sua produção é destinada à região Nordeste do Brasil (Figura 11).
Figura 9. Mercado da madeira processada no Estado do Pará, 1998.
Figura 10. Mercado da madeira processada no estuário, 1998.
Figura 11. Mercado da madeira processada no leste do Pará, 1998.
No centro do Estado, cerca de 43% da produção é exportada; 29% é destinada ao mercado interno, enquanto 28% é consumida no próprio Estado. No oeste, 50% destina-se ao mercado externo. Finalmente, no sul do Pará, Tendências da Exportação de Madeira no Pará onde a produção madeireira tem sofrido redução expressiva nos últimos anos, a grande maioria da produção (83%) é destinada ao mercado interno (ver Anexo IX).
O Pará exportou cerca de US$ 255 milhões em madeira processada em 1998, US$ 278 milhões em 1999 e US$ 309 milhões em 2000 (Aimex 2002) (Tabela 17). O Pará é o segundo maior exportador de madeira do País (o primeiro é o Paraná). Na pauta de exportações do Estado, a madeira perde apenas para os produtos minerais.
Tabela 17. Valor das exportações de madeira do Pará, 1998 e 2000 (Aimex 2002).
Os principais países consumidores de madeira do Pará, no ano de 2000, foram: Estados Unidos, França, Espanha, Países Baixos, Portugal, Japão, Filipinas, Reino Unido e China (Aimex 2002). Alguns mercados orientais, como China, Tailândia e Filipinas, têm aumentado sua participação no consumo de madeira do Pará principalmente nos últimos anos, consumindo madeiras para pisos e construção civil (decks, componentes de portas e janelas, etc.).
Nos últimos cinco anos, aumentaram as exportações de produtos madeireiros de maior valor agregado (madeira beneficiada). As dificuldades na obtenção de matéria-prima oriunda de projetos de manejo certificados pelo FSC (Conselho Mundial de Floresta, o mais importante selo verde do mundo), um requisito básico para alguns mercados internacionais, têm levado várias indústrias a melhorar o aproveitamento da madeira – realizando o beneficiamento secundário e investindo em equipamentos para aumentar o rendimento do processamento.
Preços de Madeira em Pé. Em 1998, OS preços da madeira em pé eram similares no centro e oeste do Estado. Nessas regiões, os preços para as espécies de alto valor, tais como cedro, ipê e freijó, eram US$ 9/m3; enquanto as madeiras de médio valor valiam US$ 5/m3. Finalmente, as madeiras de baixo valor foram estimadas em apenas US$ 3/m3 (Tabela 18).
No estuário, onde predomina a extração de madeira de florestas de várzea, os preços da madeira em pé foram US$ 6/m3 (alto valor), enquanto para as espécies de médio e baixo valor os preços foram iguais a US$ 3/m3 (Tabela 18).
Observamos que os preços foram semelhantes em regiões bem distintas, como é o caso do leste (uma velha fronteira madeireira, onde é maior o preço da terra) e oeste do Pará (caso de nova fronteira, geralmente com baixos valores da terra), principalmente para as madeiras de médio e baixo valor. Serão necessários estudos específicos sobre os fatores que podem estar influenciando o preço da madeira em pé.
Tabela 18. Preços (US$) de madeira em pé, 1998.
Preços de Madeira em Tora. De maneira esperada, os valores de madeira em tora revelaram um gradiente geográfico, sendo maiores nas velhas fronteiras madeireiras (leste e sul do Pará), regulares na zona central (fronteira intermediária) e menores na nova fronteira (oeste) e região do estuário.
No leste e sul do Estado, os preços médios para as classes madeireiras foram US$ 63/m3 (alto valor), US$ 29/m3 (médio) e US$ 21/m3 (baixo). Nos pólos madeireiros do centro do Estado, o valor para as madeiras de alto valor foi US$ 42/m3, seguida pela classe de médio (US$ 23/m3) e baixo valor (US$ 21/m3). No oeste, onde a maioria da madeira provém de florestas próximas das serrarias, os preços de madeira em tora foram menores: US$ 37/m3 (espécies de alto valor), US$ 22/m3 (médio) e US$ 20/m3 (baixo).
No estuário, dois fatores atuam para reduzir o valor da madeira em tora. Primeiro, um preço relativamente baixo da madeira de várzea no mercado. Segundo, o menor custo unitário de transporte em função do uso de balsas e jangadas (transporte fluvial). Dessa maneira, as espécies de alto valor possuíam preço de US$ 27/m3; enquanto o preço da madeira de médio valor foi apenas US$ 18/m3; e, finalmente, as espécies de baixo valor tiveram preço médio de US$ 17/m3 (Tabela 19).
Tabela 19. Preços corrigidos (US$) de madeira em tora, 1998.
Em 1998, o preço médio em tora das espécies de alto valor econômico (freijó, cedro e ipê-amarelo) variou entre US$ 39/m3 e US$ 62/m3 no centro do Estado. Esses preços eram inferiores no oeste (US$ 30/m3 a US$ 41/m3), enquanto no leste foi superior (US$ 50/m3 a US$ 73/m3) (Tabela 20).
As madeiras de médio valor tiveram seus preços médios compreendidos entre US$ 20/m3 e US$ 32/m3 de madeira em tora. Na maior parte dos casos a madeira possuía maior valor no leste do Estado. Por outro lado, para as espécies de baixo valor, como a cedrorana e a garapeira, o preço médio por metro cúbico de madeira em tora foi US$ 21/m3 a US$ 27/m3 (Tabela 20).
Preços de Madeira Serrada. Em 2001, as espécies de alto valor econômico (ipê, cedro e freijó) possuíam valores similares para a madeira serrada no centro do Estado (US$ 251/m3); seguido do leste, sul e oeste do Pará (US$ 244/m3) e, por último, do estuário (US$ 228/m3).
Para as espécies de médio valor, tais como angelim vermelho, jatobá, maçaranduba e muiracatiara, os valores foram os seguintes: US$114/m3 (centro), US$ 113/m3 (estuário), US$130/m3 (leste) e US$ 107/m3 (oeste). Para as espécies de baixo valor, em 2001, os preços médios foram US$ 91/m3 (centro), US$ 76/m3 (estuário), US$ 79/m3 (leste) e US$ 84/m3 (oeste) (Tabela 21).
Os dados de 1998 revelam valores menores para as espécies de alto valor: US$ 214/m3 no centro, US$ 206/m3 no oeste, US$ 227/m3 no leste e sul e US$ 216/m3 no estuário. Para as espécies de médio e baixo valor, os valores foram maiores em 1998, com uma pequena redução em 2001 (Tabela 21).
Tabela 20. Preços corrigidos (US$) de madeira em tora das principais espécies exploradas, 1998.
Tabela 21. Preços (US$) de madeira serrada, 1998 e 2001.
Entretanto, para as espécies de madeira de alto valor econômico, houve um aumento dos preços médios no período 1998-2001. Alguns fatores podem estar influenciando estes preços, como por exemplo: (i) o aumento da raridade de espécies de alto valor nas regiões produtoras; (ii) crescimento das exportações de madeira no Pará, cuja ênfase tem sido nas espécies de maior valor.
Entre as espécies de alto valor, observamos os maiores preços médios para o cedro, entre US$ 240 no oeste e US$ 244 no leste do Estado. Em seguida, temos o ipê-amarelo, entre US$ 206 no oeste e US$ 226 no leste. Finalmente, temos o freijó, com preços médios da madeira serrada entre US$ 205 (centro) e US$ 215 no leste do Pará (Tabela 22).
Tabela 22. Preços corrigidos (US$) de madeira serrada das principais espécies exploradas, 1998.
Estimamos o custo de produção para extrair, transportar (floresta até o pátio da serraria) e processar 1 m3 de madeira serrada. No centro do Estado o custo total foi de US$ 119/m3. Esse alto custo é provocado pela péssima qualidade das estradas. No oeste do Estado o custo foi US$ 109/m3. No leste do Pará o custo foi US$ 110/m3. Esse custo menor decorre da boa qualidade das estradas (Tabela 23). Finalmente, no estuário temos um custo total de apenas US$90/m3, em decorrência dos menores custos de exploração (sistema manual, em muitos casos) e transporte (uso de vias fluviais).Rentabilidade Média. Considerando os preços médios de venda de madeira serrada iguais a US$ 133/m3 no centro, US$ 106/m3 no estuário, US$ 138/m3 no leste e US$ 146/m3 no oeste, a rentabilidade média oscila entre 10% (centro), 15% (estuário), 20% (leste) e 26% no oeste do Estado (Tabela 23).
Tabela 23. Custos e rentabilidade da atividade madeireira, 1998[1].
O crescimento econômico dos pólos madeireiros em áreas de fronteira é rápido e efêmero. Na primeira década de ocupação ocorre o boom com o estabelecimento das primeiras indústrias processadoras. Entretanto, após esse período, dá-se início ao processo de colapso, quando ocorre a exaustão dos recursos naturais locais, o que gera como conseqüência uma brusca queda na geração de renda e empregos. Esse ciclo predatório tende a se repetir nas novas fronteira madeireiras (Schneider et al. 2000).
Essa história é particularmente evidente nos pólos madeireiros de Paragominas (leste do Pará) e Novo Progresso (oeste). A história de uso da terra em Paragominas (300 km de Belém) teve início nos anos 60 como uma fronteira de pecuária, estimulada por incentivos fiscais (Schneider et al. 2000). Em seguida, no final da década de 80 existiam 124 empresas instaladas dentro da cidade, cujo consumo anual era de 2 milhões de metros cúbicos de madeira em tora. Em 2001, o número de madeireiras foi reduzido para menos da metade e a produção em tora foi apenas 0,9 milhão de metros cúbicos em tora (Figuras 12 e 13). As indústrias remanescentes tiveram de aumentar suas escalas de produção, uma vez que têm de lidar com distâncias médias de transporte de matéria-prima superiores a 150 km. Uma possível saída para enfrentar a crise de matéria-prima é investir em produtos com alto valor agregado, como é o caso da fabricação de móveis.
Novo Progresso está na fase boom da atividade madeireira. Não havia empresas madeireiras na região no início da década de 90; em 1998, as 19 empresas instaladas consumiam apenas 0,3 milhão de metros cúbicos anuais de madeira em tora. Em 2001 já havia 60 empresas cujo consumo em tora já atingia 0,7 milhão de metros cúbicos (Figuras 12 e 13).
Figura 12. Empresas instaladas em Novo Progresso e Paragominas entre 1990 e 2001.
Figura 13. Consumo anual de madeira em Novo Progresso e Paragominas entre 1990 e 2001.
É inegável a aptidão florestal do Pará. O Estado possui aproximadamente 70% de suas áreas cobertas por florestas de potencial madeireiro. Desse total, cerca de 60% de suas florestas estão atualmente dentro do raio econômico da atividade madeireira. Em 1998, o Pará extraiu 11,3 milhões de metros cúbicos de madeira em tora por ano, o que o torna o maior produtor nacional de madeira tropical. Em 1998, os 24 pólos processadores de madeira geraram uma renda bruta de aproximadamente US$ 1 bilhão.
Entretanto, existem claros sinais do colapso da atividade madeireira em algumas regiões, como o leste e o sul do Estado. Nessas zonas há uma redução severa na cobertura florestal e, conseqüentemente, uma diminuição abrupta na geração de renda, empregos e impostos. Por outro lado, nas novas fronteiras madeireiras (oeste do Estado) o ciclo de exploração predatória está se repetindo com o crescimento desordenado da atividade madeireira, grilagem de terras e aumento dos conflitos sociais.
Para alterar o padrão de desenvolvimento boom-colapso que tem caracterizado o setor madeireiro é necessário: (i) realizar um zoneamento florestal de modo a estabelecer as áreas onde poderia ocorrer a exploração madeireira, bem como aquelas onde a atividade deveria ser proibida; (ii) recadastramento das terras e regularização fundiária; (iii) criar Florestas Nacionais (Flonas) ou Estaduais (Flotas) em áreas com aptidão para produção madeireira e não-madeireira; (iv) aperfeiçoamento do sistema de monitoramento e controle; (v) apoio ao manejo florestal através de instrumentos econômicos; e (vi) treinamento de recursos humanos (mateiros, tratoristas, motosserristas, técnicos de nível médio, engenheiro florestais, etc) através da criação de um centro de treinamento.
1. Uhl et al. 1991. Exploração seletiva em Tailândia. Estudo conduzido na região de Tailândia (PA 150) no período 1988-1989. Nessa região predominava a exploração seletiva (15 espécies), realizada principalmente por pequenos produtores rurais. Em 1998 existiam 48 serrarias, com produção média de 300 m3 de madeira serrada por mês. A exploração era feita no sistema catraca ou no sistema manual, com grandes danos às árvores remanescentes. Muitas espécies comerciais eram mantidas nas florestas, que posteriormente eram comumente destruídas para a formação de pastos. A intensidade de exploração média encontrada foi 16 m3/ha.
2. Veríssimo et al. 1992. Impactos da exploração em Paragominas. O levantamento foi feito na rodovia Belém-Brasília (BR 010), entre Belém e Paragominas, em 1989-1990. Os autores documentaram a existência de 238 serrarias, cuja margem de lucro ficava em torno de 32%. Em média, 38 m3 de madeira em tora eram explorados por hectare nas florestas locais, e os danos subseqüentes dessa exploração eram severos. Os autores discutem ainda a viabilidade econômica do manejo florestal e alguns dos fatores que impedem sua adoção na região de estudo.
3. Veríssimo et al. 1995. Exploração do mogno no sul do Pará. Os autores estudaram a região sul do Pará (Redenção, São Félix do Xingu, Xinguara e Tucumã) para determinar a economia de empresas exploradoras de mogno (Swietenia macrophylla K.), a espécie tropical mais valiosa do planeta. Veríssimo et al. (1995) encontraram 86 empresas na região, sendo que apenas 24 eram responsáveis por 90% do mogno extraído. O volume extraído foi 5 m3 de mogno por hectare. Os autores discutem os impactos que esse tipo de exploração provoca na dinâmica do desmatamento e a perturbação cultural causada aos povos indígenas locais.
4. Barros & Uhl 1995. Extração madeireira no estuário e baixo Amazonas. Nas áreas de influência do estuário e baixo Amazonas, os autores realizaram um extensivo levantamento nas madeireiras e extratores de toras. O consumo de madeira em tora da região foi estimado em 3,6 milhões de metros cúbicos para o ano de 1991, o correspondente a 31% da produção estadual daquele ano. Os autores encontraram 1.295 empresas em funcionamento, sendo 1.191 pequenas serrarias artesanais. O estudo apresenta uma caracterização do sistema como exploração da várzea, no qual o corte era feito com machados, o arraste era manual e o transporte era fluvial.
5. Gerwing et al. 1997. Rendimento no processamento de madeira. Os autores encontraram rendimentos médios iguais a 39% para as laminadoras, 36% para as serrarias que produziam para o mercado interno e 32% para as serrarias cuja produção era destinada à exportação. Os autores avaliaram os fatores que influem no rendimento do processamento, tais como a degradação de toras nos pátios das indústrias (perdas de até 13% do volume total) e as variações em espessura das peças produzidas, devido ao uso de equipamentos obsoletos no processamento. Os autores sugerem medidas simples como o beneficiamento madeireiro, a manutenção de equipamentos e o treinamento de mão-de-obra podem aumentar o rendimento em até 12% (serrarias) e 18% (laminadoras).
6. Uhl et al. 1997. Abordagem integrada de pesquisa ambiental. Os autores discutem a necessidade de interdisciplinariedade e do uso de diferentes ferramentas para subsidiar a formulação de políticas. Uhl e colaboradores sintetizam os principais estudos do Imazon na caracterização da atividade madeireira, manejo florestal e políticas públicas.
7. Stone 1997. Tendências da indústria madeireira do Pará. Stone (1997) caracterizou as tendências econômicas da atividade madeireira no Estado do Pará com base em três pólos madeireiros: Paragominas, Tailândia e Breves. Stone (1997) detectou maior verticalização nas madeireiras bem como um incremento no processamento secundário da madeira (beneficiamento). O autor também documentou uma diminuição de investimentos em capital humano e discutiu as oportunidades que essas mudanças podem oferecer tais como a agregação de valor à produção e o manejo florestal.
8. Veríssimo et al. 1998. Zoneamento da atividade madeireira do Pará. Os autores apresentaram um modelo para o zoneamento da atividade madeireira no Pará. Utilizando Sistemas de Informações Geográficas (SIG), combinaram e analisaram as informações sobre a cobertura florestal, a classificação legal das terras, os centros madeireiros, a biodiversidade e a infra-estrutura. Nessa simulação, os autores sugerem uma área máxima de 32% do Estado (cerca de 400 mil km2) para a atividade madeireira. Também propõem que 49% do Estado permaneça protegido da atividade madeireira, por constituir área de proteção legal ou área de alta prioridade para a conservação biológica.
Figura 14. Rodovias e rios do Pará (Imazon 1999).
Há 672 madeireiras no Estado (excluindo-se as serrarias circulares), das quais 43% foram entrevistadas. Em termos relativos, a maior intensidade amostral ocorreu no estuário (60%), seguido pela região central (47%), leste e sul (41%) e oeste (40%). Entretanto, no caso das serrarias circulares, a intensidade amostral foi apenas 11% (Tabelas 24 e 25).
Tabela 24. Entrevistas realizadas no Pará, 1998 e 2001.
Tabela 25. Intensidade amostral nas zonas madeireiras do Pará, 1998.
Consumo de Madeira em Tora. Para estimar o volume de madeira em tora utilizamos duas taxas de conversão de madeira em tora para processada: (i) 36% para o caso da madeira serrada; e (ii) 40% para os laminados e compensados (Gerwing et al. 1997).
Produtos beneficiados podem ser produzidos diretamente do desdobramento da madeira em tora[1] ou pelo reaproveitamento de resíduos de madeira serrada. Assumimos 50% da madeira beneficiada como sendo oriunda de reaproveitamento, o que representa um pequeno aumento no rendimento médio das serrarias com beneficiamento (rendimento final: 37% a 40%).
Número de empregos. Uma equipe típica de extração madeireira explora 10 mil metros cúbicos de madeira em tora por ano. Essa equipe é tipicamente composta por 16 pessoas: 3 motosserristas, 3 ajudantes de motosserrista, 2 tratoristas, 2 ajudantes de tratorista, 1 cozinheiro, 1 gerente de extração, 1 operador de carregadeira e 3 motoristas de caminhão. Utilizamos essa relação média para estimar o número de empregos gerados pela exploração madeireira.
Espécies exploradas. Obtivemos apenas o nome vulgar dos tipos de madeiras comercializados. Com base em estudos anteriores do Imazon (Uhl et al. 1991, Veríssimo et al. 1992), foi possível correlacionar alguns nomes vulgares com espécies botânicas. Porém, na maioria dos casos apresentamos apenas uma denominação genérica dos tipos de madeira (nome comum).
Unidades dos Custos e Preços. Todos os custos (exploração, transporte e processamento) e preços (madeira em pé, em tora e serrada) foram apresentados em dólares para o ano de 2001 (câmbio em abril 2001 igual a R$ 2,19).
Para comparar os preços de madeira coletados em 1998 e 2001, corrigimos os preços de madeira de 1998, utilizando o índice de preços por atacado (disponibilidade interna)[2], cuja média para o ano de 1998 foi 133,243 e, para o mês de abril de 2001 foi 200,581 (variação de 50,5%). Esses preços corrigidos foram então convertidos para dólares, utilizando a mesma taxa cambial de abril de 2001. O principal motivo para essa correção é a grande variação cambial (89%) entre os períodos de coleta (1998 e abril de 2001), o que distorcia a comparação entre as médias de preços de diferentes anos.
Classes de Valor de Madeira. Classificamos os preços da madeira (em pé, tora e processada) em três categorias: (i) baixo, (ii) médio e (iii) alto.
Algumas espécies madeireiras são amplamente exploradas no Estado e podem a priori ser discriminadas em classes de valor (Tabela 26). Foram então utilizadas como indicadoras da segregação dos dados coletados em 1998 e 2001 em classes de valor madeireiro. O intervalo de confiança da média do preço da madeira serrada dessas espécies (nível de probabilidade de 5%; n-1 g.l.) foi utilizado para determinar os limites inferiores e superiores das classes de valor. A diferença entre o limite superior e inferior de classes consecutivas (i.e., baixo e médio valor, médio e alto valor) foi dividida igualmente entre essas classes. Excluímos os preços de madeira das serrarias circulares da região estuarina[3] por serem muito baixos. A análise destes dados foi realizada separadamente.
Tabela 26. Espécies utilizadas nas classes de valor do Pará, 1998 e 2001.
_____________
[1] Neste caso, não temos o rendimento de conversão da madeira em tora em madeira beneficiada, assumindo o mesmo rendimento da madeira serrada (Gerwing et al. 1997).
[2] Escolhemos o índice de preços por atacado por representar o valor que a madeira deveria possuir caso acompanhasse as tendências gerais do mercado. Dessa forma, foi possível comparar os preços de madeira serrada de 1998 com os valores de 2001 e avaliar se houve, proporcionalmente, uma queda dos preços.
[3] As peças produzidas (3 m a 4 m de comprimento e 15 cm a 25 cm de largura) são vendidas em dúzias, cujo preço médio freqüentemente não ultrapassava R$ 100/m3 em 2001.
Utilizando os valores de madeira serrada para as espécies madeireiras indicadoras, obtivemos três classes de valor madeireiro. Dessa forma, consideramos como madeira de baixo valor as espécies que obtiveram preço médio da madeira serrada inferior a US$ 100/m3. As madeiras de médio valor estavam situadas entre US$ 100/m3 e US$ 200/m3; enquanto as espécies de alto valor possuíam preços acima de US$ 200/m3 (Tabela 27).
Modelos Estatísticos. Utilizamos regressão linear para estimar o preço de madeira em tora a partir do preço de madeira serrada, os quais foram obtidos em 12 pólos madeireiros em 2001; e em todos os pólos madeireiros em 1998. No caso da madeira em pé, testamos como variáveis independentes preço da madeira serrada, distância das áreas de exploração, custos médios de exploração, transporte e processamento de madeira e zonas madeireiras – inseridas como variáveis falsas binárias.
Para todos os modelos ajustados, realizamos testes estatísticos para: (i) testar a significância dos modelos (teste F); (ii) testar a significância dos parâmetros (teste t); e (iii) no caso de variáveis correlacionadas (p.ex., preço da madeira serrada e [preço da madeira serrada][2]), realizamos testes de hipóteses destas variáveis isoladamente (teste F).
Tabela 27. Classes de valor madeireiro, 1998 e 2001.
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[2] Outros equipamentos de processamento utilizados em microempresas de florestas de terra firme eram serras induspan e engenhos horizontais.
Renda bruta. Apresentamos estimativas da renda bruta gerada pela atividade madeireira nos diferentes pólos processadores do Estado, em 1998. Para tanto, consideramos os preços médios de madeira serrada (baixo, médio e alto valor), laminados, compensados e da madeira beneficiada (aparelhada)[4]. Neste último caso, consideramos o preço da madeira beneficiada igual ao dobro do preço da madeira serrada. Todos os preços foram considerados para o mercado nacional.
Para o mercado de exportação, consideramos os preços de madeira serrada e beneficiada (preço US$ FOB). Não incluímos em nosso cálculo a renda gerada pela exportação de laminados e compensados.
No cálculo do preço médio da madeira serrada, foi necessário assumirmos uma composição média da produção das serrarias (percentual de madeira de alto, médio e baixo valor). Alguns informantes do setor madeireiro auxiliaram a calibrar essas estimativas (Tabela 28).
Tabela 28. Composição da produção de madeira serrada nas zonas madeireiras do Pará, 1998.
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[4] Diferentes produtos são gerados no processamento secundário realizado por algumas empresas madeireiras, como rodapés, forros, portas, janelas, lambris, etc. Seus preços podem oscilar significativamente, entre duas e quatro vezes o preço da madeira serrada.
Na Tabela 29 apresentamos o porte das empresas por pólo processador do Estado do Pará. A grande maioria das empresas de porte micro (94%) está localizada nos pólos da zona estuarina. O leste concentra a maior parte (69%) das empresas cujo consumo de madeira é superior a 4 mil metros cúbicos anuais (i.e., empresas de pequeno, médio e grande porte).
Tabela 29. Porte das empresas nos pólos madeireiros do Pará, 1998.
Tabela 30. Empregos gerados pela atividade madeireira no Pará, 1998.
Segundo o IBGE (1996), 97% das propriedades rurais do Pará possuem área inferior a 500 hectares. Esse percentual é menor no sul do Estado (95%), e eleva-se até a quase totalidade das propriedades locadas no estuário paraense (99%). Na zona central e estuário é menor a ocorrência de grandes propriedades (área superior a 2 mil hectares). Esse percentual é de 1% no leste e oeste do Estado, e chega a 2% no sul (Tabela 31).
Apesar disso, as propriedades maiores do que 500 hectares ocupam a maior parte (58%) do Pará. A região em que as pequenas propriedades têm maior expressividade sobre o total de áreas é o centro do Estado, com 63%. No leste e sul, apenas 32% e 34%, respectivamente, das áreas são ocupadas por terrenos pertencentes a pequenos proprietários rurais (Tabela 31).
Tabela 31. Distribuição das propriedades rurais por classes de área, 1995-1996 (IBGE 1996).
Na Tabela 32 apresentamos as principais espécies exploradas no Estado do Pará. Os nomes científicos referem-se às classificações taxonômicas mais comumente reportadas na literatura. De fato, provavelmente os nomes vulgares referem-se a várias espécies. Essa tabela não tem o objetivo de determinar a distribuição dessas espécies no Estado, mas apenas de indicar as principais espécies madeireiras nas diferentes zonas madeireiras.
Tabela 32. Principais espécies florestais exploradas no Pará, 1998.
Nas Tabelas 33 a 35 apresentamos os preços de madeira serrada e madeira em tora, para os anos de 1998 e 2001. Escolhemos alguns dos principais pólos madeireiros do Estado, como Paragominas (Tabela 33), Tailândia (Tabela 34) e Tomé-Açu (Tabela 35). Os preços de 1998 foram corrigidos tomando como base o índice de preços por atacado.
Tabela 33. Preços (US$) de madeira serrada em Paragominas[1], 1998 e 2001.
Tabela 34. Preços (US$) de madeira serrada em Tailândia, 1998 e 2001.
Tabela 35. Preços (US$) de madeira serrada em Tomé-Açu, 1998 e 2001[1].
Cerca de 1 milhão de metros cúbicos de madeira processada (24% do total) foram exportados pela indústria madeireira do Pará em 1998. Outros 297 mil metros cúbicos (7%) foram consumidos dentro do próprio Estado. O restante (2,9 milhões de metros cúbicos) foi vendido para o mercado doméstico. Os principais mercados nacionais foram: Nordeste (27% do consumo total), o Sudeste (27%); Sul (9%) e o Centro-Oeste 6% (Tabela 36).
Existem grandes diferenças no mercado consumidor das diferentes zonas. O centro exporta 43% de sua produção (cerca de 130 mil metros cúbicos); 28% ao mercado estadual e 29% (90 mil metros cúbicos) ao mercado nacional. O oeste exporta 50% enquanto o a zona sul exporta apenas 17% da produção é exportada (Tabela 36).
Principais Estados Consumidores. Os principais Estados consumidores são: (i) São Paulo (11%), Rio de Janeiro (8%), Minas Gerais (7%); Paraná (5%), Bahia (5%), Pernambuco (5%), Goiás (4%) e Ceará (4%) (Figura 15).
Tabela 36. Principais mercados para a madeira processada do Pará, 1998.
Figura 15. Mercado nacional da produção madeireira do Estado do Pará, 1998.
Ajustamos modelos estatísticos capazes de predizer variáveis dependentes como o preço de madeira em pé e o preço de madeira em tora. Consideramos as seguintes variáveis explanatórias: (i) preço de madeira serrada; (ii) custos de extração madeireira; (iii) custos de transporte de toras; (iv) custo de processamento madeireiro; (v) distância média de transporte; e (vi) zona madeireira, inserida como variável falsa binária. Os melhores ajustes obtidos foram os seguintes:
Onde,
PT = preço de madeira em tora (R$/m3);
PS = preço de madeira serrada (R$/m3);
PP = preço de madeira em pé (R$/m3);
D = distância média das florestas aos pátios das empresas (km);
CE = custo médio de exploração (R$/m3);
CP = custo médio de processamento (R$/m3);
CT = custo médio de transporte (R$/m3.km);
L = igual a 1, se os preços se referem ao leste do Estado; 0, se não;
E = igual a 1, se os preços se referem ao estuário; 0, se não;
O = igual a 1, se os preços se referem ao oeste do Estado; 0, se não.
O coeficiente de determinação (R2) ajustado para a equação (1) é igual a 0,78; para a equação (2), 0,88. Ambos os modelos foram significativos, pelo teste F, ao nível de 99% de probabilidade. Em ambos os modelos, nem todos os parâmetros foram estatisticamente significativos pelo teste t.
As equações (1) e (2) podem ser representadas nas Figuras 16 e 17, onde consideramos para as variáveis distância, custo de transporte, custo de exploração, custo de processamento e preços de madeira serrada valores médios por zona madeireira.
Figura 16. Relação entre o preço de madeira em tora e serrada, 1998 e 2001.
Figura 17. Relação entre o preço de madeira em pé e serrada, 1998 e 2001.
This post was published on 14 de dezembro de 2015
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